Bahia joga com camiseta manchada de óleo e povo se mobiliza para limpar praias

Em protesto contra a inépcia do governo de Jair de Bolsonaro (PSL), que há quase dois meses nada fez para resolver o problema, os jogadores do Bahia entram em campo nesta segunda-feira (21) para enfrentar o Ceará, em Pituaçu (BA), com uma camiseta reproduzindo as manchas de óleo que tomam conta das praias de litoral do Nordeste.

A ação foi anunciada nas redes sociais do clube por meio de um manifesto que cobra medidas de redução do impacto ambiental e pede a punição dos responsáveis pela tragédia ambiental que já afeta o turismo regional.

“Quem derramou esse óleo? Quem será punido por tamanha irresponsabilidade? Será que esse assunto vai ficar esquecido?“, questiona o clube no manifesto.

Como nas queimadas na Amazônia que chamou a atenção do mundo, Jair Bolsonaro (PSL) tirou a responsabilidade das costas do governo, acusou a Venezuela, e falou em “crime premeditado” como forma de distrair a atenção dos brasileiros, enquanto nada fez para uma investigação concreta e efetiva e impedir que o óleo se alastrasse pelas praias nordestinas.

Inconformados com a paralisia do governo, apesar de não terem equipamentos adequados e equipes insuficientes, os nordestinos foram á luta. Em pequenos, grupos tiraram o óleo das praias com as próprias mãos e encheram as redes sociais de vídeos mostrando o trabalho voluntário. Em pouco tempo, as redes foram tomadas por imagens e vídeos da tragédia e o número de muitos voluntários retirando resíduo de óleo nas praias de Recife, Bahia e Sergipe aumentou consideravelmente.

Artistas contra óleo no mar

A ação da população e a amplitude do crime ambiental no mar chamaram atenção de artistas como a cantora Ivete Sangalo, as atrizes Letícia Sabatella e Sônia Braga, a apresentadora Bela Gil e produtora Paula Lavigne.

Bela Gil, que é baiana, elogia o Nordeste pela reação. “Me admira e me orgulha o povo nordestino, ao mesmo tempo que me machuca e me envergonha o governo federal!!! Sem ajuda do governo, a população vai às praias limpar o piche com as próprias mãos” postou.

Já a atriz Sônia Braga postou um vídeo bastante compartilhado nas redes de uma tartaruga imobilizada pelo óleo sendo resgatada na praia de Maragogi, em Alagoas. “Revoltante”, disse.

A produtora Paula Lavigne pediu providência do governo federal. “Não é apenas muito grave, mas urgente. E que identifiquem a origem e os culpados por esse crime ambiental”, afirmou.

“Lamentável o volume de óleo chegando as nossas praias”, postou Ivete Sangalo. “É preciso uma tomada de atitude urgente dos órgãos responsáveis”, cobrou a cantora.

Cadê o governo?

A população não pode fazer tudo, como alertaram os artistas em suas postagens. E com a falta de ação do governo federal, o óleo chegou à Praia de Suape, no Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana de Recife, e em 17 praias de Salvador e cidades do litoral norte baiano.

Cobrado, o governo diz que os dois comitês e comissões do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água (PNC), que Bolsonaro extinguiu em abril, estão funcionando. Não é o que se vê nas praias contaminadas.

De acordo com o último boletim do Ibama divulgado neste domingo (20), a mancha atingiu 194 pontos do Nordeste. Segundo a Marinha, já foram retiradas 525 toneladas de óleo desde o início de setembro. A maioria por causa da mobilização espontânea de pescadores e voluntários.

É para este descaso de Brasília que o time mais engajado politicamente e mais antirracista do futebol brasileiro, o Bahia quer chamar a atenção entrando em campo com a camiseta manchada de óleo.

“O que faz um ser humano atacar e destruir espaços sagrados? O lucro a qualquer custo pode ser capaz de destruir a ética e as leis que regem e viabilizam a humanidade? ”, questionou o clube no manifesto.

No último dia 12, o Bahia foi um dos assuntos mais comentados nas redes sociais após o discurso histórico do treinador Roger Machado sobre racismo na sociedade e dentro do futebol.

O time vem ganhando popularidade nos últimos tempos ao abordar temas necessários como inclusão social, preconceito e diversidade. Além disso, o tricolor é pioneiro nas ações afirmativas, já reverenciou Marielle Franco e Moa do Katendê (morto por eleitor de Bolsonaro após uma discussão política durante as eleições de 2018), incentiva mulheres no futebol, combate o machismo, a intolerância religiosa e defende a causa LGBT.

Conhecido como o Bahia de todas as cores, classes, crenças e gêneros, o tricolor também homenageia no mês de novembro em suas camisas personalidades que fizeram história no movimento negro como Zumbi dos Palmares, Dandara, Milton Santos, Luiza Bairros, Luiz Gama, entre outros.

CUT

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