Denúncias contra PM expõe política criminosa de Tarcísio para a segurança pública

Gestão do governador atravessa crise sem precedentes com aumento exponencial da violência policial. PM entendeu “nem aí” dito pelo governador em março como cheque em branco

“E aí, o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não estou nem aí”, foi a declaração do governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) a jornalistas, em março deste ano, em meio a denúncias de abuso da Polícia Militar na Baixada Santista.

A região foi alvo de grandes operações do estado, após policiais militares serem mortos por criminosos no fim de 2023. Em retaliação, de janeiro a fevereiro de 2024, 57 civis foram assassinados por policiais, segundo dados do Ministério Público de São Paulo.

Ao rebater questionamentos da imprensa sobre as inúmeras denúncias de violações, Tarcísio procurou mandar uma mensagem não só para o eleitorado, mas também para a tropa: o palácio dos Bandeirantes dava cheque em branco para os militares do Estado.

Não deveria ser surpresa para grande parte da imprensa que o incentivo a uma política de segurança pública em que a letalidade policial é a solução para os problemas levaria a parte dos policiais militares a acreditar que podem matar impunemente.

Neste final de ano, novos e consecutivos casos de abuso de autoridade e violações dos direitos humanos por policiais do Estado chegaram ao limite, expondo a política criminosa de Tarcísio para a segurança pública de São Paulo.

Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, policiais arremessaram uma pessoa do alto de uma ponte na Cidade Ademar, na zona Sul da capital paulista, na madrugada desta segunda (2).

Segundo relatos, ele passou a ser perseguido por PMs da Rocam após fugir de uma abordagem quando conduzia uma moto sem placa por volta das 23h deste domingo em Diadema, na Grande São Paulo.

Ele foi interceptado em Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo, após perseguição de 2 km. De acordo com o registro policial, os agentes não encontraram nada ilícito durante a abordagem, pouco antes de o jovem ter sido arremessado da ponte. Na cena registrada em vídeo por uma testemunha, há a participação de ao menos quatro policiais militares.

Em outro vídeo, Gabriel Renan da Silva Soares, um homem negro de 26 anos, foi executado com 11 tiros nas costas por um policial no Jardim Prudência após furtar sabão em uma unidade do Oxxo.

A execução do jovem negro aconteceu em 3 de novembro na unidade localizada na Avenida Cupecê e foi registrada por uma câmera de segurança. O PM foi afastado somente um mês após o crime.

Gabriel Soares era sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, conhecido por ser ex-integrante do grupo rapper Facção Central. Eduardo denunciou o assassinato em 7 de novembro, mas só nesta segunda (2) conseguiu acesso ao circuito de imagens da loja.

“Com as imagens da loja, está provado que meu sobrinho Gabriel foi covardemente executado. Não houve abordagem ou voz de prisão, simplesmente oito tiros em legítima defesa do racismo e do capital dos grandes conglomerados de exploradores. Não será mais um número estatístico”, afirmou Taddeo em seu perfil no Instagram.

Pressionado pela imprensa e pela oposição na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o governador publicou, nesta terça (3), nas redes sociais, que policial “que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda” e que “esses casos serão investigados e rigorosamente punidos”.

A tentativa de lavar sua reputação autoritária, no entanto, já foi para o vinagre. Há quase um mês, no dia 5 de novembro, Ryan, de apenas 4 anos, foi morto com um tiro de fuzil na barriga durante uma ação policial, em Santos (SP), enquanto jogava bola com o irmão e os amigos em frente à sua casa nesta terça (5).

O pai dele, Leonel Andrade, tinha sido morto, nove meses antes, em outra operação policial na mesma comunidade pobre. Leonel tinha uma deficiência física e usava muletas. Na época do assassinato de Ryan, o governo paulista disse que “as mortes em decorrência de intervenção policial são resultado da reação de suspeitos à ação da polícia”.

Duas semanas após o assassinato do garoto, outro violência policial resultou na morte de um inocente. O estudante de medicina Marco Aurélio Acosta, de 22 anos, foi assassinado com um tiro à queima-roupa, em um hotel na Vila Mariana. Imagens de câmeras mostram que ele não representava risco aos policiais ou a outras pessoas, mas recebeu um tiro fatal mesmo assim.

Dados mais recentes sintetizam essa explosão de casos envolvendo a PM de Tarcísio com violações aos direitos humanos. Um estudo publicado pelo Instituto Sou da Paz, e publicado pela Folha de S. Paulo, em outubro deste ano, revela que no segundo ano de mandato (que ainda não acabou) do governador registrou um aumento de 78% nas mortes causadas pela polícia.

Até o momento, 441 pessoas foram mortas pela PM, contra 247 em 2023. A menos que o governador de São Paulo e o secretário de segurança pública interrompam a permissão tácita para matar nas periferias, casos como esses vão continuar acontecendo.

Do Vermelho

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