Contra o racismo que asfixia

No último sábado (30), o mototaxista Matheus Oliveira, negro, foi baleado na cabeça por um policial perto de um dos acessos ao Morro do Borel, na Tijuca, Zona Norte do Rio. No dia 18 de maio, o menino João Pedro, negro, foi assassinado dentro de sua casa no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro, durante uma ação conjunta da Polícia Civil e Polícia Federal em que os policiais dispararam cerca de 70 tiros. No dia 25, nos Estados Unidos, o ex-segurança George Floyd, negro, morreu asfixiado por um policial e suas últimas palavras foram “I can’t breathe”. Eu não consigo respirar.

Não é só a Covid-19 que mata por asfixia. O ar tem sido roubado de vidas pretas sistematicamente, diariamente, pela polícia, pela desigualdade, pelo racismo. Não é à toa que o Instagram amanheceu nesta terça-feira (2) repleto de quadrados pretos, numa ação batizada de #BlackoutTuesday, um trocadilho entre o termo “black” (como se denominam as pessoas pretas, em inglês) e o termo blecaute, derivado dessa cor, representando um apagão necessário nesse sistema de violência.

Não é à toa que hashtag #vidasnegrasimportam está entre as mais compartilhadas, lado a lado aos selos do movimento antifascista (e antes que se diga, desonestamente, que “todas as vidas importam”, vale lembrar que não é por causa da cor da pele que se matam brancos).

Não é à toa que um dos pontos questionáveis do problemático PL das Fake News previsto para ser votado hoje seja propor tratar a pandemia de mentiras e desinformação (que precisa mesmo ser combatida) com censura — e, sim, é preciso racializar até esse debate, porque sempre os primeiros a serem calados são pretos e pretas.

Não é à toa que, no cruel processo de retiradas de direitos trabalhistas que enfrentamos e para cuja implementação o projeto ultraliberal tem se valido da crise sanitária, os trabalhadores e trabalhadoras negros sejam os mais afetados, porque, lamentável e historicamente, ainda ocupam os postos de trabalho mais precários, numa abolição da escravatura que jamais se completou.

Não é à toa que a desigualdade educacional ainda mais escancarada neste momento de isolamento reflita também nosso enorme abismo social e racial e que meninas e meninos pretos estejam entre os mais prejudicados.

Não é à toa.

E é justamente por isso — por tudo isso — que tampouco é à toa que nossa luta trabalhista, sindical e educacional passa, sim, necessariamente, por uma luta contra o racismo e contra todas as formas de opressão. Para que a gente não morra, como sociedade, asfixiada em nossa própria covardia.

Por Táscia Souza

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