As falas da presidenta e os desafios da esquerda
A presidenta Dilma Rousseff, em pronunciamento perante os delegados do 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores, propôs que seus militantes e dirigentes façam a leitura política correta do momento que o país está atravessando. Equiparou os ajustes que propôs para a economia a uma flexão tática em nome da preservação do objetivo estratégico de retomar o desenvolvimento nacional com progresso social.
Dilma assegurou uma vez mais que manterá as políticas sociais e que os direitos dos trabalhadores consagrados na Consolidação das Leis Trabalhistas serão mantidos. Pediu a confiança e o apoio dos seus correligionários.
No dia seguinte ao seu pronunciamento no congresso petista, foi ao ar a entrevista que concedeu ao humorista e apresentador da TV Globo, Jô Soares. Questionada sobre como desejaria ser reconhecida na posteridade, asseverou que quer passar à história como defensora da soberania nacional e dos direitos do povo brasileiro.
As forças consequentes de esquerda não têm razões para duvidar da palavra da presidenta e da sinceridade dos seus propósitos. Dilma é uma guerreira provada na luta desde os tempos de juventude na resistência à ditadura militar. Como ministra do governo Lula e depois, no exercício do mandato presidencial, revelou qualidades de líder política e estadista. Sua formação e trajetória identificam-na como democrata e patriota, comprometida com os anseios do povo brasileiro e com um programa de luta para transformar o Brasil num país desenvolvido, progressista e socialmente avançado.
A questão da confiança na mandatária e a garantia da sua governabilidade – objeto de debates também durante o 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores – permanece como o tema primordial da conjuntura política desde o triunfo eleitoral de outubro do ano passado. O quadro político continua instável, marcado pela ofensiva das forças oposicionistas e por importantes mudanças na base de sustentação do governo no Congresso Nacional, desde que os presidentes das duas casas legislativas passaram a liderar alas contrárias ao governo, impondo ao país uma agenda reacionária.
Na economia, o cenário é objetivamente desfavorável. Não tendo reunido convicções nem força para construir um modelo alternativo ao longo dos três mandatos anteriores, o país é prisioneiro das armadilhas do sistema financeiro dominante no mundo. A crise mundial do capitalismo acabou derrubando os muros de contenção que as medidas anticíclicas tinham erguido. É neste contexto que o governo propõe e executa ajustes nas contas públicas que independentemente das intenções, vão no primeiro momento gerar dificuldades às condições de vida da população.
Com a mesma premência que se apresenta esta questão política, afigura-se a necessidade de dar passos consequentes na aplicação da plataforma de mudanças com que Dilma foi reeleita, plataforma que é a própria essência do movimento transformador que levou o PT e demais forças progressistas ao governo em 2002 e moveu o eleitorado por quatro eleições consecutivas vitoriosas.
A confiança que as forças progressistas renovam na mandatária, essencial para atravessar o momento de dificuldades, requer que o quanto antes o país encontre novos caminhos para retomar o crescimento econômico e abrir novo ciclo de desenvolvimento, o que não se concretizará caso permaneça refém de políticas fiscais, monetárias e cambiais próprias da dinâmica do sistema financeiro internacional dominante.
No plano político, é imperativo reunir amplas forças nos marcos de uma frente de partidos, movimentos sociais e personalidades democráticas e patrióticas, capaz de formar uma sólida maioria e mobilizar o povo na luta pelo desenvolvimento com justiça social e valorização do trabalho e reformas estruturais