A UFMG nunca se curvará ao arbítrio’, diz o reitor Jaime Ramírez
Comunidade universitária se reuniu no campus Pampulha para apoiar gestores e defender a Instituição
Integrantes da comunidade se reuniram em frente ao prédio da Reitoria Foca Lisboa / UFMG
“A UFMG nunca se curvou e nunca se curvará ao arbítrio. Vamos resistir sempre”, afirmou o reitor Jaime Ramírez aos integrantes da comunidade universitária que se reuniram na tarde de ontem, em frente ao prédio da Reitoria, para manifestar apoio aos gestores atuais e aos antecessores levados a depor, na Polícia Federal, por meio de condução coercitiva. Eles foram prestar esclarecimentos por supostas irregularidades relacionadas à construção do Memorial da Anistia Política do Brasil, no bairro Santo Antonio, em Belo Horizonte.
Oito dirigentes e servidores da UFMG foram conduzidos à sede da Polícia Federal, para apuração de inexecução e desvio de recursos públicos destinados à implantação e construção do Memorial, financiado pelo Ministério da Justiça e executado pela UFMG. Além disso, foram expedidos onze mandados de busca e apreensão.
Jaime Ramírez agradeceu o apoio da comunidade universitária e de diversas entidades – como os sindicatos de servidores e diretórios estudantis – e anunciou para a manhã desta terça-feira reunião extraordinária do Conselho Universitário para a definição de ações em defesa da UFMG.
O reitor Jaime Ramírez e a vice-reitora Sandra Goulart Almeida durante o ato Foca Lisboa / UFMG
Ana Lúcia Gazzolla, reitora na gestão 2002-2006, mencionou nota assinada por ex-reitores e vice-reitores em “repúdio à brutalidade cometida contra representantes da UFMG” e lembrou a postura de dirigentes que resistiram à ditadura militar, nas décadas de 1960 e 70. “A UFMG e seus dirigentes são nosso patrimônio. Qualquer ataque a seus dirigentes é um ataque à Universidade, e contra isso estaremos juntos. Tenho certeza de que a UFMG vai responder a essa ação com altivez e serenidade, agindo com relação à Justiça com o respeito que não tiveram conosco hoje”, afirmou.
Para Clélio Campolina, reitor na gestão 2010-2014, a ação da Polícia Federal foi uma violência que vai contra o espírito democrático que sempre regeu a Universidade. “Contra essa situação de exceção, temos que ser o exemplo de construção democrática”, disse Campolina. “Para nós, não há divergência de objetivos, prezamos o debate livre com vistas a uma sociedade melhor”.
Aparecida Campana, diretora de Política Sindical do Atens Sindicato Nacional, que representa os técnicos de nível superior das Ifes, manifestou indignação contra a “atitude arbitrária” de que foi vítima a UFMG. “Temos instituições em frangalhos, não se sabe em quem confiar”, disse a servidora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB).
A comunidade universitária deve se unir em defesa da universidade pública e gratuita, que é atacada pela operação deflagrada hoje pela Polícia Federal, na visão da servidora Neide Dantas, coordenadora geral do Sindifes, que representa os servidores da UFMG e de outras instituições mineiras. “Não por acaso, o alvo da ação é o Memorial da Anistia, que aborda um tema, a ditadura, ainda tão difícil de tratar no Brasil”. Segundo ela, as investigações devem seguir os princípios legais. “Os gestores poderiam ter sido chamados a depor sem o recurso da condução coercitiva”, completou.
Representando o diretório acadêmico da Fafich, o estudante de jornalismo Gabriel Lopo pregou união contra qualquer movimento destinado a “deslegitimar o caráter público de instituições como a UFMG e abrir espaço para a privatização das universidades”. Ele convocou a comunidade a defender também o resultado da consulta recente que culminou na escolha da atual vice-reitora, Sandra Goulart Almeida. “Somos uma comunidade soberana”, alertou.
‘Absurdo travestido de legalidade’
“Em seus 90 anos de existência, a UFMG foi atacada e teve sua autonomia ameaçada várias vezes, e sempre respondeu altivamente”, lembrou o professor João Antonio de Paula, da Faculdade de Ciências Econômicas, ao defender a união da comunidade em torno do reitor e dos outros dirigentes conduzidos hoje a depor. “Aconteceu hoje mais um absurdo travestido de legalidade, e repudiamos a forma arbitrária como têm sido conduzidas as investigações no Brasil, com a divulgação de acusações sem provas”, afirmou João Antonio, destacando ainda a necessidade de responder com a defesa intransigente do ensino superior público.
A diretora do ICB, professora Andreia Mara Macedo, fez coro contra a “violência injustificada contra a UFMG e sua comunidade, por parte de uma instituição que deveria ser guardiã do serviço público”. Ela disse acreditar que o alvo da operação desta quarta-feira é um projeto muito bem representado pela UFMG e que a ação foi movida “por interesses que se sobrepõem ao interesse coletivo”.
A professora Danusa Dias Soares, da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, condenou o que classificou de arbitrariedades que já atingiram recentemente outras universidades federais como as de Santa Catarina (UFSC) e a de Ouro Preto (Ufop). “Foi uma afronta ao que a UFMG representa, dentro e fora do Brasil, e parte de um projeto que visa enfraquecer as universidades públicas”, disse.
No fim da tarde, estudantes se reuniram no saguão da Reitoria para nova manifestação de agravo e tomada de decisões sobre novas ações. A UFMG também recebeu manifestações de apoio de entidades como a Comissão da Verdade de Minas Gerais, a Associação Nacional dos Dirigentes da Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a Associação Nacional de Pós-graduandos, a União de Negras e Negros pela Igualdade (Unegro).
Manifestantes reunidos em torno do espelho d´água da Reitoria Foca Lisboa / UFMG