Aproximação de Bolsonaro tira votos de Milei na Argentina
Único instituto a acertar a vitória de Massa, a Atlas Intel ainda afirmou que a pauta conservadora de costumes não capitaliza votos no país
Único instituto de pesquisa que previu a vitória do peronista Sergio Massa (Unión por la Patria) no primeiro turno presidencial na Argentina, disputado no domingo (22), a Atlas Intel acredita que Javier Milei (La Libertad Avanza) deixou de receber votos por causa do apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“A minha avaliação é que o apoio de Bolsonaro tira votos. Vamos adicionar essa pergunta na próxima pesquisa para testar a imagem do ex-presidente na Argentina”, disse o diretor-executivo da Atlas Intel, Andrei Roman, ao O Globo.
O CEO ainda mencionou a dificuldade que os apoiadores de Bolsonaro têm para entender que a pauta conservadora de costumes não capitaliza os votos para o candidato da extrema-direita argentina.
“Argentina é muito mais progressista que o Brasil, em termos de valores. Quase 70% do eleitorado apoia o casamento gay. Há temas que são capitalizados no Brasil por uma direita evangélica que, na Argentina, não existem, porque lá não há esse segmento. Isso é algo que os apoiadores brasileiros do Milei não entendem”, disse o executivo.
Segundo a avaliação de Roman, o candidato de extrema direita consegue se destacar no cenário político “por conta da raiva que os argentinos têm de um governo que errou no plano econômico e não por termos de valores sociais e conservadores”.
Neste domingo, o argentinos foram às urnas e elegeram o ministro da economia Sergio Massa, com 36,68% dos votos (9.645.983 votos), e o líder da extrema-direita, Javier Milei, com 29,98% (7.884.336 votos), para disputar o segundo turno, em 19 de novembro.
O resultado foi visto como surpreendente, já que Massa é ministro da Economia em um país em frangalhos. Só em setembro, os preços aumentaram 12,7%, maior taxa em 21 anos. No acumulado dos últimos 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subiu 138,3%, maior alta de preços desde agosto de 1991.
A maioria das pesquisas coloca Javier Milei como o candidato com maior simpatia e apoio. Apenas a Atlas Intel colocou Massa como favorito, com 30,6%, enquanto Milei atinge 25,2% e Patricia Bullrich, do Juntos por el Cambio, com 25%.
Eduardo Bolsonaro é cortado ao vivo
Durante a apuração dos resultados eleitorais neste domingo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi cortado ao vivo da transmissão de um canal de TV após defender a “liberação de armas” para a população civil.
“Quando estamos falando de armas de fogo… E não é tão simples assim: não se pode ter problemas com a polícia, com a Justiça, há uma idade mínima. No Brasil é necessário fazer um teste prático de disparo… Então, avançar na (liberação) de armas de fogo para os cidadãos significa dar condições para sua legítima defesa, para que eles sejam”, disse o filho do ex-presidente.
Dois dos apresentadores cortaram a fala do parlamentar brasileiro com tom de negação. “Quão generosa é a Argentina e são os argentinos para receber este tipo de pessoa”, comentou um deles. A outra acrescentou, em tom de revolta: “Está falando sobre liberação e disponibilidade direta de armas, e com o argumento e a justificativa que as pessoas podem se defender”.
“É por isso o que aconteceu com o seu pai, o qual os brasileiros com lógica removeram do poder, felizmente”, completou o colega.
O deputado é um dos políticos da extrema-direita que viajou à Argentina para acompanhar a apuração das eleições presidenciais. Alguns integrantes do chamado gabinete do ódio, como o vereador de São Bernardo do Campo, Paulo Chuchu (PRTB), também integraram a comitiva da extrema-direita brasileira.
Hermanos compararam Milei a Bolsonaro antes das eleições
Um vídeo produzido por grupos críticos a candidatura da extrema-direita argentina comparou o discurso de Javier Milei com o do ex-presidente Bolsonaro. A peça não faz parte da campanha oficial de Sergio Massa, mas viralizou pelo país momentos antes da eleição.
O vídeo lista discursos de Bolsonaro sobre patriotismo, combate à corrupção, piadas e promessas de mudança, reiteradas pelo ex-presidente como “contra tudo que está aí”.
Em meio a fumaça, o rosto em preto e branco do brasileiro transforma-se gradualmente no de Milei enquanto corre o texto, até que o narrador chama de pesadelo a eleição de Bolsonaro em 2018, e alerta que a Argentina “não precisa passar por isso”.
O vídeo termina com uma frase repetida à exaustão por argentinos na Copa do Mundo de 2014, “Brasil, decíme que se siente” (Brasil, me diga como se sente, em tradução livre), baseada em uma música da banda americana Creedence Clearwater Revival.