Congresso sob nova direção: Desafios e expectativas para a classe trabalhadora

A vitória de Hugo Motta (Republicanos-PB) para a presidência da Câmara dos Deputados e de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para a presidência do Senado, já esperada, representa grandes desafios para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva e para a luta dos trabalhadores. Ambos, representantes de um centrão que historicamente articula entre o governo e a oposição, assumem os postos de liderança com o respaldo tanto da base aliada quanto da extrema direita. Isso reflete a composição política do Congresso e a disputa de forças que se intensificará nos próximos dois anos.
O que chama atenção neste processo eleitoral é a expressiva votação obtida pelos dois eleitos. Hugo Motta conquistou 444 votos de um total de 513, enquanto Davi Alcolumbre obteve 73 de 81 possíveis, demonstrando não apenas o apoio consolidado da base, mas também a força de articulação política dessas figuras dentro do Congresso. Esses números confirmam a relevância e estabilidade que ambos detêm em suas posições, garantindo uma liderança com considerável influência nas discussões legislativas.
Conjuntura desafiadora
A nova configuração das presidências das duas casas legislativas parece consolidar o que muitos já previam: o centrão segue exercendo uma grande influência na definição das pautas. A relação entre o Executivo e o Legislativo, por mais cordial que seja, está longe de ser simples. A pesquisa Genial/Quaest, divulgada recentemente, aponta para um cenário de acirramento político, com uma crescente polarização, especialmente em relação a questões como reforma tributária, orçamento e pautas de costumes.
Em seu discurso de vitória, Hugo Motta fez questão de reforçar seu compromisso com a democracia, uma fala que, à primeira vista, poderia ser interpretada como alinhada ao governo de Lula. No entanto, com o Congresso sob sua direção, as reformas que o governo pretende implementar enfrentarão um obstáculo significativo: a necessidade de negociação com um parlamento fragmentado, sem uma maioria consolidada. A margem para avanços nas pautas progressistas, como as que dizem respeito aos direitos dos trabalhadores, pode ser bastante limitada.
Os desafios para a educação
Neste cenário político tenso e desagregado, a classe trabalhadora, especialmente os profissionais da educação, tem um papel crucial a desempenhar na construção de um ambiente legislativo mais favorável às suas pautas. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimento de Ensino (CONTEE) reforça que, apesar do contexto desafiador, é preciso cobrar as pautas que visam à valorização da categoria, como a regulamentação do ensino privado, a regulamentação da educação a distância, a revisão do Plano Nacional de Educação (PNE) e a garantia de uma jornada de trabalho digna para os profissionais da educação, entre outras medidas fundamentais. Para a entidade, as demandas da categoria devem ser discutidas com seriedade e urgência.
A influência do Congresso no Governo Lula
O diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Neuriberg Dias, avalia que a nova configuração do Congresso Nacional exigirá uma articulação mais apurada entre o Executivo e o Legislativo, principalmente em temas como a reforma tributária e a regulamentação do trabalho. Ele aponta que, embora o Congresso tenha uma tendência mais conservadora, é possível que haja certa flexibilidade em relação às pautas econômicas, o que pode abrir espaço para uma colaboração mais estreita entre o governo de Lula e o Congresso.
No entanto, a relação entre o Legislativo e o Executivo não será fácil. A base ideológica mais conservadora do Congresso pode bloquear ou dificultar a aprovação de pautas mais progressistas, enquanto o governo precisará encontrar formas de dialogar com setores mais conservadores para garantir avanços econômicos sem perder o apoio das bases sociais e viabilizar a governabilidade, obtendo os votos necessários para aprovar as medidas essenciais para o país.
O caminho para a governabilidade: Construção de pontes ou isolamento?
O grande desafio para o governo Lula será como navegar por esse mar de incertezas e resistência. A falta de uma base majoritária no Congresso torna as negociações mais difíceis, e os setores progressistas precisarão se organizar e fortalecer suas alianças para assegurar que as pautas que atendem aos interesses da classe trabalhadora não sejam sufocadas pelos interesses de mercado e pela agenda conservadora.
Um fator crucial será a capacidade do governo de dialogar com as novas lideranças do Congresso. As declarações de Lula após o encontro com Hugo Motta e Davi Alcolumbre, no qual afirmou que não enviará projetos sem ouvir as lideranças, indicam a importância da negociação política como uma ferramenta essencial para a aprovação das pautas mais sensíveis.
O fortalecimento das comissões no Congresso e a maior valorização do trabalho técnico dos parlamentares, como aponta Neuriberg Dias, pode ser uma oportunidade para que os setores progressistas avancem. Contudo, é imprescindível que a classe trabalhadora, por meio das suas entidades representativas, se mantenha mobilizada e atenta, criando condições para a aprovação de projetos que melhorem a qualidade de vida e o bem-estar da população.
É hora de agir
A vitória de Hugo Motta e Davi Alcolumbre representa não apenas uma mudança na liderança do Congresso, mas também um desafio para as pautas da classe trabalhadora. O caminho será árduo, mas o governo de Lula e as entidades representativas têm a responsabilidade de construir alianças, fortalecer as mobilizações e garantir que os direitos dos trabalhadores, especialmente na educação, continuem sendo uma prioridade. O diálogo será essencial, mas a organização social também será determinante para a implementação de uma agenda progressista, apesar dos impasses.
Por Romênia Mariani