Desempenhos “olímpicos” no Enem podem esconder política educacional que não prioriza aprendizagem
A divulgação das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011, em cujo ranking de cem escolas mais bem colocadas 90 são instituições privadas, pode levar a uma distorção sobre a qualidade da educação e até esconder uma política educacional perversa voltada apenas os “alunos olímpicos” – e para os ganhos financeiros trazidos pela reputação –, mas não para uma melhoria efetiva no ensino.
Conforme divulgado pela CONTEE na revista Conteúdo de outubro, na reportagem de capa “Alerta no ensino médio”, O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) subiu somente 0,1 ponto entre 2009 e 2011, passando de 3,6 para 3,7, o que evidencia problemas que vão desde o alto índice de evasão até a péssima remuneração dos professores.
A princípio, as escolas que conquistaram as cem primeiras posições no ranking do Enem podem até parecer estar na contramão disso. Entretanto, o próprio ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o resultado não pode ser considerado como um retrato das melhores escolas de ensino médio do país. Segundo ele, o Enem é uma avaliação dos estudantes, insuficiente para avaliar o estabelecimento escolar.
A coordenadora-geral da CONTEE, Madalena Guasco Peixoto, ressalta ser de conhecimento do MEC e da sociedade, levando em conta o que vem sendo divulgado há algum tempo na grande imprensa, que há escolas onde, visando o bom resultado no Enem, somente os alunos com as melhores notas são escolhidos para fazer o exame, com o objetivo de “puxar” a nota da instituição para cima.
“Estas instituições fazem isto não porque estejam preocupadas com o que os seus alunos aprenderam ou não, nem estão preocupadas em discutir a avaliação e nem o currículo do ensino médio e sua melhoria. A preocupação destas instituições é o mercado”, destaca a professora. “Isto é muito ruim por vários motivos, mas o mais sério é o desvirtuamento da própria avaliação e seus dados.”
Na opinião de Madalena, outro problema grave é o fato de o Enem hoje ter se tornado a porta de entrada obrigatória tanto no ProUni quanto em várias universidades federais. “Além disso, este tipo de instituição acaba por desvirtuar o que é aprendizagem e também o trabalho docente que passa a ser vinculado ao desempenho da instituição no Enem”.
Da redação