Armas de fogo respondem por 76% das mortes nos ataques contra escolas ocorridos no Brasil
Estudo do Instituto Sou da Paz relaciona o aumento da gravidade dos ataques à flexibilização do acesso às armas promovida pelo governo Bolsonaro
Tornar mais rígido o controle de armas e exigir a guarda segura pelos(as) proprietários(as) são recomendações do Instituto Sou da Paz para minimizar os efeitos dos ataques contra as escolas no Brasil.
Arma de fogo foi o instrumento mais letal nos ataques a escolas ocorridos no Brasil nos últimos anos e provocou 76% das mortes. Em 60% dos casos, as armas usadas estavam na residência do agressor. Mais da metade eram registradas legalmente.
Os dados integram estudo divulgado pelo Instituto Sou da Paz, que analisa 24 ataques a escolas ocorridos no Brasil entre 2002 e abril de 2023, com 45 vítimas fatais e 92 não fatais.
Armas de fogo foram utilizadas em 46% dos casos e provocaram 76% das mortes. Enquanto isso, armas brancas foram usadas em 42% dos casos e causaram 24% das mortes. Também foram utilizados armas de pressão, balestras e explosivos, sem causar vítimas fatais.
O documento relaciona o aumento da gravidade dos ataques à flexibilização do acesso às armas promovida pelo governo Bolsonaro. Dois dos três casos de maior número de vítimas ocorreram a partir de 2019, quando começou a flexibilização.
O estudo mostra que a disponibilidade de armas em residências favorece os ataques contra as escolas e aumenta a letalidade desse tipo de crime.
Tendência de alta
Ataques violentos a instituições de ensino costumavam ser muito raros no Brasil. Este cenário se alterou a partir de 2019 e segue em tendência de alta, aponta o estudo do Sou da Paz. Depois do primeiro ataque, ocorrido em Salvador em 2002, foram registrados mais cinco casos na década seguinte, a mesma quantidade verificada no primeiro quadrimestre de 2022.
Em pelo menos 20 dos casos analisados, o planejamento de estudantes que os realizaram durou semanas ou meses, mostrando que há tempo para a comunidade intervir para evitar os ataques.
A maior parcela de autores(as) é composta por alunos(sd) (59%) e em pelo menos dois casos o(a) agressor(a) estava há meses sem ir às aulas, sem que nenhuma providência de busca ativa tenha sido feita pelas autoridades. O afastamento do ambiente escolar contribuiu para o isolamento e a radicalização desses(as) estudantes.
Recomendações
O Instituto Sou da Paz traz algumas recomendações para a prevenção de novos casos, com foco em diferentes atores, principalmente órgãos de segurança e educação, como:
– Corresponsabilização de plataformas digitais.
– Criação de equipes policiais treinadas em monitoramento de redes sociais com capacidade de realização de análise de risco, para triagem e atuação preventiva.
– Fortalecimento da ronda escolar, fortalecimento de vínculos entre a direção da escola e batalhões locais.
– Treinamento e estabelecimento de protocolo de ação para que policiais militares possam responder a estes eventos de modo a eliminar a ameaça mais rapidamente possível, preparar socorro e evacuação das vítimas.
– Estabelecimento de programas específicos para a saúde mental dos(as) estudantes e de mediação e justiça restaurativa nas escolas para lidar com conflitos e bullying, que devem ser conduzidos por profissionais dedicados a esta atividade, sem sobrecarregar professores(as) com mais estas atribuições.
-Treinamento de professores(as) e funcionários(as) para que consigam identificar comportamentos que precisam despertar ações da comunidade escolar.
– Criar ações para instruir as pessoas a evitarem repassar boatos e mensagens sem procedência identificada, para evitar pânico.
– Endurecimento do controle e fiscalização da compra de armas de fogo e munições para restringir o acesso a instrumentos mais letais por parte dos (as) agressores(as).
– Rever facilitações dadas para permissão de adolescentes (a partir de 14 anos) a clubes de tiro, ainda que acompanhados(as) de um responsável.