Ainda em obras, novas federais já têm 10% dos alunos

Mais de 40 cidades, a maioria do interior do país, entraram no mapa do ensino superior público desde 2005, com a ampliação e a abertura de 14 universidades federais, distribuídas em mais de cem campi. Se a infraestrutura ainda é um problema, o número de alunos tem crescido. Desde o primeiro ano letivo de funcionamento das novas universidades em 2006 até hoje, as matrículas saltaram de 25 mil para mais de 80 mil, fatia de quase 10% de todas as vagas na rede de ensino superior federal, que conta hoje com 59 instituições.

No período, a concorrência do vestibular também cresceu. Na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, que passou por ampliação em 2008, a relação candidato/vaga para medicina é de 59,3. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) o mesmo índice é de 45,3; na Universidade de São Paulo (USP) a concorrência é de 67 vestibulandos para cada vaga. Como em outras universidades, a procura é baixa nos cursos de licenciatura.

O processo seletivo via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o bacharelado interdisciplinar (BI) de ciência e tecnologia da Universidade Federal do ABC (UFABC) foi o mais disputado do país este ano, com a marca de 11 alunos por vaga. O que atrai o aluno é a proposta de grade curricular livre do bacharelado, que oferece formação geral nos três primeiros anos seguida de uma especialização. Primeira a implantar o projeto pedagógico em 2005, ano de sua fundação, a UFABC já “exportou” o modelo para outras 14 universidades e colabora na implantação do bacharelado interdisciplinar em instituições particulares.

Esse modelo se propõe a integrar conhecimentos na formação inicial do aluno e reforçar o estudo específico na parte final. Na UFABC, a ênfase dos bacharelados está nas engenharias e no curso ciências da computação, estratégia que atende a demanda por mão de obra qualificada nas indústrias do ABC paulista. “Tenho vários colegas estagiando em grandes empresas, como Siemens e ABB “, conta Marco Camargo, aluno da UFABC.

A oferta de cursos de graduação nas novas universidades foi pensada conforme a localização e as principais características para o desenvolvimento regional. No interior do Rio Grande do Norte, as graduações de agronomia e engenharia do petróleo da Universidade Federal do Semi-Árido estão associadas ao forte mercado agrícola e aos projetos da Petrobras na região. Instalada em diversos campi espalhados pelo interior do Rio Grande do Sul, Paraná e de Santa Catarina, a nova Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) foi criada a partir da demanda de movimentos sociais e de prefeituras.

Em Santarém, todos os cursos oferecidos pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), aberta em 2009, têm abordagem relacionada à floresta amazônica. “Hoje há carência profissional na região nos projetos de geração de energia, por isso formatamos nossas engenharias para contemplar manejo florestal e aspectos hídricos específicos. Temos a maior bacia hidrográfica do planeta, mas nunca tivemos cursos específicos. Criamos os programas de piscicultura e aquicultura, áreas que poderiam ter um mercado forte de exportação se produzisse em grande escala”, diz José Oliveira Aquino, pró-reitor de ensino da Ufopa.

O maior problema da expansão das universidades federais é a infraestrutura. Sem exceção, as 14 novas instituições são verdadeiros canteiros de obras e a grande maioria apresenta atraso nas construções, o que implica em salas de aula improvisadas, ausência de laboratórios adequados e uma lista de precariedades no serviço cotidiano, como problemas na biblioteca, na moradia estudantil, restaurante universitário.

De acordo com monitoramento do Ministério da Educação (MEC), o projeto de expansão de toda a rede federal demanda uma área construída de 3,5 milhões de metros quadrados, com mais de 30 obras paradas atualmente. “Já foram entregues 1,6 milhões de metros quadrados, mas estamos monitorando os atrasos, que ocorrem por causa de problemas de cumprimento de contrato por parte das empreiteiras”, justifica Luiz Cláudio Costa, secretário de ensino superior do MEC. “Saímos de um patamar muito baixo, com orçamento limitado e sem capacidade operacional. As universidades tiveram que reaprender a investir, reorganizar seus setores de engenharia, de compras. Os transtornos são legítimos, mas precisamos resolver”, completa.

Desde o início do ciclo de expansão do ensino superior federal, o orçamento de toda a rede cresceu 94% em valores correntes, de R$ 12,5 bilhões em 2006 para R$ 24,2 bilhões este ano, segundo lançamento na Lei Orçamentária Anual (LOA). Em igual período, os recursos das 14 novas instituições registrou alta de 370%, saindo de R$ 404 milhões para R$ 1,9 bilhão.

Fonte: Valor Econômico

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