COP29: Brasil deve ocupar liderança global em ações de mitigação contra mudanças climáticas
Para Márcio Astrini, encontro que se inicia hoje (11) é difícil, mas país tem atingido metas e pode liderar agenda Redação
A edição 29 da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP), que começa nesta segunda-feira (11) em Baku, no Azerbaijão, deve ser uma das mais tensas realizadas até agora. Isso porque ela acontece entre guerras, quebra de confiança e a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos. Porém, é também uma oportunidade de o Brasil se colocar como liderança na agenda de ações para mitigação das mudanças climáticas em nível global.
Essa é a avaliação do secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini. “É agora que o Brasil tem que realmente preencher esse vácuo, essa lacuna deixada por quem está saindo e assumir uma liderança. O Brasil e outros países. A COP está batendo à nossa porta. Esse chamado por uma nova liderança global também. E o Brasil precisa ocupar esse lugar”, afirmou.
Segundo ele, o país teve uma evolução significativa no cumprimento das metas de mitigação desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com possibilidade de cumpri-las em 2025, algo que poucos países conseguirão. Porém, o momento pede a apresentação de propostas mais robustas de redução das emissões de gases de efeito estufa.
“Esses bons números não são suficientes para fazer do Brasil líder da agenda de negociações, que é onde a gente quer ver o Brasil em 2025, na conferência daqui. Uma coisa é você fazer a sua lição de casa. Outra coisa é você dar o exemplo e puxar a agenda global”, defende. “A agenda global não é a sua tarefa doméstica, esse daqui é o princípio de tudo. Se você não fizer nem em casa, aí não adianta você querer ser líder do mundo na negociação. Agora o Brasil precisa dar o próximo passo, que é realmente se colocar nessa liderança, ter uma proposta agressiva de redução de gases de efeito estufa.”
O secretário-executivo do Observatório do Climaressalta, no entanto, que a COP29 deve ser um espaço difícil de negociações. Entre os problemas estão as guerras e a ausência de lideranças mundiais devido a esses conflitos. Outra questão é a quebra de confiança, sobretudo no que diz respeito ao financiamento das ações de mitigação das mudanças climáticas.
“É uma COP que já começa num ambiente bastante estressado, porque o tema de debate é o tema que se arrasta há mais de uma década, que não tem solução: o tema de financiamento. É quem põe o dinheiro na mesa para fazer o que tem que ser feito. E isso daí é o motivo de discórdia entre os países há muito tempo. Principalmente os países ricos, que prometeram montar um fundo internacional com US$ 100 bilhões por ano. Nunca ninguém viu esse dinheiro. Eles fizeram uma espécie de contabilidade criativa para mostrar de onde o dinheiro veio, um dinheiro que nunca existiu”, critica Astrini.
“E aí o Trump chega agora para dar uma piorada no que já estava ruim nesse ambiente. É um negacionista. Quer dizer, não é um problema apenas para a agenda ambiental, obviamente. São várias as agendas que vão sofrer com o Trump. Mas para a agenda ambiental ele já tem realizações negativas do primeiro mandato dele, saiu do acordo de Paris. Deve conturbar ainda mais esse cenário que já estava bem difícil”, complementa.