Beija-Flor vence Carnaval do Rio e Tuiuti é vice
Com desfile sobre a corrupção, escola de samba obteve sua 14º vitória. Tuiuti teve melhor resultado de sua história
A política não apenas voltou com força à Sapucaí neste ano, mas foi a principal premiada desta edição. Com um desfile focado na crítica à corrupção e nos ataques a minorias, a Beija-Flor de Nilópolis foi a vencedora do Caranaval do Rio de Janeiro de 2018. É a 14º vitória da agremiação.
A Paraíso do Tuiuti ficou em segundo lugar ao levar para o Sambódromo o tema da escravidão, da exploração dos trabalhadores e de críticas ao governo de Michel Temer. Trata-de da melhor colocação da Tuiuti em sua história. Na quadra da escola, em São Cristovão, os integrantes fizeram uma enorme festa.
Neguinho da Beija-Flor, puxador da escola de Nilópolis, comemou o resultado e enalteceu o desfile da concorrente Tuiuti. “É a vitória do grito do povo, Beija-Flor e Tuiuti”, afirmou à Rede Globo após o fim da apuração.
A partir do samba-enredo “Monstro é aquele que não sabe amar. Os Filhos Abandonados da Pátria que os Pariu”, a Beija-Flor trouxe alegorias que remontam à história do doutor Frankenstein, escrita há 200 anos, e a relação entre o criador e sua criatura. O monstro de Frankenstein, no caso, é o próprio Brasil.
As 36 alas buscaram refletir as desigualdades sociais, a falta de respeito e amor com o que é diferente. A ala “Imposto dos Infernos”, por exemplo, trouxe a crítica à taxa cobrada desde o ciclo do ouro e relembrou o Brasil como o país que tem maior carga tributária. Já a ala “Corte da Mamata – Quadrilha no poder” trouxe os passistas como ratos e abutres para mostrar os interesses dos líderes políticos. A corrupção também foi destaque na avenida, satirizada com colarinhos brancos e caixas de pizza.
A escola “ergueu” o Congresso e o prédio-sede da Petrobras em um de seus carros alegóricos na madrugada desta terça-feira 13. Tomado pela criminalidade, o edifício da estatal transforma-se aos poucos em uma favela. O saque à Petrobras é acompanhado de perto por corruptos com panos na cabeça, uma clara alusão à “farra dos guardanapos” do ex-governador Sérgio Cabral, hoje preso, e de seus ex-secretários com o empreiteiro Fernando Cavendish.
O desfile da Tuiuti focou na escravidão como a raiz principal dos problemas do País. Chamada “Grito de Liberdade”, a comissão de frente trouxe negros escravizados que libertam-se por meio da força dos seus ancestrais. Em seguida, o desfile trouxe temas da história geral e brasileira do cativeiro, até relacionar a perda de direitos trabalhistas na atualidade com a herança escravista de superexploração do trabalho no Brasil.
A escola retratou ainda manifestantes de verde e amarelo em trajes de pato e manipulados por um vampiro presidente inspirado em Michel Temer. Enalteceu ainda os “guerreiros da CLT”, representados nas fantasias como uma espécie de deus Shiva dos trabalhadores, munido de martelo, foice e outros instrumentos em seus quatro braços. Os integrantes da ala carregavam ainda uma enorme carteira de trabalho avariada, uma crítica à reforma trabalhista aprovada no ano passado.