A desesperança, a tristeza e o pavor

Por José Geraldo de Santana Oliveira*

No ano de 2016,
Em certo dia de maio
No imenso céu do Brasil
Soaram as trombetas do mal
E a  treva ofuscou o raio
Embaçando a visão de seu povo
Vez que os horrores que prenunciavam
Vinham com a aparência de novo
Prometendo-lhe progresso colossal
O que, afinal, todos almejavam

Da caravana vinda das trevas infernais
Saltaram medonhas figuras
Nas quais  só se viam maldades
Mentiras, hipocrisias e outras coisas tais
Que a custo esperavam as oportunidades
Para, da cidadania,  quebrar as estruturas
E derramar as suas iniquidades

Pálidas estampas que exalavam mau odor
Com rotas mascaras de sinceridade
Que não disfarçavam  a sua malignidade

Ávidas para, aos trabalhadores, impor imensa dor

Com a costumeira desfaçatez
Bradavam em nome  da decência
Da moralidade e da altivez
Prometendo à corrupção a inclemência
E, aos honestos, o paraíso perdido
Que por eles seria construído
Pela grandeza do Brasil

Batiam no peito com arrogância
Representamos o futuro
Com a nossa política não haverá furo
Mas, para o seu êxito, não toleraremos qualquer inobservância
Nem sequer questionamento
Vez que apenas nós temos o necessário conhecimento
Para  saber o que é bom e o que é ruim

Diziam que tomaram o governo para fazer valer a sua honestidade
Garantia maior de  que tudo seria  modernizado
Mas, para  isto,  o caminho seria o passado
Porto seguro para a prosperidade

Sem nenhum pudor, por tão falso silogismo
Foram logo sentenciando: o País não suporta tanto direito
Daí vem o descalabro
É preciso dar um jeito
Pois, não pode continuar este estado macabro
Que, no mundo, não tem igual
E o primeiro passo é o ajuste fiscal

Ancorados na cumplicidade do Congresso Nacional
Onde tudo  se negocia
A depender da quantia
E na preciosa retaguarda do Supremo Tribunal
Que, em verdade, nada mais é do que o templo do mal
Os farsantes puseram-se a agir
Sendo o seu primeiro ato a escolha dos ministros
Que se fez por arranjo sinistro
Com a finalidade de o espólio do Brasil dividir

Concertado o consórcio de malfeitores
Ultimaram-se as medidas de estrangulamento
Que ao sofrido povo só acarreta dissabores
E, aos ricaços, mais enriquecimento.

Para os maestros  desta onda
Que surfa em inigualável retrocesso
Mais letal que o veneno da Anaconda
Instalou-se o disparate
Com esta besta feira chamada inclusão
Fruto venenoso da Constituição
Tudo que a alimenta tem de ser mandado ao abate.

É inconcebível que pobre se envelheça
Tenha a acesso universal  à educação
E a esta tal de seguridade social
Que é uma afronta aos interesses do capital
Para estes males só uma solução
Fazer com que tudo pereça

Tempo bom era aquele em que pobre morria
De velhice antes do trinta
De fome e doença, um bom tanto a cada dia
E, com isto, não se gastava tinta

Trazer de volta estes bons tempos
É a prioridade destes sabotadores
Que permanecem vigilantes
Maquinando, noite e dia, sobre como impor os seus horrores
Acabando com os sonhos delirantes
De justiça e igualdade
Para eles, mera  imbecilidade

Como não há mais lugar para mudança pela baioneta
É preciso dar aparência de legalidade
Sendo o meio mais eficaz a imposição pela caneta
Arma maior do parlamento, tendo como combustível a venalidade

Nesta hora de fogo, desnudara-se a sua arte
Marcada por mentiras, traições e negociatas
Quem não as cultiva e sustenta
Do consórcio do mal não pode ser parte
Todos os seus integrantes são ases nas bravatas

O seguro caminho ao retrocesso
É o da mudança da norma
Retirando todos os direitos
Mas, mantendo-os proforma
De sorte a impedir o povo de a eles ter acesso

Assim, age o diabólico consórcio
Em prol do seu lucrativo negócio
Que progride a todo vapor
Espalhando, em cada canto do Brasil
A desesperança, a tristeza e o pavor.

*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee

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