Cúpula dos Povos entrega carta à COP30 e expõe as urgências da crise climática: “É preciso enfrentar o capitalismo predatório”

Documento apresentado em Belém reúne vozes de mais de 70 mil participantes e reivindica justiça socioambiental, desmilitarização e protagonismo dos povos na construção das soluções

A Cúpula dos Povos Rumo à COP30 encerrou sua programação neste 16 de novembro com a entrega de uma carta de forte densidade política ao presidente da Conferência, embaixador André Corrêa do Lago. O documento é resultado de meses de encontros preparatórios e dos cinco dias de debates, manifestações culturais, plenárias e atos públicos realizados na capital paraense.

Participaram da construção da Carta Final povos originários, quilombolas, comunidades tradicionais, pescadores e pescadoras, quebradeiras de coco babaçu, extrativistas, camponeses, trabalhadores e trabalhadoras urbanos, movimentos de mulheres, juventudes, população LGBTQIAPN+, sindicatos, moradores das periferias e representantes de diversos biomas do Brasil e do mundo. A pluralidade é apontada como a força que sustenta a defesa de um projeto comum de bem viver, democracia e justiça climática.

Pontos mais impactantes da Carta Final

A carta entregue à COP30 aponta, sem rodeios, as raízes estruturais da crise climática. Entre seus trechos mais contundentes, destacam-se:

  • O capitalismo como causa central da crise ecológica e social

O documento afirma que o modelo de produção capitalista — guiado pela financeirização, pela exploração ilimitada da natureza e pelo poder das corporações transnacionais — é o principal responsável pelo colapso ambiental e pelo agravamento das desigualdades.

  • Responsabilização do Norte global e das grandes empresas

Mineração, agronegócio, energia, indústria bélica e Big Techs são listados como setores que lucram com a destruição ambiental e com práticas que impactam desproporcionalmente povos periféricos, mulheres, juventudes e populações racializadas.

  • Denúncia da militarização e das guerras

A carta manifesta repúdio ao genocídio do povo palestino e à intensificação da presença militar dos Estados Unidos em territórios do Caribe e da América Latina. Os participantes denunciam o avanço imperialista, a criminalização de movimentos sociais e a violação de soberanias.

  • Feminismo e trabalho de cuidado no centro da vida

A carta reivindica que o cuidado, a reprodução da vida e o trabalho invisibilizado sejam reconhecidos como estruturantes de qualquer modelo de sociedade. O feminismo é apontado como eixo essencial da resposta às crises.

  • Saberes ancestrais e proteção dos territórios

Defende-se a demarcação imediata de terras indígenas e de comunidades tradicionais, o desmatamento zero, a defesa da Amazônia e a valorização dos conhecimentos ancestrais como base para soluções verdadeiras e não mercantilizadas.

  • Transição energética justa e soberana

O documento critica a transição energética conduzida sob lógica de mercado e exige políticas que respeitem territórios, trabalhadores e a soberania dos povos, com o fim da exploração de combustíveis fósseis.

  • Internacionalismo popular e organização global

A carta enfatiza que a saída para a crise climática não virá das corporações nem dos governos capturados pelo capital, mas da organização internacional dos povos. “Quando a organização é forte, a luta é forte”, afirma o texto.

Na programação da Cúpula e da COP30, o cacique Raoni Metuktire voltou a alertar que proteger a Amazônia é proteger a vida no planeta. “Peço que continuemos essa missão de defender a Terra e lutar contra os que querem destruí-la”, afirmou.

Contee: “Um brado retumbante contra o capitalismo selvagem”

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), a Carta Final da Cúpula dos Povos expressa, de maneira consistente e profunda, aquilo que trabalhadores da educação e movimentos sociais vêm denunciando há décadas.

“A Carta elaborada pela Cúpula dos Povos é um brado retumbante contra o capitalismo selvagem que adoece o meio ambiente e a humanidade. As práticas desumanas e predatórias para garantir lucros vultosos são cada vez mais agressivas. Na lógica capitalista, a lei da exploração prepondera, atingindo pessoas, territórios e a natureza. A Carta aponta um caminho que coloca a vida no centro e enfrenta, com coragem, aqueles que lucram com a devastação”, afirma a Contee.

Encaminhamentos e recomendação de leitura

Ao receber o documento, o presidente da COP30 afirmou que encaminhará a carta aos espaços oficiais da Conferência, reforçando que a COP precisa ser um espaço de ação efetiva, e não apenas de discursos.

A Contee recomenda fortemente a leitura integral da Carta Final da Cúpula dos Povos, cujo conteúdo detaalha cada um dos pontos apresentados e oferece uma análise crítica das estruturas políticas e econômicas que alimentam a crise climática global.

Leia a carta completa aqui

Por Romênia Mariani

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