Brasil fica mais pobre com Bolsonaro
Renda do trabalho desaba e PIB per capita cai
Jair Bolsonaro empobreceu o Brasil. Às vésperas do fim de seu mandato, um balanço da situação econômica do país não deixa dúvidas de que, apesar da pandemia, foram as escolhas de reduzir o investimento público, manter o arrocho fiscal e a inflação descontrolada as responsáveis pela atual crise social.
O retrato de um país mais pobre se expressa na redução drástica do PIB (Produto Interno Bruto) per capita, que divide a riqueza produzida pela economia pelo número de habitantes. Comparado a 2018, este valor foi reduzido de US$ 9.151,40 (ou R$ 49 mil) para US$ 7.500 (ou R$ 41 mil). Se comparada ao PIB per capita de 2011, o resultado é cerca de R$ 31 mil a menos por habitante.
Aproximando isso à realidade dos brasileiros – que se desdobram para viver em uma situação de inflação de dois dígitos que não é acompanhada pelos reajustes salariais – a renda média da população também é expressão do empobrecimento. O rendimento médio do trabalhador caiu de R$ 2.823 no início de 2019 para R$ 2.613 no trimestre de março a maio deste ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Além da redução das rendas, ainda há a pressão da carestia sobre elas, ou seja, as rendas foram reduzidas e o que sobrou compra cada vez menos.
“Houve negligência em relação à situação social do país ainda antes da Covid”, afirmou a economista Débora Freire, professora do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) para reportagem da Folha de São Paulo deste domingo (17).
“Crises econômicas acontecem, trazem impactos negativos, mas faz muita diferença a forma como se lidam com elas. O governo agora usa esses eventos como desculpa, mas a verdade é que era seu dever fazer políticas públicas mais eficientes”.
O resultado evidente foi o aumento exponencial da pobreza. De acordo com um levantamento realizado pela Rede Penssan, são mais de 33 milhões passando fome no Brasil de 2022 – em 2018 eram 10,3 milhões nessa situação – e 58,7% da população convivendo com a insegurança alimentar em algum nível. São mais de 125 milhões de brasileiros que não têm comida garantida todo dia.
Enquanto isso, o programa Bolsa Família sofreu a maior queda da história, recuando de 14 milhões para 13 milhões de famílias em 2018. A fila de espera, segundo levantamento da Confederação Nacional dos Municípios, 2,7 milhões estão na fila de espera. A manobra eleitoreira de criar o Auxílio Brasil para substituir o Bolsa Família não resolveu o problema – milhões ainda esperam na fila serem contemplados pelo programa enquanto imagens de famílias revirando lixo estampam os jornais.
“Eu atribuo os problemas de hoje ao modelo de política econômica, que não prevê estímulos para a recuperação e deixou de lado a área social. Antes da Covid, o Bolsa Família tinha filas enormes. Famílias que empobreceram na crise, já elegíveis para o programa, não estavam sendo atendidas. Isso não poderia ter acontecido, porque uma vez que uma família cai na extrema pobreza ela pode levar gerações para se recuperar”, completa Débora Freire.