Congresso do Povo convida população a sair da arquibancada e entrar em campo
A Frente Brasil Popular, entidade que reúne movimentos populares, centrais sindicais e partidos políticos progressistas, lançou nessa quinta-feira (28), no Sindicato Unificado dos Petroleiros (Sindipetro), em São Paulo, um comitê do Congresso do Povo.
O objetivo é usar esse espaço para reunir a população da região e refletir sobre problemas cotidianos, identificar as soluções e construir um novo projeto de cidade e de país por meio da luta popular.
O Comitê do Centro de São Paulo é formado por dezenas de pessoas, movimentos sociais, partidos, juventudes, coletivos e sindicatos que discutirão os problemas locais com base em métodos de escuta das questões do povo, herança resgatada dos ensinos do educador Paulo Freire.
Tiago Franco, do Sindipetro, faz parte da organização do Congresso do Povo e destaca a importância do protagonismo da classe trabalhadora nesse processo.
“Eu nunca vi o povo tão afastado das decisões, tanto como ouvinte como também como beneficiário das ações do Estado, de uma forma geral. Então, em um momento como esse em que o Estado está todo voltado para garantir superlucros para as empresas e, [para isso], tirando direitos, a população precisa de instrumentos para entender esse processo todo e buscar saídas para que o Estado volte a ter alguma política voltada para o desenvolvimento da classe trabalhadora”, afirma.
Etapas
O Congresso do Povo terá diversas etapas, partindo de organizações de bairro, encontros municipais e estaduais até chegar à etapa nacional. A ideia de “construir com o povo e para o povo um projeto de nação” está firmada em um diálogo permanente em todos os estados da federação.
O calendário de lutas e discussões está norteado na retomada da democracia, que cada vez mais vem sendo ameaçada desde o golpe de 2016, que afastou a presidenta eleita Dilma Rousseff (PT). As lutas locais devem estar em sintonia com a construção política nacional, em defesa de eleições livres e pelo direito de Lula ser candidato, contra a entrega do patrimônio nacional por meio das privatizações, especialmente da Eletrobras e da Petrobras, e no combate às desigualdades sociais.
“A política desse governo ilegítimo [de Michel Temer] acaba com todas as conquistas sociais que a população brasileira teve, quando congela em 20 anos os gastos sociais, quando destrói os direitos trabalhistas e agora com a tentativa da reforma da Previdência, então é para acabar com todo o arcabouço social que existe na sociedade brasileira e transformá-la em uma sociedade de miseráveis”, afirma Felipe Grubba, do Sindipetro.
“O Congresso do Povo vem nesse sentido de ouvir a população, o que ela tem para dizer e, de repente, engajar essa população e politizar no sentido de participar nas várias questões e vários golpes que a gente vem sentindo”, completa Simone Oliveira, oficial de justiça que integra o grupo Judiciário Progressista (JUDPROG). Segundo ela, a instância do Judiciário está em voga, mas ainda precisa ser revista e discutida com a participação da população.
Para Beatriz Passarelli, que faz parte do Comitê do Congresso do Povo representando a Consulta Popular e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a transformação do país em uma “nação forte, independente, soberana e desenvolvida” depende da participação organizada da classe trabalhadora latino-americana.
“O desafio vai ser colocar realmente a população no jogo. Tenho a impressão que ela está assistindo o jogo, está torcendo por uma melhora, mas está vendo isso da arquibancada, esperando o desfecho final desse jogo, mas ele só vai se dar quando a população sair da arquibancada e se tornar protagonista, entrar em campo também”, compara.
Juventude
O Congresso do Povo é considerado uma iniciativa inédita por sua amplitude, tendo em vista a mobilização de movimentos populares em todo o país, bem como pela perspectiva de que o povo está sendo chamado a construir “com as suas próprias mãos o projeto que busca o desenvolvimento do Brasil”. Os diálogos com a população brasileira devem se intensificar até 15 de agosto, data em que serão confirmadas as candidaturas a presidente para as eleições deste ano.
“A macropolítica acaba se refletindo em cada setor, em cada organização, em cada local de uma maneira mais específica, então quando você consegue estudar os problemas locais e depois entender as relações deles com a macropolítica, que busca explorar cada vez mais a classe trabalhadora de uma forma desenfreada, eles estão todos costurados”, ressalta Franco.
Com a forma de atuação em rede, a juventude é um dos pontos centrais desse processo. Um dos seis grandes objetivos do Congresso do Povo é construir uma nova e ampla geração de jovens militantes, com força social e política.
“A juventude, como na maioria dos processos de luta, seja no movimento estudantil seja nos bairros, seja no campo seja na cidade, tem um papel muito importante de dinamizar o processo, de se colocar como sujeito na rua para refletir sobre seus problemas e para atingir outros setores”, enfatiza Bruno Kassabian, do Levante Popular da Juventude.
Convocado no final de 2017 com o objetivo de realizar mutirões de debates e formações populares sobre os rumos do país, o Congresso do Povo é um processo que ultrapassa o período eleitoral. A etapa nacional, por exemplo, só deve acontecer no começo de 2019. No período pré-eleições, acontecerá o Congresso do Comitê do Centro, em 4 de agosto, e o Congresso Municipal de São Paulo, em 11 de agosto. Só no estado, o objetivo é formar pelo menos 40 congressos municipais.