“Bolsonaro mata o povo de fome e enche as burras dos bancos”, diz presidente da CTB
Em entrevista ao jornal Hora do Povo, Adilson Araújo, presidente da CTB, falou a respeito do que pensa e o que sente sobre o momento que vive o país.
Expôs ideias como: “A próxima eleição é a batalha de nossas vidas”. “A carestia é a questão que mais suplicia o povo brasileiro”. “É necessário que o novo governo revogue a EC 95, bem como faça mudanças profundas na política trabalhista”. “O tripé macroeconômico foi nefasto para o país”. “É singular que o movimento sindical se levante”. “A radicalidade consequente simboliza esse novo tempo”. Vamos ao colóquio.
Adilson abriu a conversa com um pressuposto: “Enquanto o povo pena, uma quadrilha tomou de assalto o Palácio do Planalto para se locupletar e realizar seus desejos ou suas taras pessoais. Está claro que em 2022 acontecerão as eleições das nossas vidas. Nós precisamos ganhar as eleições para dar passos na reconstrução do nosso país”.
Tripé macroeconômico é nefasto
Para Adilson, “a carestia castiga ainda mais a nossa gente”. Considera ser “consequência dessa política nefasta, baseada no tripé macroeconômico de juros escorchantes, 13,25% em junho, câmbio ao sabor do capital externo e arrocho fiscal, ancorada no muro do limite do teto de gastos”. Acusou o governo de submissão compulsiva aos bancos: “Para Bolsonaro e Guedes, a solução da inflação (ou para qualquer outro problema) é encher mais as burras dos banqueiros”.
Adilson deu os números do assalto: “Em 2021, os cinco maiores bancos lucraram 82 bilhões de reais. A cada ponto percentual de juros a mais promovido pelo Banco Central, crescem os gastos do país com os rentistas. O custo da dívida pública em 2022, avaliam os bancos, deverá ser de 580 bilhões de reais”. E as consequências: “No outro lado, estão 27 milhões de desempregados e desalentados, 40 milhões de trabalhadores sem direito algum, na informalidade. A carestia aprofunda a miséria, a fome, o arrocho e alimenta a especulação”.
Pandemia: massacre do povo e mais $ para os ricos
Segundo o líder sindical, “o aumento dos juros não tem contribuído em nada no controle da inflação. Ela segue alta e o rebatimento nos preços dos alimentos e dos combustíveis é emblemático”. Adilson falou que “antes da pandemia, já tínhamos o rentismo e o capital externo abocanhando volumes assombrosos de nossas riquezas. A situação piorou por demais. Se, antes, 1% dos mais ricos detinham 28% da riqueza do país, passados esses dois anos, o 1% possui 49,3% de nossa riqueza. A isso se escancara a realidade, em que 33 milhões de brasileiros passam fome e 125 milhões têm insegurança alimentar, ou seja, a comida de amanhã se resolve na batalha de hoje”.
“Voltamos a ter 200 mortos por dia. Chegamos a 671.000 mortos, 10% do total do planeta, por responsabilidade de um governo genocida e corrupto. Vale dizer que esse governo está enlameado até a alma”.
Privatização
“Nosso povo é vítima da desindustrialização”. No diagnóstico do sindicalista, “sobretudo, somos vítimas da compulsão doentia em entregar nossas empresas estratégicas à ganância do rentismo e do capital estrangeiro”.
Reforma Trabalhista é escravidão
Na avaliação de Adilson, “para os que ainda estão trabalhando, os patrões querem impor a total precarização do trabalho. Divulgam a ideia que o Brasil demanda o trabalho análogo à escravidão. Querem regredir há três, quatro séculos com essa perversão escravocrata”.
Ressaltou que o salário mínimo, de R$ 1.212,00, conforme o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), deveria se R$ 6.395,00. “A cesta básica em São Paulo chegou a R$ 804,00. Se nós adicionarmos nessa conta um botijão de gás, que já está em até R$ 170,00, só aí temos 80% do salário mínimo”.
Citando novamente o Dieese, disse que 92% dos acordos salariais em abril não tiveram aumento real, já somando três anos de perdas, e que a renda média do brasileiro, medido pelo IBGE no último trimestre encerrado em maio, registrou queda de 7,2%.
Para Adilson, “é necessário uma profunda mudança nessa investida que se viu ganhar espaço, a partir do golpe de 2016, de imposição de uma severa agenda de subtração de direitos, do fim da CLT, de um ataque, na forma da lei, ao direito constitucional do trabalho e na imposição de um modo de trabalho análogo à escravidão em pleno século 21”.
“É também singular que, nesse novo tempo, o movimento sindical possa se levantar”, considerou.
O que fazer
“O principal agora é fortalecer a presença dos trabalhadores, para termos condições de indicarmos os caminhos da reconstrução do país”, avaliou. Ressalta que “o encontro que reuniu os sete partidos que compõem o leque de alianças que apoia a pré-candidatura Lula e Alckmin – a Federação ‘Brasil da Esperança’ – formada pelo PT, PCdoB e PV, assim como PSB, PSOL, Solidariedade e a Rede – dá um grande passo quando apresenta para a sociedade um programa com diretrizes concretas no sentido de um projeto de nacional de desenvolvimento, com centralidade na valorização do trabalho”.
Acredita que “as diretrizes possibilitam unir a nossa gente, garantir a vitória eleitoral e, sobretudo, criar condições de realizar a reconstrução do país”. ”Propõe que o “ponto de partida seja promover um acordo nacional sobre a necessidade de abrir um novo ciclo no país, com uma política de geração de emprego e renda, a garantia de uma renda básica permanente para o povo que mais necessita, a universalização dos serviços públicos, uma vez que a pandemia decantou uma série de deficiências, a prioridade para criação de um polo industrial da saúde”.
“É singular a necessidade de revogar o diabo da Emenda Constitucional 95, que cria dificuldades e engessa os investimentos públicos, gerando dificuldades para Federação e para estados e municípios”, assegurou.
Adilson ressaltou “a necessidade de unir nossa gente, num esforço pela reindustrialização com a ocupação dos espaços públicos, com investimento público, que permitam a utilização dos avanços tecnológicos e de tudo aquilo que está à disposição, desde a indústria 4.0, a inteligência artificial, a tecnologia 5G”.
Afirmou que “a porta maior é a luta política para que a gente possa eleger um governo do campo democrático popular, que retome o caminho do progresso. Como disse o grande filósofo Antonio Gramsci, ‘o desafio da modernidade é viver sem ilusões, nem tão pouco se tornar desiludido’. Lutar é o caminho. Eu penso que a radicalidade consequente simboliza esse novo tempo para que a gente possa sacudir a poeira e dar a volta por cima”, concluiu.
Por Carlos Pereira, no Hora do Povo