Colégio particular demite professora por postagem que desagradou bolsonaristas em Aparecida
“Seja Marginal, Seja Herói”, expressão faz parte da obra do artista Hélio Oiticica; instituição justificou atitude por nota
O Colégio Expressão demitiu uma professora de história da arte após repercussão de uma postagem dela nas redes sociais. A docente foi dispensada por telefone na quinta-feira, 4. O motivo: a divulgação de imagem de uma camiseta na cor vermelha com a mensagem “Seja Marginal, Seja Herói”. Essa expressão é atribuída à obra do artista neoconcretista Hélio Oiticica (1937-1980).
O post viralizou entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), após um político compartilhar e fazer acusações. O que motivou um grupo a “invadir” as redes sociais da instituição de ensino cobrando providências. Para tanto, ofenderam e atacaram a profissional. A atitude fundamentalista ocorre na mesma semana em que representantes da extrema-direita defendem mais liberdade de expressão nas redes sociais.
Contratada pelo colégio desde janeiro, a educadora disse que tem costume de usar camiseta em referência ao artista brasileiro. Mas que na instituição teria sido a primeira vez. A docente explica que o artista é abordado na sala de aula, uma vez que integra o conteúdo programático do ensino médio. A camiseta seria de uma marca de roupa de um amigo dela, que estava sendo divulgada no Instagram.
Segundo ela, no mesmo dia começaram as mensagens na postagem, quando houve o compartilhamento do político bolsonarista. O parlamentar teria justificado que ela estaria ensinando os alunos que “ser marginal” é a mesma coisa que ser um herói. A professora esclareceu ser uma obra com contexto histórico, que mostra a realidade de uma comunidade no Rio de Janeiro. Cuja cultura marginalizada seria qualquer manifestação artística da população às margens da sociedade.
Por nota à imprensa, o Colégio Expressão informou que ao longo dos seus 23 anos “jamais” induziu, militou ou abordou temas políticos, religiosos e de gênero. “É importante destacar que a escola não é lugar de propagar ideologias políticas, religiosas ou preconceituosas. Nossa missão é formar cidadãos conscientes e éticos, capazes de compreender e respeitar as diferenças culturais e ideológicas”, cita trecho do comunicado.
O Sindicato dos Professores de Goiás (Sinpro Goiás) repudiou a atitude do colégio e disponibilizou assessora jurídica para a profissional. Ela decidiu processar a instituição e o parlamentar. Assim, ingressou com uma ação cível contra o político. Na qual, solicita direito de resposta para esclarecer o significado da obra do artista Hélio Oiticica: “Seja Marginal, Seja Herói”. Além disso, a professora exige a exclusão de qualquer conteúdo relacionado a ela e reparação por danos morais. Por outro lado, a docente teme não conseguir mais trabalho.
Liberdade de expressão para quem?
Um dia antes da demissão da professora, na quarta-feira, 4, o deputado estadual Fred Rodrigues (DC), bolsonarista assumido, subiu à tribuna da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) para comemorar a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC da Liberdade de Expressão). A medida amplia o foro privilegiado de deputados estaduais.
No final de abril, o deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL) criou polêmica contra o livro Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, de Marçal Aquino. A obra foi excluída da Universidade de Rio Verde (UniRV). Isto é, defendem liberdade de expressão apenas para uma parte da sociedade.