Conjunturas complexas são desafios para conquistas nas campanhas salariais, debateu Plena da Contee

Centro do debate político passou pela realização da Conclat, cuja data prevista para ocorrer é 7 de abril, em São Paulo. Ideia do evento é construir propostas para saída da crise política, econômica e social. Derrotar Bolsonaro é o vetor dessa perspectiva

Guerra na Ucrânia, crise da hegemonia estadunidense, novos ventos de esquerda na América Latina e eleições no Brasil. Estes foram os temas que nortearam a discussão sobre a atual conjuntura internacional e nacional na tarde desta quinta-feira (17), na abertura da reunião da Diretoria Plena da Contee.

Convidado para conduzir o debate, o jornalista e coordenador do Barão de Itararé Altamiro Borges destacou que os Estados Unidos têm perdido protagonismo econômico para a China e militar para a Rússia, restando-lhes apenas a hegemonia ideológica. “A guerra [na Ucrânia] tem a ver com essa questão geopolítica”, observou. “Não é a Ucrânia propriamente dita que está em disputa.”

O bombardeio midiático em torno disso, segundo Miro, confunde a direita — “os bolsonaristas estão ficando doidos, não sabem o que fazer, como se posicionar” —, mas confunde também setores da esquerda, “porque entra aí a questão da não interferência, da autonomia dos povos…”.

“Russofobia” e outras distopias

A disputa de narrativas levou: à emergência da “russofobia”, com o cúmulo de o Facebook, por exemplo, autorizar “postagens que pregam o assassinato de russos”; à transformação da Ucrânia, onde o neonazismo é muito forte, num suposto “paraíso da democracia”; na elevação de Volodymyr Zelensky, humorista eleito no rastro na antipolítica, ao posto de herói; no tratamento da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), “uma excrescência da Guerra Fria”, como “órgão de defesa”; e na consideração dos EUA como “defensores da paz e da liberdade”.

Sendo que, como lembrou Miro, mais de 80%, dos conflitos hoje no mundo foram iniciados pelos EUA. “No Brasil é vergonhoso, o que a mídia está fazendo”, criticou.

“Ventos animadores”

Apesar disso, outro ponto abordado por ele foram os “ventos animadores que começam a soprar de novo no nosso [sub]continente”, como demonstram os exemplos da Bolívia, do Chile e de Honduras. Não significa, porém, que a direita golpista em todos esses países foi desmantelada.

“Todo aquele esforço de integração — Celac [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], Unasul [União de Nações Sul-Americanas]… — passou a ser desmontado. E a nova direita ganhou muita força no [sub]continente”, apontou. “Esse é o quadro que se dá também no Brasil. O jogo no Brasil não está definido.”

De acordo com o palestrante, as últimas pesquisas de intenção de voto mostraram certa estabilidade. “Em abril termina a janela partidária, aí a eleição começa a se definir mesmo. O voto em Lula se mostra consolidado; a maioria que já declarou voto em Lula não muda mais o voto”, comentou.

“Bolsonaro deu uma pequena melhorada, mas na margem de erro das pesquisas. Isso tem a ver com ação concreta. Bolsonaro tem a caneta e o auxílio emergencial tem impacto. Ele também conseguiu ampliar sua base parlamentar, para a qual estão indo emendas do ‘orçamento secreto’. São R$ 16 bilhões. Isso tem impacto nas cidades do interior”, analisou.

Cenário incerto

O ideal seria vencer a eleição no primeiro turno, mas esse não é o cenário que se desenha. “Ir para o segundo turno reforça a instabilidade, cria o clima para apostas golpistas”, lamentou.

“Diante desse quadro, o grande desafio hoje é unir o maior número de forças. Outra prioridade é eleger bancadas e apostar muito na luta popular. É momento de voltar à rua. É preciso construir um sindicalismo que fale para a classe, mas também faça política. O ano é de prioridade máxima na agenda para a batalha eleitoral. Daí a importância da Conclat [Conferência Nacional da Classe Trabalhadora].”

Campanhas salariais

A segunda parte da reunião da Plena foi dedicada à Campanha Salarial 2022. Dirigentes das federações filiadas à Contee apresentaram o andamento das negociações nas respectivas bases.

O coordenador da Secretaria de Organização Sindical, Relações de Trabalho, Relações Institucionais e Juventude da Confederação, Elson Simões Paiva, apontou, a partir dos relatos, a existência de dicotomia: “Alguns patrões podem querer acelerar as negociações e outros, empurrar com a barriga, em função do ano eleitoral”.

Outro ponto frisado por ele, sobre o qual as federações também mostraram experiências distintas, foi a importância de “fazermos um debate aprofundado sobre as vantagens e desvantagens de levantar um dissídio”. “Além disso, acho importante, pela secretaria, a gente reforçar a participação dos sindicatos na Conclat”, afirmou.

Comissão permanente

Ao fim dessa pauta, o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, considerou que “os relatos vieram ao encontro das reflexões que fazíamos no ano passado a respeito das campanhas extremamente difíceis, da grande articulação dos sindicatos patronais e da necessidade de a Contee acompanhar mais de perto as negociações”. Como encaminhamento, Reis sugeriu a criação de comissão permanente, com participação das federações, para tratar das negociações e, a partir disso, organizar informações e posições nacionais.

O diretor da Contee também fez apelo para que as entidades filiadas respondam ao questionário enviado pela Confederação a respeito do andamento das campanhas salariais.

Ele elogiou a conquista da FeteeSul de garantir a ultratividade da CCT (Convenção Coletiva de Trabalho) durante as negociações. Reis também solicitou o compartilhamento do documento, para que essa possa ser prática nacional. Por fim, propôs que a Contee divulgue nota denunciando as práticas antissindicais das grandes corporações do ensino superior brasileiro.

“Após o seminário da educação básica, que será realizado em abril, devemos fazer também um seminário sobre o ensino superior”, declarou, reiterando a defesa da articulação, pela Contee, de negociações nacionais, em função da atuação também nacional desses grandes grupos. “E, para março de 2023, já temos programado um grande debate sobre organização, negociação e financiamento sindical.”

Conclat

“Já realizamos várias Conclat, a primeira há 40 anos, em agosto de 1981, quando houve divergências importantes, entre as quais a organização sindical, unicidade ou pluralismo”, destacou o secretário de Relações Internacionais da CTB, Nivaldo Santana, que fez a exposição inicial da abertura do debate sobre o tema.

Lembrando que o impasse não foi sanado, ele traçouhistórico das conferências seguintes, passando pela criação da CUT, CGT e etc.

A respeito da nova Conclat, Nivaldo Santana apontou os pontos mais importantes e controversos do documento-base, como o conceito de “trabalho decente” e a proposta de “revisar os marcos regressivos da legislação trabalhista e previdenciária”. 

Ele defendeu o papel da Conclat na construção de uma “frente unitária para isolar e superar Bolsonaro”, com“pauta básica de enfrentamento aos impasses políticos e econômicos no País”.

Reunião de sexta (18)

A reunião da Plena segue nesta sexta-feira (18), a partir das 14h até às 20h, cuja pauta está assim distribuída:

14h às 16h30: Conape/Seminário de Educação e SNE (Sistema Nacional de Educação);
16h30 às 17h30: Sistema Nacional de Comunicação da Contee;

17h30 às 19h: Questões financeiras e propostas de receitas financeiras para a estrutura sindical; e
19h às 20h: Informes Gerais.

Táscia Souza
Edição: Marcos Verlaine

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