Arrocho dos salários é a marca do atual governo
Não é sem razão que no seio da classe trabalhadora brasileira, sobretudo entre os que recebem até três salários mínimos, é tão alta a rejeição de Jair Bolsonaro quanto a intenção de votar em Lula em 2 de outubro e resolver a disputa presidencial já no primeiro turno, conforme a última pesquisa Ipec.
O atual presidente, que quer implantar um regime abertamente fascista no Brasil, é campeão absoluto em matéria de arrocho dos salários e iniciativas para subtrair direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
O arrocho salarial é uma marca indelével da gestão Guedes/Bolsonaro, que também acabou com a política de valorização do salário mínimo instituída pelo governo Lula, política esta que fortaleceu o mercado interno e estimulou o crescimento da economia.
Reportagem da jornalista Marta Cavallini, publicada nesta quarta (14) no g1 sob o título “Salário médio de contratação fica menor do que há um ano”, é um dos retratos deste fenômeno que também transparece reiteradamente nos levantamentos do Dieese sobre negociações coletivas nas quais a maioria dos acordos e convenções são fechados com reajustes abaixo da inflação.
Em julho, o salário médio real de admissão foi de R$ 1.926,54. Em julho de 2021, o valor era de R$ 1.982,55. A perda revela-se significativamente maior do que parece à primeira vista quando se leva em conta a inflação verificada no período. Leia mais abaixo:
Levantamento feito pelo g1 com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que o salário médio de contratação no país em empregos com carteira assinada foi de R$ 1.926,54 em julho – 2,82% abaixo dos R$ 1.982,55 pagos no mesmo mês do ano passado.
Em relação a junho, no entanto, houve uma ligeira alta, de 0,8%: naquele mês, o salário médio de contratação ficou em R$ 1.911,23. Na comparação com janeiro deste ano, que teve o maior valor registrado (R$ 1.994,11) desde julho de 2021, a queda foi de 3,4%.
Julho foi o segundo mês seguido de aumento real no salário médio de contratação. Em maio, a queda acumulada no rendimento chegou a 5,6% em um ano – o valor médio de R$ 1.898 registrado foi o mais baixo desde dezembro de 2021.
Maiores e menores salários iniciais
Entre os 20 principais grupamentos de atividades econômicas, os menores salários de contratação em julho foram em vagas em alojamento e alimentação, agricultura, pecuária e pesca e no comércio.
Já as maiores remunerações iniciais foram pagas em ocupações em atividades financeiras e em organismos internacionais.
Salário inicial x final
Os salários iniciais seguem menores que as remunerações dos profissionais que saem dos empregos. Em julho, o salário médio real dos trabalhadores demitidos foi de R$ 1.988. Ou seja, 3,17% acima do salário médio de contratação (R$ 1.927).
Em um ano, o único mês que teve o salário de desligamento menor que o de admissão foi janeiro.
Recorde nos pedidos de demissão
O país registrou novamente recorde nos pedidos de demissão entre os trabalhadores com carteira assinada. Foram 6,467 milhões de pedidos de demissão nos últimos 12 meses até julho. Isso em meio ao desemprego ainda elevado, número de informais recorde e dificuldade de trabalhadores menos qualificados de voltarem ao mercado de trabalho.
Esse número equivale a 32,4% do total de desligamentos de trabalhadores no período (19,984 milhões). Ou seja, 1 de cada 3 desligamentos foram voluntários (a pedido do trabalhador).
Os valores dos salários são um dos motivos para os profissionais saírem de seus empregos. Outra razão é a diminuição dos efeitos da pandemia no mercado de trabalho. Assim, profissionais pedem demissão para serem admitidos dentro de cargos mais adequados a suas qualificações, com melhores remunerações.
“Muitas pessoas permaneceram em trabalhos que não eram condizentes com suas qualificações devido à necessidade de alguma recomposição de renda durante a pandemia. Mas muitas delas passaram a se desligar de empregos para se admitirem em outros mais adequados”, diz Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.
Serviços
O setor de serviços, o mais atingido pela pandemia e o que mais emprega no país, segue como o principal destaque na geração de novas vagas formais do país (874.203), sendo responsável por 56% do saldo de empregos criados nos 7 primeiros meses do ano (1.560.896), de acordo com os dados do Caged.
No ano, o saldo é positivo em todas as atividades econômicas, com destaque para indústrias de transformação e construção.
A criação de 1,56 milhão de vagas formais entre janeiro e julho representa recuo de 13% na comparação com o mesmo período de 2021, quando foram criadas 1,79 milhão de vagas.
Já em julho foram criados 218,9 mil empregos com carteira assinada. Trata-se de uma piora em relação a julho do ano passado, quando foram criados 306,5 mil empregos formais – queda de 28,6%.
Em julho de 2020, em meio ao isolamento da primeira onda da Covid-19, foram abertos 108,4 mil empregos com carteira assinada. Nesse caso, o aumento foi de 102% na criação de vagas em julho deste ano.