Celso Napolitano: uma trajetória construída na base, firmada na unidade e projetada para a luta nacional
Militante sindical desde o final do século passado, Celso Napolitano carrega consigo não apenas décadas de atuação, mas também uma coerência histórica sedimentada na luta pela organização democrática dos trabalhadores e trabalhadoras da educação privada. Sua chegada à Secretaria de Finanças da Contee, na nova gestão eleita no último congresso da Confederação, ocorrido em julho deste ano, é resultado direto dessa caminhada, iniciada no Sindicato dos Professores de São Paulo e alicerçada na construção coletiva de estruturas sindicais independentes, participativas e combativas.
Foi a partir da reorganização do Sindicato dos Professores de São Paulo, resgatado por seu grupo político de um comando “que não era muito compatível com os interesses da categoria”, que Napolitano ajudou a lançar as sementes do que viria a ser, anos depois, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee). Um dos primeiros passos foi a realização do Enite, o Encontro Interestadual de Trabalhadores em Educação, espaço de articulação de lideranças de diversos estados que desejavam romper com o modelo confederativo então vigente, representado pela CNTEEC.
“Queríamos discutir a criação de uma estrutura nacional que representasse efetivamente os professores e os técnicos administrativos dos estabelecimentos privados de ensino”, explica. Vieram, então, o segundo Enite, em Brasília, e o terceiro, já em clima de fundação, na Praia Grande (SP). O congresso inaugural da Contee aconteceu no Espírito Santo. “Posso dizer com orgulho que fomos os embriões da criação da Contee. Estou pessoalmente ligado à história da Confederação desde sua origem.”
Além da Contee, Celso foi protagonista também na criação da Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), fundada como uma alternativa à antiga federação da categoria, a FETEESP. “Não queríamos uma federação que dependesse do Ministério do Trabalho ou da estrutura vertical da CLT. Queríamos algo que efetivamente representasse a vontade dos trabalhadores.”
Hoje, a Fepesp reúne 26 sindicatos e se organiza com base no princípio da integração, e não da filiação. “É uma concepção política. Integração significa que os sindicatos têm responsabilidade sobre os rumos da federação. Nada é decidido por voto, e sim por consenso. Essa cultura queremos levar para a Contee.”
Professor de carreira, Celso começou no ensino básico, passou pelo ensino médio e atuou por mais de 30 anos no ensino superior, com destaque para sua trajetória na Fundação Getulio Vargas. Aposentado da FGV, continua em atividade como docente em cursos de pós-graduação.
Atualmente, acumula a presidência da Fepesp e do Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro-SP), além de ter assumido, em 2025, pela primeira vez, um cargo na direção executiva da Contee: a Coordenação da Secretaria de Finanças. “Estou muito feliz com os rumos que estamos construindo nesta nova diretoria da Confederação. Vamos trabalhar por uma gestão coletiva e estratégica, ao lado do companheiro Railton Nascimento e dos diretores e diretoras das secretarias.”
Uma gestão baseada na integração e no consenso
Na bagagem que leva para a Contee, Celso Napolitano traz a experiência bem-sucedida de uma gestão sindical baseada na integração entre entidades, no consenso como método decisório e na unidade como princípio político. “A minha pretensão pessoal é trazer para a Confederação a experiência que tivemos em São Paulo com a Fepesp, onde todos os sindicatos integram a federação — e não apenas se filiam formalmente”, explica.
Essa concepção, que tem base estatutária na Fepesp, sustenta uma prática sindical voltada à construção coletiva. “Nada vai a voto. Todas as decisões são tomadas por consenso. Isso exige tempo, mas garante compromisso. Ou as pessoas convencem ou são convencidas”, resume Celso. Para ele, essa lógica fortalece a unidade e impede que haja vencedores e vencidos dentro do movimento sindical — o que é especialmente importante diante dos desafios externos enfrentados pela categoria.
A proposta de levar esse modelo para a Contee não surgiu de forma isolada. Foi construída desde o congresso que elegeu a nova diretoria da Confederação, em diálogo com todas as forças políticas e sindicatos que compõem a chapa eleita. “A ideia é que a Contee passe a deliberar também por consenso, sem disputas internas que desgastam e dividem. A luta já é grande contra os interesses externos, sejam políticos ou econômicos.”
Para Celso, a defesa da soberania nacional, dos direitos trabalhistas e de uma educação democrática deve ser o elemento unificador dessa nova fase da Contee. “Estamos enfrentando grandes grupos corporativos na educação. Precisamos estar unidos, sem fragmentação interna, para defender os interesses dos trabalhadores e trabalhadoras.”
Ele finaliza o raciocínio com entusiasmo: “Encontro no companheiro Railton, nosso coordenador-geral, a mesma disposição em conduzir uma gestão coletiva e propositiva. Estou confiante de que este será um período profícuo para as entidades sindicais filiadas à Contee — e, mais do que isso, para os professores, professoras, técnicos e técnicas administrativos da educação privada brasileira.”
