A roda que pulsa cultura e ancestralidade: o Brasil celebra o Dia Nacional do Samba
“Não deixa o samba morrer,
não deixa o samba acabar…”
O pedido imortalizado nos versos de Aloisio Silva e Edson Conceição ecoa com força especial neste 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba. A data, celebrada há décadas em cidades como Rio de Janeiro e Salvador, tornou-se oficialmente nacional somente em 2023, com a Lei nº 14.567, que reconhece as escolas de samba como manifestação fundamental da cultura brasileira.
Instituído inicialmente em homenagem a Ary Barroso, em uma visita histórica à Bahia, o 2 de dezembro ganhou projeção ao longo do século XX e se consolidou como símbolo de um gênero que atravessa gerações. Celebrar o samba é honrar sua importância na formação cultural do país e seu papel como patrimônio vivo do povo brasileiro.
O samba nasce da diáspora africana, sobretudo de matrizes bantu, e floresce em diferentes regiões, misturando ritmos, histórias e modos de vida. Do Recôncavo Baiano, onde o samba de roda se expressa como canto, corpo e círculo ancestral reconhecido pela Unesco como patrimônio imaterial da humanidade, às criações urbanas do Rio de Janeiro, o gênero multiplicou-se em linguagens que revelam a diversidade brasileira: partido-alto, terreiro, samba-enredo, samba-canção, samba-rock, pagode, gafieira e tantas outras vertentes que compõem a alma musical do país.
Celebrar o Dia Nacional do Samba também significa reverenciar aquelas e aqueles que fizeram germinar esse patrimônio coletivo e continuam a renová-lo. Os primeiros pilares desse legado incluem Tia Ciata, figura central das primeiras rodas e articuladora da chamada Pequena África; Donga, autor de “Pelo Telefone”, marco fonográfico de 1917; Cartola, poeta do morro; Nelson Cavaquinho e sua metáfora da vida; e Noel Rosa, cronista da cidade, nomes que foram decisivos na consolidação do gênero.
A partir dessas raízes, outras vozes ampliaram e diversificaram o samba ao longo das décadas. Clementina de Jesus, voz ancestral que abriu caminhos; Paulinho da Viola, mestre da elegância; Beth Carvalho, madrinha do pagode; Martinho da Vila, Leci Brandão, Dona Ivone Lara, pioneira entre mulheres compositoras, Elza Soares, Moacyr Luz e tantos outros seguiram adubando esse campo fértil. Com poesia, afeto, crítica e resistência, transformaram o samba em expressão essencial da identidade brasileira.
O samba é linguagem de pertencimento, mapa afetivo de um povo que transformou dor, fé e alegria em criação coletiva. Nas rodas pulsa um Brasil profundo, o das comunidades que ergueram cultura mesmo diante da opressão. Cada batida evoca lembranças de encruzilhadas, festas, interditos e rebeldias.
Ao longo das décadas, o que antes foi perseguido tornou-se emblema nacional, sem perder sua alma insurgente. O samba segue como território de memória negra, espaço de política viva e lugar onde se reinventa e impulsiona o futuro.
Mais que música, o samba é experiência comunitária e presença cotidiana. Está no gesto circular da roda, na rua, nas escolas de samba que movimentam economias inteiras, nas velhas-guardas que preservam tradições e nos terreiros que mantêm viva a ligação com a ancestralidade africana.
Neste Dia Nacional do Samba, a Contee celebra o valor cultural, social e educativo dessa manifestação que fez e faz o Brasil. Valorizar o samba é preservar a memória do povo, reconhecer seus artistas e defender a pluralidade cultural que sustenta a democracia. É assegurar que o ritmo que embala nossa história e nossos corações continue vivo e forte. Os tambores do samba não podem acabar nem morrer.
Da Redação Contee





