De Fleury para Frei Tito: SP troca nome de rua de torturador por torturado na ditadura
Frei Tito foi uma das vítimas do delegado Fleury durante a repressão do regime militar brasileiro
A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, nesta quarta-feira (25), o Projeto de Lei 243, de abril de 2013, que nomeia de Rua Frei Tito a atual Rua Doutor Sérgio Fleury, na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo.
A proposta é de coautoria dos então vereadores Orlando Silva (PCdoB), Arselino Tatto (PT), Antonio Donato (PT), Alfredinho (PT), Jamil Murad (PCdoB), Juliana Cardoso (PT), Reis (PT) e Professor Toninho Vespoli (PSOL).
“A alteração da denominação é um ato de grande representatividade já que visa reparar historicamente uma homenagem que considero totalmente equivocada ao delegado Dr. Sérgio Paranhos Fleury, personagem que nenhum orgulho traz à cidade de São Paulo e que, inclusive, contribuiu para as crueldades cometidas contra Frei Tito”, afirmou o vereador Arselino Tatto, por meio de sua assessoria de imprensa.
“A aprovação do projeto que o homenageia é uma vitória contra a violação dos direitos humanos e em memória a todos que perderam suas vidas na luta contra o regime político ditatorial.”
O frei dominicano Tito de Alencar Lima, que agora será homenageado na Vila Leopoldina, foi um dos precursores da Teologia da Libertação no Brasil, onde parte da Igreja, impulsionada pelo Concílio Vaticano II, alinhou sua luta com as lutas sociais em prol da vida da população mais pobre.
Militante do movimento estudantil, Tito participou de várias manifestações contra a ditadura de 1964 e, mesmo após o exílio, dedicou sua vida a denunciar as crueldades que pairavam pelo Brasil naquela época.
Preso por Fleury e torturado pela “equipe” de carrascos orientados pelo delegado, que também era admirador de Ustra, Tito teria recebido choques elétricos na língua. Os torturadores, por deboche, diziam que aquilo era a “hóstia sagrada”, chamavam de “comunhão”.
Frei Tito foi encontrado enforcado no dia 10 de agosto de 1974, durante seu exílio na França.
Sérgio Fernando Paranhos Fleury, mais conhecido como delegado Fleury, foi uma das figuras que melhor representou a violência promovida pela ditadura militar brasileira. Ele atuou como delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) a partir de 1968 e é considerado um dos repressores mais sanguinários do período.
Fleury chefiou os esquadrões da morte que atuavam nas periferias de São Paulo, entre as décadas de 1960 e 1970, crime pelo qual chegou a ser condenado junto com dois outros policiais, mas foi absolvido logo depois.
Ele também é apontado como um dos responsáveis da Chacina da Lapa, em São Paulo, e da Chacina da Chácara São Bento, no Recife; bem como pelo sequestro, tortura e assassinato de figuras importantes que atuaram na luta contra a ditadura, como Carlos Lamarca.