As falas de Paulo Guedes que o Jornal Nacional escondeu
Em sua pauta predatória neoliberal, Paulo Guedes une os desejos econômicos da Família Marinho aos anseios ditatoriais de Jair Bolsonaro e é poupado por ambos
Na ofensiva contra o governo Jair Bolsonaro comandada por William Bonner e Renata Ceribelli, a Globo poupou o ministro da Economia, Paulo Guedes, nas duas edições – de sexta-feira (22) e sábado (23) – em que detalhou o vídeo da fatídica reunião ministerial de 22 de abril.
A pauta econômica neoliberal capitaneada por Guedes, que inclui desde a venda da “porra” do Banco do Brasil à liberação do turismo sexual no Brasil, passando pela estruturação de um exército bolsonarista pagando R$ 200 para jovens brasileiros serem doutrinados pelo governo federal, é o fio que une os desejos da Família Marinho aos anseios ditatoriais de Jair Bolsonaro, que também poupou Guedes de interferências em sua pasta.
“Eu tenho poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção”, diz Bolsonaro na reunião, voltando atrás segundos depois. “(Inaudível) com Paulo Guedes. Nunca tive problema com ele. Zero problemas com Paulo Guedes, mas os demais [ministérios] vou [interferir]”, diz Bolsonaro.
Embora seja o ministro que mais falou na reunião – até mesmo que o chefe da Casa Civil, Walter Braga Netto -, Paulo Guedes teve declarações entreguistas e criminosas encobertas pelo Jornal Nacional.
A Fórum, no entanto, lista as declarações que passaram pela censura velada da família Marinho.
Venda da “porra” do Banco do Brasil
“O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam’ . Aí se falar assim: ‘bota o juro alto’, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”. Bolsonaro, então decidiu acionar o presidente do banco, Rubem Novaes, mas Guedes logo interrompeu: “Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”.
Servidores e as torres derrubadas pela política liberal
“Todo mundo está achando que, tão distraídos, abraçaram a gente, enrolaram com a gente. Nós já botamos a granada no bolso do inimigo – dois anos sem aumento de salário”.
“E estamos agora no meio dessa confusão, derrubando a última, a última torre do inimigo. Que uma coisa é que nós vamos fazer a reconstrução e a nossa transformação econômica. A outra coisa são as torres do inimigo que a gente tinha que derrubar. Uma era o excesso de gasto na Previdência, derrubamos assim que entramos. A segunda torre eram os juros. Os juros tão descendo e vão descer mais ainda”
Exército bolsonarista com jovens a R$ 200
“Nós sabemos para onde nós vamos voltar já, já, tá certo? E se o mundo for diferente, nós vamos ter capacidade de adaptação. Por exemplo: eu já tenho conversado com o ministro da Defesa, já conversamos algumas vezes. Quantos? Quantos? Duzentos mil, trezentos mil. Quantos jovens aprendizes nós podemos absorver nos quartéis brasileiros? Um milhão? Um milhão a 200 reais, que é o Bolsa Família, 300, para o cara. […] Faz ginástica, canta o hino, bate continência. De tarde, aprende, aprende a ser um cidadão, pô! Aprende a ser um cidadão. Disciplina, usar o … usar o tempo construtivamente, pô! […] É voluntário para fazer estrada, para fazer isso, fazer aquilo. Sabe quanto custa isso? É 200 reais por mês, 1 milhão de cá, 200 milhões, pô! Joga dez meses aí, 2 bi. Isso é nada!”.
Turismo sexual
“O sonho do presidente de transformar o Rio de Janeiro em Cancún lá, Angra dos Reis em Cancún. Aquilo ali pode virar Cancún rápido. Entendeu? A mesma coisa aí Es … é, Espanha. Espanha recebe trinta, quarenta milhões de turistas. Isso aí é uma cidade da Ásia. Macau recebe vinte e seis milhões hoje na … na China. Só por causa desse negócio. É um centro de negócios. É só maior de idade. O cara entra, deixa grana lá que ele ganhou anteontem, – ele deixa aquilo lá, bebe, sai feliz da vida. Aquilo ali num atrapalha ninguém. Aquilo não atrapalha ninguém. Deixa cada um se foder. Ô Damares. Damares. Damares. Deixa cada um … Damares. Damares. O presidente, o presidente fala em liberdade. Deixa cada um se foder do jeito que quiser. Principalmente se o cara é maior, vacinado e bilionário. Deixa o cara se foder, pô! Não tem … lá não entra nenhum, lá não entra nenhum brasileirinho”.
Relação com a China
“A China é aquele cara que cê sabe que cê tem que aguentar, porque pro cês terem uma ideia, pra cada um dólar que o Brasil exporta pros Estados Unidos, exporta três pra China. Você sabe que ele é diferente de você. Cê sabe que geopoliticamente cê tá do lado de cá. Agora, cê sabe o seguinte, não deixa jogar fora aquilo ali não porque aquilo ali é comida nossa. Nós tamo exportando pra aqueles cara. Não vamos vender pra eles ponto crítico nosso, mas vamos vender a nossa soja pra eles. Isso a gente pode vender à vontade. Eles precisam comer, eles precisam comer”.
Auxílio a empresas “pequenininhas”
“Montamos um comitê de bancos, estamos lá com o Montezano agora fazendo justamente a reestruturação. Não vai ter molezinha pra empresa aérea, pra nada disso. É dinheiro que nós vamos botar usando a melhor tecnologia financeira lá de fora. Nós vamos botar dinheiro, e … vai dar certo e nós vamos ganhar dinheiro. Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos pra salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas. Então, nós estamos fazendo tudo by the book, direitinho”.