Bolsonarismo vai viver grandes dilemas e se enfraquecer
Para o dirigente do PCdoB, campo democrático e progressista é “mais forte” do que o bolsonarismo – tanto politicamente quanto socialmente
por André Cintra
O ato promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo (25), em São Paulo, “não muda a conjuntura”. Mais do que isso, o bolsonarismo “vai viver grandes dilemas” e “se enfraquecer politicamente”. A opinião é de Walter Sorrentino, vice-presidente nacional do PCdoB.
Em entrevista ao Vermelho, o dirigente diz que o campo democrático e progressista é “mais forte” do que o bolsonarismo – tanto politicamente quanto socialmente. Essa vantagem, porém, deve ser traduzida numa base maior de apoio ao governo Lula, na condenação dos golpistas e em vitórias importantes nas eleições municipais de 2024.
Confira a entrevista.
Vermelho: Bolsonaro conseguiu melhorar sua situação com o ato de domingo?
Walter Sorrentino: O ato na Avenida Paulista não muda a conjuntura, a correlação de forças políticas e sociais. Deixa mais evidente a resiliente polarização social e política e os blocos em confronto: democracia x golpistas.
Bolsonaro nem afirmou inocência. Quem clama por anistia ou “passar borracha” sabe que cometeu crime. Criminoso precisa ser penalizado pelos devidos processos penais. Aliás, nem compaixão demonstrou com os “pobres coitados” golpistas do 8 de Janeiro hoje na prisão, o mesmo com as centenas de milhares de mortos pela Covid-19. Decididamente, do ponto de vista moral, Bolsonaro não tem paralelo com Lula.
Vermelho: O que o ex-presidente almeja ao pressionar governadores e prefeitos para o palanque?
WS: Demonstrando força, Bolsonaro pretendeu usá-la para liderar a oposição a Lula, aglutinar em torno de si a direita, além dos extremistas. Ofereceu o nome de Tarcísio para 2026, mas é duvidoso que isso seja útil ao governador. Faltou combinar com os aliados – PSD, Republicanos e MDB principalmente.
Vermelho: O que restará, então, do bolsonarismo?
WS: O fato é que o bolsonarismo sem Bolsonaro candidato vai viver grandes dilemas. O ex-presidente já está inelegível por oito anos – um prazo que pode aumentar com novas penas. Ele pode até ser preso. O bolsonarismo vai se enfraquecer politicamente com condenações de seus seguidores.
Vermelho: Mas a direita tem alternativas hoje ao bolsonarismo?
WS: Boa parte do jogo vai voltar aos canais da política. Na política, não se pode ser leniente com o golpismo, embora sempre haja os que queiram flertar com ele e com os ataques ao STF. A direita conservadora brasileira, se quiser disputar os rumos do País, faria melhor isolando as forças golpistas no Congresso do que sonhando em “domar” o bolsonarismo – levar seus bônus sem ônus.
Vermelho: Como o campo democrático e progressista pode avançar nesse cenário?
WS: Na política, o campo é mais favorável para atrair força de sustentação ao governo no Congresso. O que pode mudar a conjuntura é manter a contraofensiva democrática ampla – “Golpe Nunca Mais!” –, apoiando os esforços judiciais pela condenação dos golpistas e mandantes e a mobilização da sociedade civil e organizações populares. Nas eleições de outubro, o objetivo é a derrota dos candidatos bolsonaristas com ampla união de forças onde for possível.
Vermelho: Como enfraquecer o bolsonarismo?
WS: O campo democrático já é mais forte que o bolsonarismo politicamente e também socialmente – as pesquisas dão uma maioria contra o golpismo. A chave é esta: manter a ofensiva do campo democrático; apoiar os esforços do STF (Supremo Tribunal Federal) e outros órgãos na apuração dos crimes contra o Estado Democrático de Direito; e manter a coalizão política no governo Lula azeitada, produzindo resultados econômicos e sociais significativos na vida da população.