Augusto Nardes pede licença após o seu áudio golpista ser repelido e condenado

Ministro do TCU afirma, em áudio gravado e vazado, que “está acontecendo um movimento muito forte nas casernas”. Há pressão para que o ministro seja punido por fazer pregação contra a democracia e o Estado de Direito

O ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), pediu licença por cinco dias, a partir desta terça-feira (22), informou a assessoria do órgão, após o vazamento de áudio em que ele comentava sobre movimento “muito forte nas casernas” e previa para breve “desenlace bastante forte na Nação”.

Logo após as primeiras reações ao vazamento, foi divulgada nota pela assessoria do ministro afirmando que Nardes repudia manifestações antidemocráticas e lamenta a interpretação do áudio dirigido a grupo de amigos.

“Para que não pairem dúvidas, esclarece que repudia peremptoriamente manifestações de natureza antidemocrática e golpistas, e reitera sua defesa da legalidade e das instituições republicanas”, está escrito na nota do ministro divulgada pela assessoria.

No áudio divulgado pelo jornal Folha de S.Paulo no final de semana, Nardes afirmou que “está acontecendo um movimento muito forte nas casernas”.

Seus colegas de TCU reagiram negativamente ao áudio vazado.

CONTEÚDO DO ÁUDIO

“Eu acho que é questão de horas, dias no máximo, uma semana, duas, talvez menos que isso. O que vai acontecer? Um desenlace bastante forte na Nação”, afirmou o ministro do TCU, que disse ainda que se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro (PL), que foi derrotado no segundo turno das eleições em 30 de outubro.

Apesar da nota divulgada pela assessoria do ministro, houve pressão para medida mais drástica em relação a ele, segundo fonte do tribunal, e Nardes preferiu pedir licença médica.

Essa fonte afirmou ainda que o tribunal vai avaliar eventuais medidas em relação ao ministro.

MANIFESTAÇÕES ANTIDEMOCRÁTICAS

Desde o segundo turno da eleição presidencial, grupos bolsonaristas realizam bloqueios em estradas e se reúnem diante de quartéis das Forças Armadas, pedindo intervenção militar contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito presidencial.

Bolsonaro, em nenhum momento, reconheceu publicamente a derrota na disputa, mas permitiu que o processo de transição de governo fosse iniciado, conforme prevê a legislação. Lula vai tomar posse em 1º de janeiro de 2023.

QUEM É AUGUSTO NARDES

Nardes foi vereador, deputado estadual e federal, e relator responsável pela análise das contas presidenciais da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no processo que indicou as chamadas pedaladas fiscais e serviu de base para o impeachment da chefe do Executivo em 2016.

Filiado ao PP, Nardes foi indicado ao cargo no TCU ainda em 2005, quando era deputado federal. Na época, ele venceu outros três candidatos por votação secreta na Câmara, e conquistou a posição. A vitória dele foi confirmada pelo Senado Federal e, em setembro do mesmo ano, foi nomeado ao cargo pelo então presidente Lula.

PARECER DE CONVENIÊNCIA

Na ocisão em que relatou as “pedaladas fiscais” que levaram ao impedimento de Dilma, Nardes afirmou que as pedaladas “distorceram a realidade fiscal” e que a responsabilidade de Dilma era “direta”.

Na mesma época, peritos do Senado que avaliaram as manobras fiscais a pedido da Comissão Especial do Impeachment, indicaram, porém, que não houve interferência da presidente.

O ministro do TCU foi alvo de inquérito sobre o pagamento de propina a integrantes do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), vinculado ao Ministério da Fazenda.

Em 2019, esse inquérito foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Anteriormente, o procurador-geral da República, Augusto Aras, já havia se posicionado pelo arquivamento.

OPERAÇÃO LAVA JATO

O nome de Nardes também foi citado em delação premiada da Operação Lava Jato. Em 2018, o ex-subsecretário de Transporte do Rio, Luiz Carlos Velloso, afirmou que o ministro girou R$ 1,2 milhão na corretora Advalor, alvo da investigação.

O irmão do ex-subsecretário, Juscelino Gil Velloso, também delator, contou que pagou “mensalidade escolar” a Nardes e revelou entrega de dinheiro em Brasília.

Nardes é apoiador do ainda presidente Jair Bolsonaro e, nos quatro anos de governo, teve acesso livre ao chefe do Executivo.

Hora do Povo

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