Bolsonaro ataca a educação e quem a valoriza
O presidente Jair Bolsonaro avança na política de militarização do ensino e criticou os governos nordestinos que valorizam os professores e investem em educação. Para o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, o Governo Federal desestimula o trabalho do magistério e o ensino público.
Na inauguração da pedra fundamental do Colégio Militar de São Paulo, dia 3, Bolsonaro criticou governadores do Nordeste que não aderiram ao seu programa de militarização do ensino. “Para eles, a educação vai indo muito bem, formando militantes e desinformando, lamentavelmente”, afirmou. O ex-presidente da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados, Danilo Cabral (PSB-PE), contestou: “Bolsonaro mostra mais uma vez o seu total desconhecimento da educação pública no Brasil. Pernambuco tem a melhor política de ensino médio do país. O Maranhão tem a melhor política de remuneração dos profissionais da educação básica. Ao invés de aproveitar as experiências exitosas da educação no Nordeste, o Governo segue o caminho equivocado com acusações miúdas, rasteiras, como tem feito em todas as questões relacionadas à educação brasileira”.
Cortes e ódio
O Governo Federal promoveu o corte de 30% do orçamento para universidades federais, corte de pesquisa, corte de bolsa, proibição de professores participarem de eventos fora do país e seu ministro da Educação se mostra um verdadeiro inimigo do ensino público. “O professor está sendo demonizado, tratado como vilão, como o que doutrina, o que manipula. O obscurantismo e o moralismo acabam inibindo os profissionais a tocar em temas sensíveis e importantes para os alunos. No país, 14% dos professores dizem ter se arrependido da escolha da profissão”, denuncia Gilson Reis. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), considerou que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, representa a “bandeira do ódio”.
No mesmo dia em que Bolsonaro atacava os governos nordestinos, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), anunciou o aumento para R$ 6.358,96 do piso salarial para professores que trabalham 40 horas semanais nas escolas do Estado (o piso nacional é de R$ 2.886,24) e afirmou: “Aqui no Maranhão não ‘inauguramos’ pedra fundamental de escola. Aqui a gente inaugura escola. Pronta”. Seu governo expandiu o ensino integral a 74 escolas (25 a mais que no ano passado) e criou a primeira Escola Bilíngue estadual, com educação infantil. “A decisão de fixar o piso dos professores 40h em R$ 6.358 tem um efeito positivo no conjunto da nossa economia. Ajudamos o setor de comércio e serviços a gerar empregos. Maranhão teve saldo positivo de empregos por três anos consecutivos. Estamos trabalhando para 2020 ser melhor”, justificou o governador.
Carreira desvalorizada
Levantamento do Instituto Ayrton Senna, do fim de 2019, apontou que, nos próximos cinco anos, o Brasil formará cerca de 1,5 milhão de professores. O balanço também mostrou que a nota de corte para cursos de licenciatura no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) costuma ser menor do que a média de todas as graduações. No Distrito Federal, entre 2014 e 2018, a pontuação mínima para as graduações em licenciatura foi, em média, 644,6, enquanto para o conjunto de cursos foi 685,7. No Pará, estado que teve a maior diferença, a nota de corte para licenciatura, no mesmo período, foi 649,3, enquanto a média das outras graduações foi de 661,1 pontos.
“O problema das notas de corte inferiores à média ocorre por causa da desvalorização da carreira docente, seja no serviço público, seja no privado. Após o golpe que destituiu Dilma Rousseff da Presidência da República, Temer e Bolsonaro investiram contra os direitos laborais e as aposentadorias, agravando ainda mais a situação dos que trabalham no ensino. O contrato temporário e a terceirização estão sendo utilizados como forma de rebaixar direitos, retirar conquistas e prejudicar ainda mais os profissionais da área. A desvalorização da carreira, as condições precárias de trabalho e os salários baixos são fatores para que a profissão não seja atrativa”, acusa Gilson.
Carlos Pompe