Crise deixa mais de 70 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho
Pandemia afeta mais os trabalhadores informais, aumenta pejotização, prejudica mais as mulheres trabalhadoras e provoca recorde negativo da subutilização da força de trabalho, mostra pesquisa da Unicamp
A população fora do mercado de trabalho saltou de 64,9 para 70,9 milhões se comparados os meses de fevereiro a abril de 2019 com o mesmo período deste ano. Deste total, a maioria, 47,4 milhões são mulheres.
Essa queda na ocupação, ou aumento do desemprego, teve impacto, sobretudo, entre os informais, grupo formado por trabalhadores do setor privado sem carteira, empregado doméstico sem carteira, e o trabalhador por conta própria sem CNPJ. A redução na força de trabalho dos informais chegou a 3,7 milhões, ou seja, 77% dos que perderam ocupação são os informais.
Este contingente de 6 milhões a mais de pessoas é formado por quem perdeu o emprego e não consegue procurar outro, por conta das dificuldades impostas pela pandemia do coronavírus (Covid 19), e é classificada como “fora da força de trabalho”.
“Essas pessoas dizem que não procuram trabalho porque não têm condições financeiras, nem podem sair de casa por causa do isolamento social. Outras, informais não têm como voltar às suas atividades. Por isso, o impacto foi bem maior entre os trabalhadores sem carteira assinada, e eles recorreram ao auxílio emergencial de R$ 600,00, explica a economista e doutora em Desenvolvimento Econômico, Marilane Teixeira, autora da pesquisa “Mercado de trabalho no contexto da pandemia: a situação do Brasil até abril de 2020”, juntamente com o doutorando Pietro Borsari, ambos da Unicamp.
Outro dado significativo do levantamento é o aumento de 16,6% da pejotização no mercado de trabalho. Ou seja, após perder o emprego, esse trabalhador constituiu uma empresa com CNPJ e passou a trabalhar por conta própria. Por outro lado, o trabalho por conta própria, sem CNPJ , caiu 6,7%.
“Por um lado você tem uma queda brusca na força de trabalho dos informais, dos que trabalhavam sem carteira assinada e, por outro há um aumento na pejotização de quem perdeu o emprego”, diz Marilane , que se baseou nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua ( PNDA Contínua /IBGE) , que mede todo o mercado de trabalho, e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostra a movimentação de admitidos e demitidos.
Outro recorde negativo que a pesquisa aponta é a subutilização da força de trabalho. 25,6% da população estavam desempregadas, subocupadas por insuficiência de horas e desalentadas.
“A população brasileira subutilizada atingiu seu recorde histórico da série para o trimestre móvel encerrado em abril de 2020, totalizando 28,7 milhões. Ou seja, faltou trabalho, em algum sentido, para 25,6% da força de trabalho do país”, apontam os economistas.
Estudo do IPEA também mostra aumento do desemprego
Mais da metade da população (51,5%) em idade de trabalhar está sem emprego. Esta é a primeira vez desde 2012, quando teve início a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, que este índice é negativo.
Segundo o economista Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a parcela da população em idade de trabalhar (de 14 anos ou mais) que está inserida de alguma forma no mercado, caiu de 54,3% em fevereiro para 48,5% em abril, período marcado pelo isolamento social dos que podem ficar em casa. Significa dizer que 51,5% da população em idade ativa estavam sem trabalho.
Segundo o autor da pesquisa, em entrevista ao jornal O Globo, a dificuldade de retratar o mercado de trabalho neste momento é resultado de dois fatores. Quem perdeu o emprego ainda não voltou a procurar por causa da pandemia, portanto, não é tecnicamente incluído no universo de desempregados. Além disso, o IBGE calcula a taxa com base em informações trimestrais agregadas, neste caso, do período de fevereiro a abril. Assim, a conta considera um mês e meio em que a pandemia ainda não tinha começado.