Cuba tem muito a nos ensinar!

Por Augusto César Petta*

Além das atividades de formação que realiza no Brasil e que atingiram mais de 11 mil participantes nos últimos seis anos, o CES participa do Encontro Sindical Nossa América – Esna, que reúne centrais sindicais de vários países da América, inclusive a CTB, central que ocupa papel de destaque pelo seu nível de envolvimento nos encontros e nas lutas desenvolvidas.

A participação do CES e de centros de estudos de outros países da América se dá no âmbito da Formação Sindical do ESNA e esse intercâmbio permitiu que nos cursos nacionais do CES e CTB realizados em janeiro de 2015, em Cabreuva-SP, ministrassem aulas as professoras cubanas Regla e Rosario.

Na primeira quinzena de julho, juntamente com outros 12 formadores e formadoras sindicais do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho – CES, estive em Havana para participar de um “Curso de Postgrado de Didáctica para el CES” na Escola Ñico Lopez. Trata-se de um curso que inicialmente, desde a sua concepção e solicitação pelo CES junto às mesmas professoras cubanas que estiveram no Brasil, responsáveis pela mediação do mesmo, foi organizado para atender às necessidades de aprimoramento do processo formativo de professores/as do CES, cuja tarefa central é a de formar politicamente sindicalistas para o enfrentamento dos desafios colocados na atualidade.

Partindo-se de experiências anteriores de participação de representantes do CES em cursos cubanos com sede na Escola Sindical Lázaro Peña, fomos ao encontro de outra realidade colocada pela organização do curso: o curso seria realizado na Escola do Partido Comunista de Cuba – a Escola Ñico Lopez.

Quando para lá nos dirigimos, estavam os/as professores/as nos aguardando para realizarmos juntos um curso de dez dias! Isto posto, temos que admitir que eles são muito capacitados para desenvolverem temas relativos à política internacional, ao movimento sindical, à pedagogia, ao planejamento estratégico, sobretudo, convictos de que a educação tem uma ontologia sustentada nos princípios marxistas-leninistas para salvaguardar a Revolução Cubana. Eis um grande eixo integrador de todo o curso e que sustentou os conteúdos desenvolvidos por eles nas diversas disciplinas ministradas.

Além das excelentes aulas que tivemos em Havana, pudemos realizar outras atividades: visitar a sede da Central dos Trabalhadores de Cuba – CTC e a Escola Provincial Olo Pantoja; fui a Villa Clara, onde se encontra o mausoléu de Che Guevara, assassinado na Bolívia em 1967 e cujos restos mortais foram transportados para Cuba em 1997; visitei também Varadero, com suas lindas praias do Caribe.

Realizamos uma reunião com o dirigente da Federação Sindical Mundial – FSM Ramon Cardona, que convidou o CES para realizar pela FSM o trabalho de formação sindical reunindo sindicalistas da Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai e Chile. Sem dúvida, um honroso convite!

Sobretudo aqueles que, preocupados com o avanço das ideias progressistas em toda a América têm, torpedeado a experiência socialista de Cuba e que dizem para aqueles que são progressistas “Vá Prá Cuba”, certamente perguntariam por que fazer curso em Cuba. Afinal, não há outros países em que teríamos mais a aprender?

Posso dizer com segurança que em nenhum outro país da América os estudos sobre formação política e sindical estão tão avançados quanto em Cuba. A necessidade de defender a revolução socialista impulsionou a educação, assim como a saúde, a níveis superiores. Fez-se necessário conscientizar os cubanos de que a luta pela manutenção do socialismo era fundamental para que pudessem viver numa sociedade mais justa.

Os sindicalistas em Cuba necessariamente participam de atividades de formação sindical; ser sindicalista significa valorizar a teoria e a prática, numa relação dialética entre ambas. Quanto mais se desenvolve a teoria, mais a prática fica enriquecida. E para que mesmo defender o socialismo? A sociedade cubana não era melhor quando estava sob a influência capitalista? Voltemos um pouco ao passado.

Em 1946, o Hotel Nacional de Havana abrigou uma reunião de pouco mais de duas centenas de famílias do crime organizado estadunidense. Os chefões da máfia estiveram presentes, com exceção de Al Capone, que dessa vez não pode comparecer; as noites do encontro foram animadas por Frank Sinatra. Cuba foi se transformando no paraíso dos cassinos e do crime organizado; enquanto isso, a maioria da população vivia uma terrível situação de fome, de falta de saneamento básico, com baixos níveis de escolaridade e de condições de saúde muito precárias.

Durante 25 anos, o ditador Fulgêncio Batista fez o jogo das elites estadunidenses e foi apoiado por elas, até que ele teve que fugir de Cuba no dia 31 de dezembro de 1958, como decorrência da Revolução comandada por Fidel Castro, Che Guevara, Raúl Castro e Camilo Cienfuegos.

Por ocasião da comemoração dos 50 anos da Revolução, Sergio Tauhata, no artigo “Ano novo, vida nova”, diz o seguinte: “Que réveillon foi aquele em Havana! Na passagem de 1958 para 1959, uma festa sem precedentes tomou conta da cidade. Pedestres agitavam bandeiras e carros buzinavam, como se todos comemorassem a conquista de uma Copa do Mundo… ora de jipe, ora de um tanque de guerra, o comandante percorreu 700 quilômetros e foi saudado por multidões no caminho… Para a maioria do povo cubano começava ali não apenas um ano novo, mas uma nova vida, plena de esperança de um futuro melhor”.

E é essa nova vida que o heroico povo cubano tem construído cotidianamente nestes últimos 56 anos, com todas as dificuldades de um país que ousa enfrentar o imperialismo. Para as elites dos Estados Unidos e para as forças reacionárias de todo o mundo, derrotar de alguma forma essa exitosa experiência socialista, é uma questão fundamental. A existência da experiência socialista em Cuba, com todas as dificuldades impostas pelo embargo dos Estados Unidos, sinaliza aos trabalhadores do mundo todo de que o socialismo é possível. Como as elites podem garantir que o socialismo acabou com a queda da experiência da União Soviética e dos países do Leste Europeu se na Ilha, que se situa muito próxima aos Estados Unidos, o socialismo persiste?

Nesse momento, uma grande oportunidade e uma grande ameaça rondam Cuba: a oportunidade de avançar a economia com o possível fim do embargo imposto pelos Estados Unidos e a ameaça de que as elites dos Estados Unidos trabalharão para que os cubanos sucumbam diante do consumismo, da violência, da corrupção, da miséria que o capitalismo impõe.

Na firmeza ideológica dos dirigentes cubanos, na convicção inabalável dos professores com os quais mantivemos contato durante o curso, na alegria contagiante do povo cubano quer seja nos ônibus lotados que frequentamos, quer seja no ambiente musical que está presente nas ruas por onde passamos, na conscientização do povo que discute política com fluência, reside a convicção de que o socialismo continuará sendo construído em Cuba.

*Augusto César Petta é sociólogo, professor, diretor-técnico do CES e ex-presidente da Contee e do Sinpro Campinas

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