Contee e Sinpro solidários com professora vítima de racismo em Alagoas
O Sindicato dos Professores de Alagoas (Sinpro/AL) registrou boletim de ocorrência de racismo por parte da proprietária do Colégio Agnes, de Maceió, nesta quarta-feira, 5. Suely Silva, dona da escola, falou aos alunos da professora Taynara Cristina Silva: “Quando vocês forem a Ouro Branco [sertão de Alagoas], onde tem o melhor couro, comprem um chicote do bom para eu dar uma chicotada nela para que ela relembre do tempo que ela pretende voltar —e que fala tanto sobre'”, denunciou a mestra. A Contee solidariza-se com a professora e apoia a ação do sindicato.
O presidente do Sinpro/AL, Eduardo Vasconcelos, disse que analisa a possibilidade de “abertura de um termo circunstanciado de ocorrência e ajuizar uma ação trabalhista e também penal”. O coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, lembrou que a entidade defende “uma educação contrária ao racismo, ao sexismo e ao homofobismo, com importante papel como instrumento de construção da cidadania. Por isso, é fundamental a defesa e a prática de um ensino que reafirme o combate a todo tipo de preconceito e discriminação com a relação à cor da pele, ao gênero e à orientação sexual, fortalecendo os direitos constitucionais. Uma educação de qualidade ensina a ética e o respeito às diferenças, busca a construção de uma sociedade sem preconceitos e sem violência. Estamos juntos com a professora Taynara e o sindicato, que integra a nossa Confederação, nessa luta”.
A OAB local emitiu nota: “A Ordem dos Advogados do Brasil Alagoas, através da Comissão de Direitos Humanos, Comissão de Promoção da Igualdade Social e Comissão Especial da Mulher, manifesta apoio à professora Taynara Cristina, vítima de racismo em uma escola, no Trapiche da Barra, em Maceió. … É inaceitável que atos discriminatórios e racistas continuem sendo praticados. Preconceito e segregação não podem mais ser tolerados”.
Taynara ministra aula de redação, desde 2017, a alunos do 3º ano do ensino médio do Agnes, sem Carteira de Trabalho assinada. Estuda o 6º período de Letras da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Em sua rede social, promoveu projetos de combate ao racismo no próprio colégio em que o episódio ocorreu.
Alunos solidários
Um grupo de alunos protestou em frente ao colégio com cartazes, gritando “racismo é crime”. Alguns estudantes denunciaram que Suely sempre emitiu falas de cunho racista e homofóbicos e assume postura autoritária no dia a dia. Quando os alunos questionaram a fala racista, a proprietária da escola disse que estava fazendo um teste, “brincadeira ‘para ver se vocês estão absorvendo a aula’. Só que isso não existe nem de brincadeira. Quando ela saiu da sala, algumas alunas negras choraram pelo ato. Eu também chorei horrores”, relata a professora agredida.
Segundo Taynara, diante da repercussão, a empresária a procurou para pedir desculpa. “Ela disse que a empregada dela é como se fosse da família e que foi uma brincadeira. E ainda disse que poderia ter escolhido uma professora branca, mas me escolheu ‘mesmo sendo negra’. E eu respondi que não sou competente apesar de negra: eu sou competente e negra”, completou.
Ela agradeceu o apoio que vem recebendo: “Estou sendo muito abraçada, as pessoas estão muito preocupadas, manifestando solidariedade. Esse tipo de coisa mexeu com minha luta negra-feminista-classista. Isso precisa ser corrigido, precisa ser feita justiça. Além de tudo o que aconteceu, tenho obrigação com meu alunato, para provar que eles não estavam errados, que aprenderam corretamente.”
O colégio chegou a lamentar o ocorrido e admitir o erro em uma rede social, mas retirou o post.
Carlos Pompe