Comissão da Verdade da Contee disponibiliza carta-modelo para ser enviada aos trabalhadores pelas entidades filiadas
Para auxiliar na coleta de informações e depoimentos de professores e técnicos administrativos do setor privado que sofreram perseguições durante o período investigado pela Comissão Nacional da Verdade, a Contee encaminhou às entidades filiadas um modelo de carta, elaborado pela Comissão da Verdade dos Trabalhadores em Educação do Setor Privado de Ensino, para ser enviado à categoria ressaltando a importância do resgate da memória. A Confederação também destacou a necessidade da participação das entidades nesse processo.
Conforme estabelecido pela Comissão da Verdade da Contee (ver detalhes aqui), as entidades filiadas terão prazo até 15 de agosto de 2014 para responder à solicitação, indicando quem são os trabalhadores vitimados, com os respectivos depoimentos e documentos. O grupo destaca que tal prazo terá que ser efetivamente cumprido, uma vez que o período estabelecido para finalizar o trabalho da Comissão Nacional da Verdade, à qual a Comissão da Verdade da Contee está vinculada, termina em dezembro.
O modelo de correspondência disponibilizado pela Comissão está disponível abaixo:
O resgate da dignidade e da verdade histórica
A jovem república brasileira sofreu, ao longo destes 125 anos, inúmeros momentos de turbulência e ausência de democracia. A primeira república foi marcada pela concentração de capital e a violenta repressão aos movimentos sociais. O campo brasileiro e as áreas urbanas sofreram com o descaso de uma república aristocrática e arcaica, o que por si só já configura uma enorme contradição republicana.
No entanto, o que estava ruim poderia piorar, e piorou. Após a Revolução de 1930, o Brasil mergulhou numa violenta ditadura inspirada no nazi-fascismo europeu. Getúlio Vargas governou o país por uma década e meia utilizando, como agente de persuasão, o violento braço policial, que teve em Filinto Muller, chefe da polícia do Rio de Janeiro, seu maior expoente.
As cadeias estavam cheias de opositores e críticos do governo. Campos de concentração espalhavam-se pelo Brasil, sendo o da Ilha Grande, no litoral fluminense, o mais famoso. Intelectuais, jornalistas, escritores, professores e tantos outros foram perseguidos, torturados e censurados. Em que pese a distância do tempo, ainda temos sobreviventes e documentos desta época. É preciso resgatá-los e dar voz e memória a essas pessoas.
Após um breve período de democracia, o Brasil mais uma vez é sufocado por um período discricionário. Agora com tecnologia estadunidense, os militares brasileiros, no contexto da guerra fria, instituem uma ditadura ainda mais dura que a primeira. Dessa vez não apenas a polícia é utilizada para perseguir aqueles que se opunham ao governo militar, mas toda a estrutura das forças militares é usada para reprimir o pensamento livre. As técnicas de tortura física e psicológica são importadas dos EUA e o Brasil passa a viver sobre o terror das armas e do medo das pessoas se colocarem politicamente.
A lei de Anistia, em 1979, com a desculpa de pacificar a sociedade brasileira, perdoou todos os agentes estatais que praticaram estes crimes. Aqui não se trata de tentar fazer um tribunal que busque a vingança contra essa gente, mas sim dar voz àqueles que sofreram nesses períodos, àqueles que diretamente foram violentados, e ouvir também os familiares dessas pessoas. O objetivo é dar ainda mais consistência ao relatório final da Comissão Nacional da Verdade e, assim, resgatar a verdade histórica que ainda não está plenamente contada.
Essa verdade é de suma importância para o país, ainda mais neste momento de plena democracia em que vivemos. Esta verdade tem uma relevância histórica gigantesca e servirá como instrumento de uma cada vez maior maturidade política da sociedade. Esta maturidade pavimentará ainda mais o progresso brasileiro, e esperamos que seja o caminho para o resgate da ampla dignidade humana para todos os brasileiros.
Por tudo isso, o nosso sindicato quer saber dessas histórias; queremos que os professores e funcionários administrativos que sofreram alguma violência nesses períodos deem o seu depoimento para a nossa entidade. Esse depoimento poderá ser ou não anônimo, conforme o desejo das pessoas que o fizerem. Após esse resgate, ele será reunido a depoimentos do Brasil inteiro e será encaminhado à Comissão Nacional da Verdade instituída pelo governo brasileiro até final do ano de 2014.
Já foi dito que uma mentira contada mil vezes torna-se verdade. Sabemos o que esta afirmação causou: a morte e a perseguição de milhões de pessoas causadas pelo nazismo. O nosso sindicato prefere outra sentença, aquela que diz que a busca da verdade é o melhor caminho para o progresso humano. Resgatemos, pois, a verdade da história recente brasileira.
Sudações.
NOME DO SINDICATO