Carnaval: Construção popular e obra coletiva de resistência
Nesta semana, o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, que também é vereador em Belo Horizonte, divulgou um artigo de sua autoria denunciando como o carnaval na capital mineira, como construção popular e “obra coletiva de resistência ativa de parcelas da população que rejeitam uma visão de cidade propalada pelas elites locais”, está ameaçado pelo Poder Público. “O carnaval de Belo Horizonte ganhou raízes e vida própria. Nesses anos de retomada, a cidade se transformou na referência nacional de carnaval popular, da cultura urbana e de resistência ativa pela via da cultura. Ao mesmo tempo em que se transformou em referência cultural, a cidade agora coloca a arte urbana e carnavalesca na cena de resistência contra o avanço do golpe de Estado no país e na luta contra o regime neofascista, dominados pelas milícias, pelos fundamentalistas e ultraliberais de plantão”, escreveu Gilson, acrescentando ser “do conhecimento da cidade que setores da sociedade tentam solapar e inviabilizar o carnaval de Belo Horizonte cotidianamente”.
“Aliados aos neopentecostais, setores conservadores unem o carnaval à luta política e ideológica, buscando esmagar toda e qualquer possibilidade da sociedade produzir e reproduzir cultura e arte como arma ao enfrentamento à onda neofascista em curso. O mais perigoso disso tudo surgiu agora nos últimos dias com a posição da Polícia Militar de intervir e inviabilizar o desfile de vários blocos pela cidade, com o argumento de não estarem com licenças de veículos devidamente regularizadas e por transportarem pessoas de forma indevida em cima dos trios elétricos.”
Foi justamente a ameaça em BH que trouxe à discussão algo crucial: que a diversão e a alegria que tomam conta do carnaval não substituem a luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Pelo contrário, se somam a ela, mostrando que a irreverência também pode ser um importante instrumento de mobilização. Uma das notícias anunciadas ontem (20) na capital de Minas Gerais é a de que os blocos que não conseguiram regularizar carros de som para desfilar no carnaval belo-horizontino poderão usar trios elétricos Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UT), que representa professores e técnicos administrativos da rede estadual de educação, para realizar os cortejos. Festa popular, resistência também.
Não é só em Belo Horizonte que folia e luta se combinam. Em Sorocaba, interior de São Paulo, no último dia 14, o Sinpro-Sorocaba realizou seu Primeiro Grito da Resistência, um grito de carnaval — acompanhado de música, cerveja e espetinhos a preços populares — misturado com disposição para o fortalecimento da organização e da atuação coletivas. Em Juiz de Fora, interior de Minas, a professora Cristina Castro, integrante da Diretoria Plena da Contee, é uma das organizadoras do bloco Tô no Vermelho, que fez seu desfile no último dia 17, falando, em seu samba-enredo, da chuva que molha a cidade e o morro. Isso sem falar nas entidades que farão seus clubes e sedes campestres funcionarem com horário especial nos dias de Momo, caso do Sinpro Goiás, para que os trabalhadores e trabalhadoras possam tomar o fôlego merecido para as batalhas que estão por vir, a começar pela greve da educação e pelas diversas mobilizações do dia 18 de março.
Por Táscia Souza