Congresso Nacional faz Sessão Solene pelos “200 anos” e Bolsonaro se recusa a participar
Ele só queria manipular a data histórica para tentar salvar sua difícil reeleição. Usou dinheiro público e a festa cívica para atacar adversários. Cometeu crimes eleitorais e, em nenhum momento, fez qualquer menção à data histórica
Jair Bolsonaro não compareceu à Sessão Solene do Congresso Nacional desta quinta-feira (8) em comemoração aos 200 anos da Independência Nacional. Preferiu ficar tirando fotos com apoiadores no Palácio da Alvorada.
Autoridades e representantes de delegações estrangeiras compareceram à sessão. Os presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo, da Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e de Cabo Verde, José Maria Neves, prestigiaram o evento cívico.
AUTORIDADES PRESENTES
Compareceram, ainda, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, os ex-presidentes, José Sarney e Michel Temer, os ministros do Supremo, Alexandre de Moraes e Dias Toffoli, e os ministros de Estado, Victor Godoy (Educação) e Carlos França (Relações Exteriores), o procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras e a presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Maria Thereza de Assis Moura. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder da Oposição, discursou na sessão.
Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Fernando Collor não estavam presentes, mas encaminharam carta justificando a ausência e saudando a iniciativa do parlamento. Jair Bolsonaro, que havia confirmado presença, cancelou participação na manhã desta quinta sem explicitar o motivo do cancelamento.
A atitude afrontosa de Bolsonaro com o Congresso Nacional mostra o seu desprezo pelas instituições do país e só reforça a convicção de que ele apenas tentou se aproveitar da data histórica bicentenário da Independência para fazer demagogia eleitoreira e tirar proveito pessoal da ocasião.
O que deveria ter sido uma grande comemoração do país pelos 200 anos da Independência se transformou, por interferência direta de Bolsonaro, numa manipulação eleitoreira ilegal, grosseira e criminosa. Em nenhum momento, durante o 7 de Setembro, Bolsonaro fez qualquer menção à data histórica.
A festa cívica de toda a nação foi manipulada criminosamente por um pretendente à reeleição que está mal nas pesquisas e que transformou a data numa encenação político-partidária com recursos e estrutura públicos.
E, como assinalou o Estadão, em editorial desta quinta-feira (8), Bolsonaro transformou também o que seria uma festa cívica numa “profusão de obscenidades que envergonharam o país”.
OBSCENIDADES DE BOLSONARO
Entre as obscenidades que Bolsonaro apresentou, durante o seu “comício”, chamou a atenção a esdrúxula comparação de sua mulher, Michelle, com a do ex-presidente Lula. Em seguida, Bolsonaro provocou asco ao puxar – ele próprio – o coro de “imbrochável”, alardeando uma suposta – e agora questionável – virilidade. Um comportamento rasteiro de quem não se dá o mínimo respeito e que, claramente, não respeita também as mulheres, nem mesmo a sua própria.
Como, destacou, mais uma vez, o Estadão, Bolsonaro, com sua falta de escrúpulos e seu desprezo pelo Brasil, não surpreendeu ninguém. Ele “fez exatamente o que vem fazendo desde os tempos do Exército, quando ameaçava colocar bombas em quartéis e desrespeitava a farda e a hierarquia militares”. Um comportamento totalmente incompatível com a seriedade e a disciplina exigidas para a carreira militar, motivo pelo qual as Forças Armadas deram um jeito de afastá-lo de suas fileiras.
Quando ficou claro que Bolsonaro infringiria a lei no 7 de Setembro, seja usando a estrutura pública de um evento cívico para fazer campanha eleitoral, seja constrangendo as Forças Armadas em proveito político-partidário, os presidentes dos demais poderes decidiram não compactuar com as ilegalidades do mandatário e não compareceram ao evento que se transformou num comício de campanha eleitoral. Certamente anteviram o papelão e as ilegalidades de Bolsonaro e não quiseram passar por este constrangimento.
ISOLAMENTO POLÍTICO
O isolamento político do atual chefe do Executivo ficou patente no palanque vazio de autoridades naquilo que deveria ser o desfile oficial dos 200 anos na capital da República. Mesmo assim, ele ainda afastou uma das poucas figuras que se esforçaram para prestigiar o desfile, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa. Bolsonaro o tirou do seu lado para colocar, em posição de destaque, Luciano Hang, o negociante bolsonarista que é investigado pela Polícia Federal por financiar atividades golpistas e antidemocráticas.
Na sessão solene desta quinta (8), o presidente do Congresso e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que a arma mais importante em uma democracia é o voto. Pacheco foi a primeiro a discursar. Além de lembrar da importância do voto para uma democracia sólida, ele disse que o direito a escolher os representantes não deve ser exercido “em meio ao discurso de ódio” ou com violência.
“Lembro que daqui a menos de um mês os brasileiros e brasileiras vão às urnas praticar o exercício cívico de votar em seus representantes. E o amplo direito de voto – a arma mais importante de uma democracia – não pode ser exercido com desrespeito, em meio a discurso de ódio, com violência ou intolerância em face dos desiguais”, afirmou Pacheco, em mais uma balizada nas pretensões golpistas de Bolsonaro.
CÂMARA E SENADO RECHAÇARAM MANIPULAÇÃO
O presidente da Câmara, Arthur Lira, também defendeu o voto e lembrou que o bicentenário da Independência brasileira coincide com o ano das eleições gerais. Tanto Lira quanto Pacheco criticaram nas redes sociais o uso político do bicentenário de Independência e defenderam a democracia.
“Destaco, portanto, a chance de os cidadãos brasileiros, por meio do seu voto consciente, fortalecerem nossa democracia e este Parlamento de modo que ele continue a exercer a importante tarefa de acolher diferentes aspirações e transformá-las em balizas coletivas, diretrizes que beneficiem toda a sociedade de modo justo e equânime e contribuam para o desenvolvimento deste país”, afirmou Lira.
Em sua fala, Fux disse que “um Brasil independente pressupõe uma magistratura independente” e que “os Poderes se restrinjam ao seu exercício em nome do povo e para o povo brasileiro”. Ainda de acordo com o presidente do STF, o Brasil se consolidou como “um país democrático, fraterno e com sólidas instituições que se relacionam harmoniosamente”.
“A história não é destino. Mas a compreensão das nossas origens forja nosso horizonte. Se não analisarmos o nosso passado, não teremos consciência crítica dos nossos problemas e, por não os entender, nunca vamos superá-los”, afirmou Fux. “Os três Poderes celebram juntos dois séculos da emancipação da nação, uma demonstração eloquente do avanço civilizatório das instituições democráticas dos dois países [Brasil e Portugal], que não admitem retrocessos”, completou.