Sustentabilidade financeira em tempos de ataque à representação sindical
A nova gestão da Contee assume num momento crítico para o sindicalismo brasileiro. A perda da contribuição compulsória atingiu em cheio a base de sustentação financeira das entidades representativas, exigindo criatividade, organização e muita mobilização para garantir a sobrevivência e a relevância política dos sindicatos.
“É difícil. Todos os sindicatos estão a par dessa situação. A Contee, como todos os demais, já não conta mais com os recursos compulsórios. Isso faz parte de um ataque articulado por grupos empresariais e parlamentares de direita e extrema direita que querem enfraquecer economicamente os sindicatos — e, com isso, enfraquecê-los politicamente”, denuncia Celso Napolitano.
Segundo ele, o objetivo desses setores é claro: minar a capacidade de representação sindical, esvaziar sua atuação e restringir os direitos dos trabalhadores. “O que querem, sobretudo os que se articulam em torno do senador Rogério Marinho, é curvar os sindicatos, tirar sua força de negociação, impedir que representem condignamente os trabalhadores e trabalhadoras.”
Frente a isso, Napolitano vê como missão central da Secretaria de Finanças, que agora coordena, buscar alternativas sustentáveis e legítimas de financiamento, em parceria com as entidades filiadas. Uma das saídas principais, segundo ele, é a ampliação da sindicalização. “Precisamos convencer o maior número possível de trabalhadores e trabalhadoras a se associarem. A contribuição associativa é voluntária, espontânea e fortalece não apenas financeiramente, mas também politicamente o sindicato.”
Ele também destaca o papel da contribuição assistencial, cuja legalidade foi reafirmada pelo Supremo Tribunal Federal. “A mensalidade associativa é paga todos os meses, mas a contribuição assistencial é cobrada uma vez por ano, vinculada às negociações e aos acordos coletivos. Ela é uma forma legítima de garantir que todos, inclusive os não sindicalizados, contribuam para manter a estrutura que defende seus direitos.”
Napolitano cita a experiência positiva em São Paulo, onde preside um sindicato com mais de 16 mil sócios. “Lá nós discutimos com a categoria: quem não quer se associar, tudo bem, mas que contribua ao menos com a taxa assistencial. E tivemos sucesso. Houve um número pequeno de oposições. A maioria compreendeu que a sustentação do sindicato é essencial para manter a luta por melhores condições de trabalho.”
A ideia agora é levar esse modelo para toda a base da Contee, reforçando a cultura de pertencimento e responsabilidade coletiva. “Precisamos de sindicatos fortes. E sindicatos fortes se sustentam com a contribuição consciente de seus representados.”
O papel da Contee na macropolítica e o fortalecimento da base
Ao assumir a Secretaria de Finanças da Contee, Celso Napolitano reforça uma concepção estratégica de estrutura sindical: a confederação não substitui o sindicato de base — ela o fortalece. A atuação nacional deve estar a serviço da mobilização local, da escuta cotidiana e da organização concreta dos trabalhadores e trabalhadoras nas escolas e instituições de ensino.
“Quem fala com a base é a entidade de base. Quem conversa com os trabalhadores e trabalhadoras, no chão das escolas, são os sindicatos. A confederação e as federações têm como principal função oferecer subsídios, articulação política e apoio estratégico para que esse trabalho aconteça da melhor forma”, afirma Napolitano.
Segundo ele, a Contee atua na macropolítica: acompanha e influencia decisões no Congresso Nacional, nos ministérios e nos fóruns institucionais onde se disputam os rumos da educação e dos direitos trabalhistas. O papel da entidade, explica, é disseminar essas informações e conquistas para a base, promovendo articulação com as federações e sindicatos.
“O que se conquista no plano nacional deve ser compartilhado com as entidades para que elas mobilizem suas categorias. E agora, com o novo estatuto aprovado no último congresso, esse processo ganha ainda mais força com a criação do Conselho de Entidades Sindicais, uma instância permanente de diálogo entre a Contee e os sindicatos de base.”
Esse conselho será responsável por aproximar ainda mais a confederação da realidade das escolas, permitindo que todos participem ativamente da vida política da entidade e do país — com posicionamentos no Congresso, nos ministérios e no debate público.
“Se há uma reflexão que eu gostaria de deixar registrada, é essa: as conquistas nascem da mobilização concreta. A Contee organiza, articula, dá o suporte político e técnico. Mas quem mobiliza é o sindicato. E é assim que deve ser. A diretoria da Confederação está totalmente alinhada com essa compreensão, e nesses quatro anos vamos trabalhar para cumprir esse papel da melhor maneira possível”, conclui.
Por Romênia Mariani





