“Crise é do capital e não dos trabalhadores”, afirma Kelli Mafort do MST

O trabalho de base, a formação política e a luta permanente foram três dos processos mencionados por Kelli Mafort, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), nesta terça-feira (11), durante ato político da 10ª edição da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, no Largo da Carioca, no centro do Rio de Janeiro.

“Estamos em meio a um processo que nitidamente é de luta de classes em que derrotaremos o inimigo se tivermos a sabedoria, se tivermos consciência desse projeto com aquilo que a gente mais acumulou na luta política, na organização popular, mas também com a alegria e a diversidade que temos no povo brasileiro”, disse a militante.

Kelli lembrou também que a classe trabalhadora, no Brasil e no mundo, vem passando por um “brutal processo de precarização do trabalho, de retirada violenta de direitos e expropriação da terra, da água e da vida”.

“Esses são efeitos de uma crise que não é nossa, essa crise profunda de caráter estrutural é uma crise do capital. Esse tempo de crise abre um cenário para que nós nos apresentemos na história enquanto classe, a classe trabalhadora. Se tivermos essa capacidade, esses momentos de crise abrirão a possibilidade de um novo tempo histórico”.

Ainda no ato político, o vereador do Rio de Janeiro Reimont (PT) afirmou que a presença do MST no Largo da Carioca, um lugar de passagem diária de milhares de pessoas de várias partes da cidade, é mais uma conquista porque remonta à ideia de uma sociedade mais plural e mais respeitada.

“É por isso que (o MST) incomoda tanto, é por isso que a elite brasileira quer calar a voz do campo e da cidade, essa voz que discute os movimentos sociais. Nesse sentido, agradecemos ao MST pela sua resistência. Também fazemos um repúdio a toda e qualquer violência contra os trabalhadores rurais e contra os trabalhadores da cidade”.

Durante o ato político, foram lembrados os assassinatos dos militantes José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino, do MST na Paraíba, no último sábado (8). O crime cometido por quatro homens armados e encapuzados ocorreu no acampamento Dom José Maria Pires, em Alhandra (PB).

Segundo dia

Durante todo o dia da 10ª edição da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, trabalhadores rurais comercializaram produtos da agricultura camponesa. Além de alimentos agroecológicos, sem agrotóxicos e a preços acessíveis e justos, a Feira também oferece ao público fitoterápicos e cosméticos como xampu, repelentes, sabonetes, pomadas e xaropes, tudo à base de produtos naturais.

“Estamos falando também sobre soberania alimentar, é um direito de todos e de todas ter alimentos saudáveis nas nossas mesas”, disse Miria Firmino, do assentamento Terra Prometida, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Os trabalhadores de assentamentos e acampamentos de todo o estado do Rio de Janeiro esperam vender 150 toneladas nos três dias de feira e oferecem uma variedade de alimentos que vai desde frutas, legumes, hortaliças, geleias e doces artesanais, arroz, café até as famosas cachaças “Vidas Secas” e “Lula Livre”, além da cerveja “Subversiva”.

Militante do MST, Luana Carvalho lembrou que a Feira se tornou um canal de diálogo com a população. “A Feira vem se consolidando no Rio de Janeiro como instrumento de diálogo com a sociedade e também para mostrar que existe a agricultura camponesa, reforma agrária e alimento de qualidade e com preço justo que possa chegar à mesa do consumidor”.

A programação cultural desta terça-feira (11) teve lançamento do livro “Militares e política no Brasil”, com roda de conversa e uma banca de livros da editora Expressão Popular, e apresentações musicais, como a das crianças dos Sem Terrinha.

Financiamento coletivo

A Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes vai até quarta-feira (12) no Largo da Carioca, no centro da cidade. Neste ano, a iniciativa está ocorrendo de maneira independente, sem o apoio governamental. Por conta disso, o MST lançou uma campanha de financiamento coletivo orçada em R$ 17.000,00 para viabilizar a realização do encontro. As doações são a partir de R$ 10 e podem ser feitas pelo site catarse.me.

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