CUT e representantes da sociedade civil defendem trabalhadores na COP 26
Dirigente da CUT está na COP 26, junto com parlamentares de oposição para garantir a voz dos trabalhadores em decisões sobre a preservação do planeta
Líderes de todo o mundo estão reunidos em Glasgow, na Escócia, para decidir o futuro climático do planeta, traçar planos para a redução da emissão de carbono na atmosfera e conter o aquecimento global. A COP 26, Conferência das Nações Unidas para o Clima, começou no dia 31 de outubro sem a presença do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (ex-PSL), que preferiu ir a Roma e não enfrentar as críticas pela condução desastrosa da política ambiental brasileira.
Se por um lado está em debate o que fazer para ‘salvar o planeta’, por outro, interesses econômicos também estão pautados. Não é à toa que representantes de várias empresas, inclusive brasileiras, estão presentes na Conferência.
Esta ‘configuração’, de acordo com o secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, que está em Glasgow, representando a Central e a classe trabalhadora brasileira, torna a COP 26 uma conferência cercada de controvérsias já que engloba o olhar do mercado para o que vai acontecer daqui para frente, em termos de acordos para proteger o planeta.
A preocupação é sobre incluir quem mais interessa nesse contexto: os trabalhadores diretamente impactos pelas mudanças ambientais e por políticas econômicas relacionadas ao tema. Ou seja, há que se ter um olhar para a geração de emprego e o desenvolvimento que garantam condições dignas às pessoas, com a preservação do meio ambiente.
As expectativas de Daniel Gaio sobre os resultados da Conferência não são animadoras. Ele acredita que uma vez que a COP- 26 está ‘dominada pelo sistema econômico’, as resoluções não vão apontar para uma transição realmente justa nas políticas ambientais. “Serão falsas soluções que atenderão ao poder econômico e insuficientes para a urgente demanda de ações globais que protejam a humanidade”, ele diz.
Desmentindo o presidente brasileiro
Em Glasgow, o dirigente, acompanhado de parlamentares da oposição que têm a importante missão de desmentir as falácias de Bolsonaro sobre a nossa pretensa preservação do meio-ambiente, afirma que “o mercado pode tomar conta do que vai acontecer na COP, das negociações”. Ele lamenta ainda que a participação da sociedade civil tenha sido limitada nesta COP. “Não estamos podendo pressionar”, diz.
O Brasil, no evento, segundo Daniel, conta com dois espaços. Um deles, o do governo, onde estão sendo apresentados dados maquiados sobre desmatamento e proteção ambiental no Brasil, além de uma política que nada colaborou com a chamada agenda do capitalismo verde, que prioriza a sustentabilidade e a preservação ambiental.
O outro, paralelo e menor, é onde representantes da sociedade civil, acadêmicos e povos indígenas se reúnem.
“É uma vergonha para o Brasil tentar passar uma imagem que definitivamente não condiz com a realidade. Durante a pandemia, por exemplo, nós aumentamos nossa emissão de gases de efeito estufa em 9,5% enquanto no mundo todo caiu em 7%”, afirma Daniel Gaio.
De acordo como Observatório do Clima, além de setores como o da energia e o da agropecuária, a alta no desmatamento no ano passado, em especial na Amazônia, também foi responsável por colocar o Brasil nesta posição. E, neste caminho, as metas estabelecidas no Acordo de Paris, de redução da emissão de gases, não será atingida.
Em face a tal situação, Daniel Gaio alerta: “o Brasil tem que ter mudanças imediatas drásticas, como impeachment de Bolsonaro. Se não tiver mudanças, no ano que vem vamos retroceder ainda mais nas questões climáticas. ”
Vergonha na COP
Na COP 26, o mundo aguarda um plano concreto de combate ao desmatamento. E, sobre o Brasil, são muitas as incertezas sobre compromissos de frear a destruição de nossas florestas. Dado o histórico do presidente brasileiro, o mundo olha o país com desconfiança.
Nossa participação, no que é de responsabilidade do governo, tem colocado o Brasil em situação vexatória perante a comunidade internacional. Bolsonaro, segundo Daniel Gaio, não quis ir à abertura para não ser cobrado pela política ambiental brasileira. Participou de uma reunião do G-20 em Roma, na Itália, e ficou por lá durante quatro dias em atividades não oficiais como uma visita ao memorial dos pracinhas da 2ª Guerra Mundial.
O Brasil foi à COP 26 até mesmo sem o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que, de Brasília e ‘patrocinado’ pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) fez sua participação na abertura, por videoconferência. E assim, longe da COP, ele anunciou o que especialistas chamaram de ‘pedalada climática’.
Além de não dizer qual será o limite de emissões em 2030, conforme prevê o Acordo de Paris, o governo brasileiro, na voz de Leite, anunciou “uma nova meta climática, mais ambiciosa, passando de 43% para 50% até 2030; e de neutralidade de carbono até 2050”.
De acordo com análise do Observatório do Clima diz que, sem que haja na proposta, um detalhamento em valores absolutos de quanto será a redução, a ‘meta’ de Joaquim Leite acaba sendo maior até que a meta proposta pelo Brasil já em 2015.
“Resultaria numa emissão adicional de 400 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) em relação à meta anunciada em 2015 por Dilma Rousseff”, avalia o Observatório.
Outro fato que depõe contra a imagem do Brasil foi o pedido de demissão do coordenador-executivo do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima, Oswaldo Santos Lucon, indicado ao cargo em 2019 pelo presidente.
Sem dar maiores detalhes do motivo de seu pedido de exoneração em um momento como este, em plena COP 26, ele disse apenas estar insatisfeito e, à imprensa, declarou que não estava sendo útil nem para o governo, nem para a sociedade.
Mas, de um outro lado, há os representantes da sociedade civil lutando para ter voz nas discussões. Além da CUT, outras 43 representações de trabalhadores de outros países, estão presentes para tratar dos impactos do clima, transição justa e empregos de qualidade tendo como referência as metas de preservação ambiental.
O que a COP tem a ver comigo?
O objetivo principal da Conferência é manter o aquecimento global a 1,5° C acima dos níveis da era pré-industrial. Pode parecer uma pequena diferença para nós, seres humanos, mas para o planeta, as consequências são terríveis.
Por exemplo, tornou-se comum vermos situações climáticas que antes praticamente não existiam como chuvas excessivas em algumas regiões, estiagem em outras onde antes os índices pluviométricos eram considerados normais. O período de chuvas que antes costumava cessar em março, agora se estende até abril.
Com o aquecimento, a atmosfera e o oceano fornecem energia adicional para eventos extremos. O nível de umidade fica maior, por isso as chuvas mais pesadas. Além disso, o derretimento do gelo das calotas polares em conjunto com a elevação da temperatura dos oceanos aumenta o nível do mar. O que se vê em filmes de catástrofes – cidades sendo engolidas pelos oceanos – ainda que não seja com a magnitude da tragédia cinematográfica, poderá acontecer.
O aumento do nível do mar também aumenta o surgimento de tempestades e inundações costeiras. Somente em Santa Catarina, 22 municípios podem ser engolidos pela água nas próximas décadas.
E quem causa tudo isso é o próprio ser humano, com suas ações predatórias ao planeta. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aponta que as emissões causadas pelo homem, como a queima de combustíveis fósseis e o corte de árvores, são responsáveis pelo aquecimento recente.
Do 1,1 grau de aumento da temperatura média experimentado desde a era pré-industrial, o IPCC concluiu que menos de 0,1 grau se deve a forças naturais, como vulcões ou variações do Sol.