Como o rompimento do acordo nuclear entre EUA e Irã afeta o bolso do brasileiro

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que vai romper o acordo nuclear com o Irã e atingiu a economia do Brasil que, mesmo a 7.312 quilômetros de distância, sofrerá as consequências dessa decisão. Assim que Trump divulgou o rompimento unilateral do acordo, na terça-feira (8), dois movimentos afetaram a economia brasileira e, consequentemente, o bolso dos trabalhadores e trabalhadoras: a alta do dólar e o impacto no preço do barril de petróleo.

Um dia após o anúncio, que também incluiu severas sanções contra o Irã, um dos países integrantes da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep), o preço do barril – o chamado Brent – subiu mais de 3% e chegou a US$ 77,42, mais de R$ 278. No Brasil, o dólar manteve a trajetória de alta e chegou a R$ 3,60, cotação que não era atingida há dois anos, desde junho de 2016.

A maioria das pessoas acha que isso não tem nada a ver com a sua vida, pois não ganha em dólar nem pretende viajar para o exterior em breve e muitos sequer carro têm. O problema é que o dólar mais alto impacta na inflação e compromete o consumo das famílias brasileiras, piorando ainda mais a frágil economia do país.

E o barril de petróleo mais caro aumenta também o preço da gasolina e do gás de cozinha, que já sofreram sucessivos aumentos desde que a Petrobras passou a reajustar os preços dos combustíveis quase todo dia.

O que você tem a ver com a alta do dólar?

O secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa, explica que a disparada do dólar, a chamada desvalorização cambial, vai impactar a “já combalida economia brasileira” ao pressionar a inflação. “Essa alta vai encarecer o valor dos produtos importados e reduzir o poder de compra dos brasileiros”, diz.

O técnico da subseção do Dieese da CUT, Leandro Horie, lembra que muitas matérias primas consumidas no país são importadas, como trigo, combustível ou produtos tecnológicos, portanto, os aumentos sucessivos do dólar afetam a todos, pois são embutidos nos preços finais dos produtos vendidos aos trabalhadores e trabalhadoras, como o pão, a gasolina ou o celular novo.

“Se o valor de importação está mais caro, provavelmente o produtor irá repassar isso para o consumidor final, senão ele terá de cortar de outros custos ou do seu próprio lucro, o que dificilmente acontece na prática.”

O técnico do Dieese explica que, mesmo quando os produtos são produzidos no país, fica vantajoso para o produtor exportar, pois alguns itens têm seus preços internacionalizados, como é o caso do milho, aumentando os preços também nas prateleiras dos supermercados brasileiros.

“Quando é assim, geralmente, ele vende no mercado internacional para lucrar mais ou aumenta o preço no mercado interno para ter a mesma rentabilidade. Com isso, o preço do milho, assim como de outros produtos, fica mais caro para os brasileiros.”

Para Leandro, diante do atual cenário político e econômico, com aumento do desemprego e queda dos investimentos públicos, “a pressão inflacionária, puxada pela volatilidade do câmbio e sem crescimento econômico, é o pior dos mundos para a economia brasileira.”

Como o preço do barril do petróleo atinge o bolso do trabalhador e da trabalhadora

Além do problema da inflação, pressionada pela crescente alta do dólar, o aumento no valor do barril de petróleo compromete o preço de bens de consumo de valor controlado, como é o caso da gasolina e do gás de cozinha.

Segundo o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, a instabilidade na política internacional passou a influenciar mais os preços praticados pela Petrobras depois que o ilegítimo e golpista Michel Temer (MDB-SP) usurpou o poder.

Isso porque, explica Rangel, o governo voltou a praticar os reajustes dos preços de acordo com as oscilações do petróleo no mercado internacional, como era feito no governo do tucano FHC – 1995 a 2002.

“Essa dependência do mercado internacional é fruto de uma decisão política do governo e da atual gestão da Petrobras, comandada por Pedro Parente, que privilegia o mercado externo e não o nacional”.

Para o coordenador da FUP, só será possível reverter essa dependência da estatal com uma mudança radical na política da Petrobras.

“Essa atual gestão, para privatizar a Petrobras e entregar o patrimônio público brasileiro, está dando como garantia o fato de que não haverá mais o controle de preços e que as regras passarão a ser o livre mercado, ou seja, o preço será de acordo com o mercado internacional”.

Na avaliação de Rangel, o impacto no preço do barril de petróleo, diante do anúncio de Trump e as consequências desse rompimento para a geopolítica mundial, ainda será sentido nas próximas semanas ou meses.

“A alta de quase 3% no valor do barril tem muito a ver ainda com a queda de produção da Venezuela. Alguns analistas já avaliam que o valor do barril pode chegar a U$90 em breve.”

O secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa, acredita que é inevitável um aumento no valor do barril de petróleo após o anúncio de Trump, mesmo que este aumento “não signifique uma explosão do valor”, como ocorreu na década de 1970 quando o valor do barril chegou a aumentar 400%.

Porém, diz Lisboa, os produtos da cadeia produtiva do petróleo, como a gasolina e o gás de cozinha, sofrerão aumentos. “E as consequências serão piores para os mais pobres.”

Trump e Irã

Para Lisboa, o rompimento do acordo nuclear com o Irã é consequência da pressão da indústria armamentista dos estados Unidos sobre Trump.

“Ele agora precisa pagar suas promessas de campanha com a indústria de armas.”

“É importante lembrar também que há poucos dias os EUA tentaram intervir nos movimentos civis do Irã que reivindicavam do governo mais transparência e combate à corrupção”, completou o secretário de Relações Internacionais da CUT.

“Essa medida vem na intenção de intervir na política interna do Irã e desestabilizar todos os países que de alguma forma se contrapõem às suas políticas imperialistas”, criticou.

Porta da CUT

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