Bolsonaro torra R$ 442 bi com juros e investimento público desaba, afirma Oreiro

“Trata-se de um aumento em um ano de mais de R$ 100 bilhões. É isto que custou a política do Banco Central de elevação da taxa de juros, que até o presente momento teve efeito zero sobre a taxa de inflação”, afirmou o professor do Departamento de Economia da UnB

Enquanto a desigualdade social no Brasil se agrava diante de uma economia recessiva, com elevada taxa de desemprego e inflação acima dos dois dígitos, o governo Bolsonaro desviou da sociedade para os bancos – sob a forma de pagamento de juros – R$ 422,5 bilhões (4,78% do PIB) no acumulado em doze meses até fevereiro, segundo dados do Banco Central (BC), divulgados nesta segunda-feira (2). Nos doze meses até fevereiro de 2021, foram transferidos R$ 316,5 bilhões para os bancos e rentistas (4,18%).

O economista José Luis Oreiro destaca que “trata-se de um aumento em um ano de mais de R$ 100 bilhões”. “É isto que custou a política do Banco Central de elevação da taxa de juros, que até o presente momento teve efeito zero sobre a taxa de inflação”, afirmou o professor do Departamento de Economia da UnB, em entrevista ao HP.

“A taxa de inflação não só continua alta como ela continua acelerando”, ressaltou Oreiro. “Na prévia da inflação (IPCA-15) do mês de abril a inflação está acima de 12%. Então, essa política ineficaz do Banco Central custou aos cofres públicos mais de R$ 100 bilhões. Dinheiro esse que poderia ser aplicado em aumento do investimento público, que certamente geraria na redução de inflação pelo lado dos custos porque aumentaria a produtividade da economia brasileira, geraria empregos, geraria renda e, portanto, reduziria a miséria – que é latente a olhos nus – existente no Brasil. E, também, você poderia fazer mais programas de assistência social para ajudar aos milhões de miseráveis que surgiram durante o governo Bolsonaro”, considerou.

“Mas essa é a escolha, trata-se de uma questão de economia política. Você tinha R$ 100 bilhões para gastar. Você poderia ter gastado com investimento e/ou com políticas de assistência social, ou você poderia gastar dando dinheiro para os rentistas. O governo Bolsonaro optou por dar dinheiro aos rentistas. Por isto que os ricos no Brasil estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Essa é a realidade do governo Bolsonaro”, avaliou o economista.

Nesta semana, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deve elevar a taxa básica de juros (Selic) em mais 1 ponto percentual – passando a taxa de 11,75% a.a para 12,75% a.a, – conforme já indicado na última reunião do colegiado.

Desde março de 2021, o BC realizou seis aumentos seguidos na Selic, com o pretexto de combater uma inflação que é provocada, principalmente, por fatores externos – ou seja, em que o BC nada pode fazer. Nesse período, a inflação em 12 meses no Brasil passou de 6,1% para 11,3% – o que demonstra a ineficácia desta política de juros altos para conter a alta dos preços.

De acordo com o relatório de Estatísticas fiscais do BC, só no mês de fevereiro deste ano já foram desviados para o pagamento de juros (considerando os governos central, estatais e governos regionais) R$ 26 bilhões.

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