Áudios mostram que Bolsonaros mentiram ao chamarem Bebianno de mentiroso
Conversa vazada desmente versão do presidente e do filho, Carlos (esq), de que não teria havido conversa com Bebianno sobre esquema de desvios de fundo partidário
São Paulo – Áudios de conversas entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro exonerado Gustavo Bebianno desmentem a versão do presidente e de seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PSL-RJ), de que ele não havia falado com Bebianno, que foi presidiu o partido e coordenou a campanha eleitoral do presidente Neles, Bolsonaro faz vários ataques à mídia, em especial à Globo, e sugere que Bebianno vaza informações de governo. Ouça os áudios ao fim desta matéria.
Na conversa vazada pelo à imprensa em pelo menos 13 mensagem de áudio pelo aplicativo Whatsapp, Bolsonaro ainda diz que a Globo é sua “inimiga”, que foi quem mais o “ferrou” na campanha eleitoral, defendeu seu filho e afirma que Bebianno “manda” no site Antagonista, que é apoiador do governo.
Os áudios foram vazados para a imprensa na tarde desta terça-feira (19), e foram trocados entre o presidente e o ex-ministro por meio do aplicativo WhatsApp no dia 12 de fevereiro, um dia antes de Bolsonaro receber alta médica, por conta da cirurgua a que se submeteu para a retirada da bolsa de colostomia que portava desde o atentado a faca sofrido durante a campanha eleitoral.
As conversas desmentem, por si só, o que foi defendido pelo filho Carlos, e que gerou o conflito conflito entre o presidente e a família contra o ministro, que acabou demitido oficialmente na segunda-feira (18). Enquanto o governo estava lidando com a crise desencadeada pelas denúncias de candidaturas laranjas para o desvio do fundo partidário público ao PSL, nas eleições 2018, Bebianno foi apontado como o responsável por tais ilícitos.
A fala partiu do presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, ao ser questionado pela Folha de S.Paulo sobre as denúncias de candidaturas laranjas. O advogado particular de Bivar e seu aliado, o político Antonio de Rueda, é quem comanda o PSL em Pernambuco, um dos estados nos quais houve a denúncia pelo jornal de criar candidaturas laranjas com o desvio de R$ 400 mil.
Bivar havia dito, no início do mês, que a última palavra sobre os repasses do fundo partidário do PSL às candidaturas é de Bebianno, que foi presidente nacional do partido no ano passado. A Bebianno foi pedido um posicionamento, e ele disse que havia conversado três vezes na semana passada com Bolsonaro.
Tentando isolar a responsabilidade das graves acusações de desvio de recursos de campanha, o filho de Bolsonaro, Carlos, criticou Bebianno, chamando-o de “mentiroso” e que não havia conversado com o seu pai. Os áudios comprovam que houve a conversa.
Mas em áudios após o episódio da crítica do vereador, Bolsonaro saiu em defesa de seu filho: “Você não falou comigo nenhuma vez no dia de ontem. Ele [Carlos] esteve comigo 24 horas por dia. Então não está mentindo, nada, nem está perseguindo ninguém”, disse o mandatário em outra conversa.
Bebianno então respondeu que “troca de mensagens era conversa” e alertou para o ato de Carlos: “Isso está errado. Por que esse ódio? Qual a relevância disso? Vir a público me chamar de mentiroso?”, questionou.
Sobre o caso específico das candidaturas laranjas, Bolsonaro disse que não queria ser responsabilizado pelas denúncias: “Querer empurrar essa batata quente desse dinheiro lá pra candidata em Pernambuco pro meu colo, aí não vai dar certo. Aí é desonestidade e falta de caráter. Agora, todas as notas pregadas nesse sentido foram nesse sentido exatamente (sic), então a Polícia Federal vai entrar no circuito, já entrou no circuito, pra apurar a verdade. Tudo bem, vamos ver daí…”.
O ex-ministro também se disse inocente no caso: “A prestação de contas que me competia foi aprovada com louvor. Agora, cada estado fez a sua chapa. Em nenhum partido, capitão, a nacional é responsável pelas chapas estaduais. O senhor sabe disso melhor do que eu”.
E responsabilizou Luciano Bivar e a candidata apontada pela denúncia da Folha: “No caso de Pernambuco, pelo Bivar, logicamente. Se o Bivar escolheu candidata laranja, é um problema dele, político. E é um problema legal dela explicar o que ela fez com o dinheiro. Da minha parte, eu só repassei o dinheiro que me foi solicitado por escrito”.
“E tomara que a polícia chegue mesmo à constatação do que foi feito, mas eu não tenho nada a ver com isso. O Luciano Bivar que é responsável lá pela chapa dele”, continuou.
Em outros trechos dos áudios, Bolsonaro acusou Bebianno de “mandar” no site Antagonista. O presidente não gostou do trecho que saiu no portal em que Bebianno dizia que Bolsonaro não havia atendido sua chamada durante a crise das candidaturas laranjas.
Mas sem negar que ele sim mantinha uma grande influência no conteúdo do site Antagonista, Bebianno apenas explicou que a nota mencionada havia saído primeiro na Folha de S.Paulo. “Quem mencionou isso não foi o Antagonista, foi a Folha”, disse.
Ainda sobre a imprensa, no primeiro áudio, Bolsonaro chama a Globo de “inimiga” e diz que queria cancelar uma audiência marcada por Bebianno com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo.
“Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto: eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se (sic) aproximando da Globo. Então não dá para ter esse tipo de relacionamento”, disse Bolsonaro. “Inimigo passivo sim, mas trazer o inimigo pra dentro de casa é outra história”, acrescentou.
Com reportagem de Jornal GGN