Dedicação ao estudo e bons professores garantiram a nota mil no Enem
Estudantes que obtiveram nota 1000 no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2017 comentaram seus métodos de estudo e valorizaram seus professores. Apesar da queda de 77 para 53 alunos nota mil da prova anterior para esta, a média da redação aumentou de 541,9 para 558.
Ao todo, 309.157 redações foram zeradas (6,5% do total), a maioria por fuga do tema proposto, prova em branco ou cópia dos textos de apoio. Em 2016, 291.806 candidatos não somaram nenhum ponto. Com o tema “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”, a nota média da redação foi de 558 pontos (no ano anterior, 541,9 pontos).
Mônica D’Angelo, 18 anos, de Recife, “não imaginava que teria nota tão boa. No início do ano entrei no acompanhamento de redação chamado ‘Galo da redação’. Foi o primeiro ano do projeto, que tem o objetivo de ajudar jovens na redação do Enem. Daí, toda semana nos encontrávamos e o orientador nos ajudava, propondo temas e fazendo as correções das nossas redações”. Ficou surpresa com o tema: “Pensei que seria mais abrangente. Porém, lembrei de várias coisas que tinha lido sobre acessibilidade e consegui adaptar ao tema”.
Paulo Albuquerque, 17 anos, de Caruaru, faz Enem desde o 8º do ensino fundamental. “Eu estudei desde o 9º ano do ensino fundamental para a redação do Enem . Para treinar, eu fazia umas duas redações por semana”, disse. Gostou do tema, “pois no cursinho ele foi bastante trabalhado”. Para conseguir a nota, contou com a ajuda de dois professores de português. De acordo com o professor Thiago Neto, o aluno participava de aulões e era crítico e questionador. “Com o professor Thiago aprendi a formar minha base, pois a redação do Enem não se constrói de um dia pra noite”, elogiou Paulo.
Yasmin Rocha, 17 anos, de Teresina, “não esperava uma nota tão boa, foi uma surpresa”. Ela ainda obteve a segunda melhor nota na prova de matemática. “Como eu não era tão boa, eu fiz muita redação, fazia na escola e no preparatório, em média duas por semana”, diz.
Marcus Vinícius, 18, de Fortaleza, fazia até três redações por semana no cursinho da escola particular. Além da orientação da professora de laboratório, “eu lia muito. Comprei revista de atualidades, procurei filmes de pensadores, sociólogos, filósofos, e isso me ajudou”. Ele não viu nada sobre o tema do Enem durante os estudos. “Foi mais na esperteza. Usei um sociólogo como referência e detalhei a solução do problema, que é muito importante”, explica. Ele costuma estudar em pé, “falando, às vezes na rede. Tenho dificuldade de ler sentado, sou muito elétrico”.
Radicada no Ceará há 13 anos e natural de Pernambuco, Débora, 19, fez “um curso de redação por fora. Quis investir porque faz muita diferença na nota, tem um peso grande. E mesmo já obtendo notas boas nos treinos, sempre treinava mais pra tentar alcançar a nota máxima”. Assistia a aulas do cursinho pela manhã, em uma escola particular; estudava durante a tarde na biblioteca da instituição e frequentava o curso especial de redação uma vez por semana, à noite. “Eu fazia em média duas redações por semana, treinava o máximo possível. Eu queria passar, mas a nota máxima era um dos objetivos que eu gostaria de alcançar. Ano passado mesmo já tinha me decepcionado com a nota, 760, da redação”.
O alagoano Alan Nabor, 19, mora na Praia do Francês, em Marechal Deodoro, estudou os três horários de segunda a sexta-feira. “No planejamento de estudo priorizei as matérias isoladas e concentrei forças nas matérias de redação e matemática. Deu certo, conquistei nota mil na redação e 757 em matemática. Infelizmente como não fui muito bem nas outras disciplinas a média baixou, mas o desempenho que alcancei é um incentivo para continuar estudando”, disse. O tema o surpreendeu, “já que esperava algo ligado a questões políticas, sociais ou de gêneros com abordagens menos específicas. Foi um desafio, porque não era uma das minhas apostas. Porém, consegui fazer uma redação com bons argumentos ao aplicar uma visão universalista. De início fiquei bastante nervoso ao ver o tema, depois, as ideias foram surgindo e consegui concluir uma boa dissertação”. O método de estudo utilizado foi “mais com apostilas e fazendo anotações. O computador usei apenas para assistir algumas videoaulas porque acredito que tudo que precisava estava ao alcance”.
O capixaba Matheus Rosi, 20 anos, não estuda “igual maluco. Durante o 1º semestre quase todo eu estudava três horas por dia. Depois das férias, aumentei para cinco e aumentei o número de redações. Mais perto da prova, fui diminuindo o ritmo para chegar descansado. Na reta final eu até dormia à tarde e, às vezes, saía”. Ele estudava em um cursinho particular com bolsa. “Todo mundo está meio chocado, feliz. Todo mundo já esperava uma nota boa, mas não assim. Parece que é tudo mentira”, contou, rindo. Acredita que as dicas valiosas do professor de redação foram o diferencial para sair-se bem diante do tema. “Nosso professor de redação ensinou a pensar no tema. Você tem que fazer a redação em cima das palavras chaves daquele assunto. Tem que pegar as palavras chave, focar em cima dela o tempo todo”, explicou. O processo de escrita demorou 1h40, quando o “recomendado” é que os alunos levem até 1h15 para a redação, já que o exame é longo e exige muita leitura.
Paraense, Vinícius Monteiro, 16, conta: “Quando vi o tema eu me senti preparado porque estive lendo bastante sobre questões da educação e das pessoas com deficiência. Já havia estudado sobre o assunto dos surdos, que ainda são uma minoria na sociedade”. Na escola, ele percebeu a facilidade para escrever: “Continuei treinando para melhorar meu texto e também lia bastante sobre atualidades, livros com informações importantes, coisas que poderiam cair na redação”.
Também paraense, Larissa Fernandes, 18, terminou o ensino médio em 2016, mas fez a prova pela primeira vez em 2017. Para ela, “a leitura ajudou bastante. Na minha preparação eu li muitas notícias, jornais, revistas o que me ajudou na hora de argumentar. Durante todo esse ano, além do cursinho pela manhã, eu alternava entre aulas de redação e matemática à tarde”.
Carlos Pompe