Adesão a Bolsonaro nos quartéis reflete distorção do ensino de história nos colégios militares
Essa forte adesão dos setores militares, dos recrutas aos generais cinco estrelas, brigadeiros e almirantes, em apoio ao Capitão presidenciável, que cumpriu a carreira no Exército sem qualquer brilho – para ser elogiosa – talvez tenha sua origem nos bancos escolares.
No ano seguinte ao golpe, 1965, foi impressa uma nova cartilha de História do Brasil, para o ensino nas escolas militares, que instruiu cinco gerações de militares, e até hoje vigora.
Seu conteúdo ensina que não houve golpe em 64, houve uma “revolução” para eliminar a “ameaça vermelha” do comunismo, e houve “uma guerra”, em que os militares precisaram praticar a repressão em nome da ordem pública.
Tal versão se tornou obsoleta com a redemocratização e a farta informação colhida através de várias comissões criadas para apurar aqueles fatos, de documentos encontrados, das indiscrições do Wikileaks e também da farta documentação norte-americana, com relatos de diplomatas, vídeos e correspondências oficiais, que classificam como “terrorismo de Estado” a repressão então praticada pelo governo brasileiro.
Uma época em que a propaganda e a mídia nos impunham a ideia que “terroristas” eram, não quem perseguia, mas os perseguidos, obrigados à clandestinidade, capturados e, condenados sem julgamento, torturados e muitas vezes mortos.
Essa versão oficial conveniente, porém fantasiosa, ainda prevalece em grande parcela das Forças Armadas. Imagino que os mais velhos insistam nela por corporativismo, e os mais jovens não ousem contestar os superiores mais antigos. Isso, agravado pela Lei da Anistia, que aos “dois lados” perdoou da mesma forma, contribuindo para perpetuar uma “verdade” distorcida.