Bolsonaro insiste em negacionismo que fez disparar mortes entre apoiadores

Presidente volta a insinuar guerra biológica provocada pela China, cobrar tratamento precoce, e atacar máscara e distanciamento social, dias após pesquisa mostrar que mortes por covid foram até 7 vezes maior onde ele venceu a eleição

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro voltou a disparar seu arsenal negacionista em discurso realizado no Palácio do Planalto por conta da Abertura da Semana das Comunicações, nesta quarta-feira (5). Novamente insinuou que a pandemia da covid-19 é resultado de guerra biológica protagonizada pela China, insistiu raivosamente no tratamento precoce, atacou a máscara e o distanciamento social e fez pouco caso do risco de aglomerações. A fala vem poucos dias após a publicação de pesquisa científica revelando que o índice de morte pela doença nos municípios onde ele venceu a eleição no segundo turno foi até sete vezes maior.

“É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”, afirmou. Apesar de não citar, ficou clara a referência já que só a China e Taiwan conseguiram aumentar o PIB em meio à pandemia. Ela em 2% e ele em 3,1%, de acordo com a agência Austin Rating em estudo divulgado no começo de março.

Citando sugestões de que seria chamado à CPI da Covid por defender o chamado tratamento precoce, disparou: “Canalha é aquele que é contra o tratamento precoce e não apresenta alternativa. Esse é um canalha. O que eu tomei todo mundo sabe. Ouso dizer que milhões de pessoas fizeram esse tratamento, por que contra? E espero que a experiência de Manaus, com doses cavalares de hidroxicloroquina, seja completamente desnudada pelos senadores”, afirmou, sobre o já amplamente descartado pela comunidade científica internacional tratamento com medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, dentre outros.

Máscara, lockdown e aglomerações

As medidas de distanciamento social também foram alvo da verborragia de Bolsonaro, bem como o uso da máscara. “Nas ruas, já se começa pedindo que o governo baixe um decreto (contra o lockdown)”, disse. “E esse decreto que eu baixar, repito: será cumprido, juntamente com nosso Parlamento, juntamente com nosso poder de força, juntamente com nossos 23 ministros.” Sobre a máscara, apontou as armas para a imprensa: “A imprensa escreve: ‘O presidente estava sem máscara’. Já encheu o saco isso”.

Para completar o cardápio do discurso negacionista, usou o populismo para fazer pouco caso das aglomerações que sistematicamente promove. “Tenho que dar exemplo, estar no meio do povo. Não posso sem ouvir o povo tomar conhecimento do que eles querem. Vou continuar andando em comunidades de Brasília”.

Arauto da morte

O rol completo de discurso negacionista novamente difundido por Bolsonaro foi diretamente ligado à morte de seguidores do presidente. É o que aponta o estudo científico The Disastrous Effects of Leaders in Denial: Evidence from the COVID-19 Crisis in Brazil, ou Os Desastrosos Efeitos de Líderes Negacionistas: Evidência da Crise de Covid-19 no Brasil em tradução livre. A pesquisa é assinada pelos professores Sandro Cabral, do Instituto Insper e da Universidade Federal da Bahia; Nobuiuki Ito, do Ibmec do Rio de Janeiro; e Leandro Pongeluppe, da Universidade de Toronto, no Canadá.

De acordo com o O Estado de S.Paulo, os municípios onde Bolsonaro venceu o segundo turno com mais de 50% dos votos registraram índice 415% maior de mortes e 299% maior de infecção do que nos onde ele perdeu. Nas cidades em que ele ganhou por margem acima de 70%, o risco de falecimento mostrou-se 647% e o de infecção 567% mais alto do que numa cidade onde ele teve menos de 30% dos votos. Em outras palavras, o risco de morte é sete vezes maior onde Bolsonaro ganhou com ampla vantagem.

Metralhando o pé

O ataque desta quarta de Bolsonaro à China, país que garante praticamente toda a vacinação atualmente em curso no país, não é o primeiro dele nem de um integrante do governo ao país asiático. Duas semanas antes, no final de abril, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou durante reunião do Conselho de Saúde Suplementar que o “o chinês inventou o vírus”. Como se não bastasse, acrescentou que a vacina produzida por eles é menos eficiente do que a desenvolvida por laboratórios dos Estados Unidos.

Atualmente, pelo menos nove de cada dez imunizantes aplicados por aqui são o CoronaVac, produzidos pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Butantan. Além disso, os insumos utilizados pela Oxford/AstraZeneca, a outra vacina usada no país, também tem origem chinesa. Como se não fosse suficiente para evitar confusão com os orientais, eles ainda são, há mais de uma década, o principal parceiro comercial do Brasil. Compram especialmente soja, minério de ferro e petróleo. No ano passado, por exemplo, sete em cada 10 dos principais produtos de exportação tiveram como destino aquele país.

Rede Brasil Atual

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