Acordo com Mercosul não pode se basear em ameaças, diz Lula em novo recado à União Europeia
Em discurso na abertura da Cúpula Celac-União Europeia, na Bélgica, presidente brasileiro voltou a defender paz negociada entre Rússia e Ucrânia e disse que sanções prejudicam os mais vulneráveis
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a pedir uma “relação comercial justa, sustentável e inclusiva” entre o Mercosul e a União Europeia nesta segunda-feira (17). Foi a segunda vez que fez a reivindicação na Europa, agora durante a abertura da Cúpula Celac-União Europeia em Bruxelas, na Bélgica. Para ele, a conclusão do entendimento “é uma prioridade e deve estar baseada na confiança mútua e não em ameaças”.
Participam da cúpula cerca de 60 chefes de Estado ou representantes de governo das duas regiões. O presidente brasileiro tem expressado claramente sua discordância da política protecionista europeia, que impõe condições para ele inexequíveis para fechar o acordo UE-Mercosul.
Ele também comentou a guerra entre Rússia e Ucrânia, e disse que o conflito “é mais uma confirmação de que o Conselho de Segurança das Nações Unidas não atende aos atuais desafios à paz e à segurança”. Segundo ele, “seus próprios membros não respeitam a Carta da ONU”.
Sanções penalizam os vulneráveis
Por outro lado, em crítica indireta aos Estados Unidos e europeus, destacou que “recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis”. Moscou tem sido atacada com sanções ocidentais desde o início do conflito com Kiev.
Sobre a posição brasileira, afirmou: “repudiamos veementemente o uso da força como meio de resolver disputas. O Brasil apoia as iniciativas promovidas por diferentes países e regiões em favor da cessação imediata de hostilidades e de uma paz negociada”.
O chefe do governo brasileiro defendeu que os países precisam “encontrar caminhos para superar as assimetrias de desenvolvimento econômico e social”. Para ele, o mundo necessita de uma parceria que ponha fim “a uma divisão internacional do trabalho que condena a América Latina e o Caribe ao fornecimento de matéria-prima e de mão-de-obra migrante, mal remunerada e discriminada”. A transferência de tecnologia é importante para a “real integração de cadeias produtivas”, disse.
Extremismo político e redes sociais
Segundo Lula, a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e a União Europeia “está ameaçada pelo extremismo político, pela manipulação da informação, pela violência que ataca e silencia minorias. Não existe democracia sem respeito à diversidade”, disse.
O presidente brasileiro comentou que considera urgente a regulamentação das plataformas digitais e redes sociais, para combater crimes cometidos nos meios virtuais e as fake news. “O que é crime na vida real, deve ser crime no mundo digital”, declarou, reafirmando o que seu governo, especialmente o ministro da Justiça, Flávio Dino, vem afirmando nos últimos meses.
O Projeto de Lei 2.630, a PL das Fake News, foi retirado de pauta em sua tramitação na Câmara dos Deputados depois da “mobilização” das chamadas big techs (as grandes companhias que controlam as redes). As grandes corporações tiveram apoio nessa pressão inclusive de veículos de imprensa ditos progressistas, que têm parcerias e interesses atrelados a elas.
Meio ambiente
Em discurso em Paris em junho, ele também havia mencionado a “dívida histórica” dos países ricos para com os pobres, na questão ambiental, e defendeu que os desenvolvidos devem financiar a preservação de florestas como a Amazônia. Em Bruxelas, hoje, disse que “proteger a Amazônia é uma obrigação”.
Mas ressalvou: “a floresta tropical não pode ser vista apenas como um santuário ecológico”. Defendeu o desenvolvimento sustentável como “três dimensões inseparáveis: a econômica, a social e a ambiental. O mundo precisa se preocupar com o direito de viver bem dos habitantes da Amazônia”.