Contee, Sinpro Goiás, Fitrae-BC e Sintego pedem indenização por danos morais para professora demitida
Docente foi exposta por deputado bolsonarista por usar camiseta com a expressão “Seja marginal, seja herói”, do artista plástico Hélio Oiticica
A Contee, o Sinpro Goiás, a Fitrae-BC e o Sintego (Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado de Goiás) ajuizaram ação pedindo indenização por danos morais e a exclusão de publicações de Gustavo Gayer (PL) sobre a professora que foi demitida por usar camiseta com frase ‘seja marginal, seja herói’. A expressão na camiseta faz parte da obra de Hélio Oiticica (1937-1980), um dos mais importantes artistas brasileiros, com o qual a professora frequentemente trabalha em sala de aula por ser tema de questões de vestibular.
As quatro entidades já haviam acionado a Justiça contra publicações do parlamentar e youtuber, que constantemente persegue e ataca professores.
As ações protocoladas pedem:
* pagamento de indenização por danos morais à professora no valor mínimo de R$ 30 mil, em razão da perda do emprego após perseguição ideológica e ofensa à sua honra e imagem;
* intimação de plataformas digitais para que excluam as publicações que exponham a professora ou mencionam as escola em que ela trabalha;
* suspensão da página do Instituto Nossos Filhos, na qual o deputado aparece pedindo que pais denunciem os professores por “doutrinação”;
* que Gustavo Gayer não publique mais qualquer vídeo, texto ou imagem de professores, que possam colocá-los em risco quanto à integridade física, moral ou econômica;
* que o deputado seja proibido no que se refere à realização de eventos ou incitação à perseguição a professores que, em sua opinião, estejam realizando “doutrinação de esquerda”;
* o envio da denúncia ao Supremo Tribunal Federal para inserir este processo no Inquérito das Fake News e nos inquéritos que apuram a conduta antiética do deputado;
* cancelamento das contas de Gayer nas redes sociais;
* publicação de um vídeo de retratação para a professora.
Reportagem do G1
O portal G1 noticiou o ajuizamento das ações pelas entidades sindicais. Ao veículo, a professora contou que trabalhava no Colégio Expressão, localizado em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, desde janeiro. Na terça-feira (2), ela foi para a sala de aula com a camiseta pela primeira vez e publicou uma foto com a blusa em seu Instagram.
Ela explicou que a postagem feita pelo parlamentar se tratava de uma montagem e contava com uma legenda falsa com os escritos “professora de história com look petista em sala de aula”, que ela não havia escrito na publicação original.
“Minhas camisetas de obras de arte são feitas por um amigo e na foto eu literalmente só marquei a loja [para divulgação]. A obra é vermelha, por isso a camiseta é vermelha. Não há associação política alguma”, explicou.
Após a publicação do deputado, que contou com a marcação insistente do nome do colégio em que a professora trabalhava, o caso repercutiu entre apoiadores e seguidores do parlamentar, que também passaram a pressionar a escola por meio das redes sociais. Segundo a professora, ela só soube que sua publicação inicial havia tomado tamanha proporção e que Gayer havia feito postagem sobre o caso quando recebeu uma ligação de um dos sócios da escola, na noite de 2 de maio.
“Recebi uma ligação dizendo que eu tinha causado muita dor de cabeça com uma foto que tinhha postado. O tom da escola foi de me culpabilizar por isso, quando, na verdade, fui vítima do caso”, lamentou a professora.
Ela contou que, no dia seguinte, a escola a convocou para uma reunião e, ao final, ficou acordado de que eles tentariam entrar em um acordo para resolver a situação. Já no dia 4 ela recebeu a ligação em que foi demitida.
A professora também revela que a informação de que ela havia sido demitida foi publicada por Gustavo Gayer nas redes sociais dele, em tom de comemoração, antes mesmo de ser dita a ela por parte da escola.
“Fiquei muito abalada psicologicamente, com medo de isso afetar minha carreira”, desabafou.