Covid deve gerar cerca de 37 milhões de desempregados na América Latina, diz estudo
Para sociólogo, pós-pandemia será de luta contra autoritarismo e neoliberalismo
Em seu dossiê número 30, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, lançado nesta terça-feira (7), analisa as consequências políticas, sociais e sanitárias da pandemia do coronavírus nos países da América Latina, uma das regiões mais afetadas pela doença, com 23% dos casos mundiais e 22% do total de mortes no mundo.
O documento aponta que o PIB da região deve sofrer uma retração histórica, de aproximadamente 5,3%, que acarretará na inclusão de mais 37 milhões de desempregados nas estatísticas da região. Além de um crescimento da pobreza, que deve afetar 34,7% da população dos continentes que compõem a América Latina.
Jose Seoane, sociólogo e coordenador do Instituto Tricontinental, prevê que esse cenário “trágico para os mais pobres” deve provocar revoltas populares nas ruas, após o período de pandemia. “A partir de junho, já houve um ciclos de manifestações na região, por diferentes interesses. Com relação à catástrofe sanitária, mas também por conta da crise social, que castiga as classes populares. Hoje, a América Latina luta contra a fome. Há, também, um início de conflito na política, contra os pacotes de ajustes promovidos pelo neoliberalismo e as tentativas autoritárias de implementar essas políticas neoliberais.”
O Dossiê explica, ainda, que as privatizações de serviços básicos, como a saúde, se mostraram equivocados diante da pandemia e que a região está entre os mais afetados por conta do histórico de implementação de políticas neoliberais nesses setores. Porém, explica Seoane, houveram posturas diferentes entre os governos da região.
“Os papeis dos governos sul-americanos diante da pandemia foram diferentes, respeitando sua orientação política. Há os que seguiram as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), respeitando o isolamento social, as políticas sanitárias e que aplicaram políticas sociais compensatórias, melhorando o impacto da crise para os setores populares, para os trabalhadores, que sofrem menos nesses países. Agora, há os que seguiram caminhos contrários, governos negacionistas, que implementaram com políticas neoliberais, deixando seus países em uma situação de catástrofe social e sanitária.”, explica o sociólogo, que é professor e pesquisador da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, Argentina, e é membro do Grupo de Estudos sobre a América Latina e o Caribe (GEAL) do Instituto de Estudos Latino-Americanos e Caribe (IEALC).
Seoane cita, como exemplos negativos, Brasil, Chile, Peru, Bolícia, Panamá, República Dominicana. “Alguns desses tiveram 2 mil casos por milhão de habitantes. Eles tiveram as maiores taxas de contagiados na região após adotarem políticas neoliberais e negacionistas.”
Ainda sobre o Brasil, o sociólogo afirma que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, “encabeça o caráter mais fascista” da política no continente e que “isso tem impacto na região”.