A ganância humana e as cinzas da natureza espalhadas pelo Brasil

Neste cinco de setembro, Dia da Amazônia e Dia Internacional da Mulher Indígena é importante denunciar o desrespeito com a mãe natureza e as mulheres originárias do nosso país

As mulheres indígenas desempenham um papel essencial na preservação da biodiversidade, cultura, língua e tradições. Hoje, 05 de setembro, é dia de celebrá-las e de reverenciar a Amazônia, considerada um dos patrimônios mais preciosos do planeta. O Brasil detém 60% do bioma. No entanto, o momento é de reflexão.

A maneira de enaltecer as mulheres indígenas e a Floresta Amazônica é denunciando as atrocidades que vem acontecendo e sinalizando caminhos para a justiça social.

Em Brasília, o céu mais uma vez amanheceu cinza. A fumaça segue ofuscando a beleza do azul infinito da capital e chamando atenção para as catástrofes ambientais provocadas pela mão humana nos quatro cantos do país. Esta cena sombria se alastra pelo Brasil afora.

A mãe natureza está sangrando, perdendo as forças e vem dando sinais, mas os gananciosos, adeptos do neoliberalismo, da necropolítica, não querem escutar, preferem privilegiar as práticas predatórias, levantar a bandeira do capitalismo selvagem, em que o dinheiro, os lucros exorbitantes prevalecem e o senso de humanidade se esvai. Assim, o ser humano causa a sua própria desgraça, é o seu maior inimigo. Como disse o filósofo inglês Thomas Hobbes: “o homem é o lobo do homem”.

Nessa perspectiva nada sustentável, latifundiários, “os reis do agronegócio”, como canta Chico César: “produtores de alimento com veneno / donos do agrobiz / não empregam tanta gente como pregam / não matam nem a fome que há na terra / nem alimentam tanto a gente como alegam”, na verdade sugam todas as energias da mãe natureza, a devastando de maneira descomunal, prejudicando o presente e o futuro das próximas gerações.

O rápido avanço do desmatamento ilegal para a produção de gado e soja, garimpo ilícito e exploração não autorizada de madeira, bem como o roubo de terras públicas, conhecido como grilagem, vem colocando a natureza e os povos indígenas sob grave ameaça.

A realidade é assustadora, de morte: ar poluído, queimadas e degradação das matas ciliares frequentes, o encantado Rio São Francisco secando, o mundo aquecendo em um ritmo recorde, o Pantanal podendo desaparecer até o final do século, os recursos naturais cada vez mais minguados e aos olhos dos homens seduzidos pelo materialismo exacerbado, em que o TER é mais importante que o SER, parece que o ecossistema está em perfeita sintonia. As agressões à flora e à fauna não param.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Brasil apontou que a Amazônia perdeu cerca de 13 mil quilômetros quadrados de floresta entre 2022 e 2023.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, informou que há no país cerca de 1.942 municípios em situação de risco climático extremo e pediu que o Congresso crie um marco regulatório de emergência climática para atenuar a emissão de gases de efeito estufa e evitar desastres ambientais.

É urgente políticas públicas efetivas e leis rígidas para proteger a Floresta Amazônica e garantir os direitos das mulheres indígenas à terra, aos serviços básicos como saúde e educação.

Muitas mulheres indígenas, além de terem o seu direito à territorialidade violado, são vítimas de violência doméstica e sexual, são marginalizadas na sociedade. Elas frequentemente sofrem com a discriminação racial e étnica. Mesmo com as cotas para indígenas existentes, o acesso a recursos e a oportunidades ainda é muito aquém. Assegurar mais espaços e fazer valer os direitos dessas mulheres é a homenagem mais bonita.

Salvar a Amazônia é um ato de amor e respeito à mulher indígena. Salvar a Amazônia é sinônimo de vida. A MULHER INDÍGENA É A FLORESTA. Esse bioma é essencial para o equilíbrio ambiental global, o pleno funcionamento da cadeia produtiva. Precisamos combater as forças opressoras, “convencer quem devasta a respeitar a floresta”, antes que o cenário degradante seja irreversível. Ouçamos Gilberto Gil:

REFLORESTA

Manter em pé o que resta não basta
Que alguém virá derrubar o que resta
O jeito é convencer quem devasta
A respeitar a floresta

Manter em pé o que resta não basta
Que a motosserra voraz faz a festa
O jeito é compreender que já basta
E replantar a floresta

Milhões de espécies, plantas e animais
Zumbidos, berros, latidos, tudo mais
Uivos, murmúrios, lamentos ancestrais
Por que não deixamos nosso mundo em paz?

Além do morro, o deserto se alastra
Por toda a terra, da serra aos confins
Um toco oco, um casco de Canastra
Onde enterramos saguis

Manter em pé o que resta não basta
Já quase todo o ouro verde se foi
Agora é hora de ser refloresta
Que o coração não destrói

Respeitar a floresta
Que o coração não destrói
Replantar a floresta
Que o coração não destrói

SAIBA MAIS

DIA INTERNACIONAL DA MULHER INDÍGENA – A data foi instituída em 1983, durante o II Encontro de Organizações e Movimentos da América, em Tihuanacu, na Bolívia. O dia foi escolhido em memória de Bartolina Sisa, mulher Quéchua que foi morta durante a rebelião anticolonial de Túpaj Katari, no Alto Peru, região atual da Bolívia, nos anos de 1780.

DIA DA AMAZÔNIA – Foi instituída pela Lei n° 11.621, de 19 de dezembro de 2007, a data tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância da maior floresta tropical do mundo e sua biodiversidade para o planeta. A escolha da data também homenageia a criação da província do Amazonas, atual estado do Amazonas, em 1850.

Por Romênia Mariani

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