Desindustrialização subtraiu 1 milhão de empregos em 10 anos

Informações divulgadas nesta quinta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam um retrato preocupante do processo de desindustrialização da economia brasileira, que embora tenha iniciado já nos anos 1980, no rastro da crise da dívida externa, ganhou novo impulso nos últimos anos, em especial após o golpe de Estado de 2016.

As estatísticas do instituto mostram que entre 2011 a 2020, a indústria perdeu 9.579 empresas, ou 3,1% do total e nada menos que 1 milhão de empregos (-11,6% do total), sendo 5.747 vagas nas indústrias extrativas e 998.200 nas indústrias de transformação.

Em parte isto decorreu do aumento da produtividade do trabalho, com a introdução de novos métodos e tecnologias no processo de produção, mas a causa maior do retrocesso é a crise crônica da economia em associação com as políticas neoliberais.

A população ocupada nas empresas do setor era de 8,7 milhões em 2011, número que desceu a 7,7 milhões em 2020, ano mais recente com dados disponíveis. O fechamento da Ford no Brasil é sintomático desta situação crítica.

Arrocho dos salários

O prejuízo foi grande para a classe operária. Os salários reais foram arrochados. A renda média dos trabalhadores caiu de 3,5 para 3 salários mínimos, de acordo com a pesquisa. Cabe destacar que é a indústria quem oferece emprego de maior qualidade e maior remuneração no país em comparação com os setores primário (agropecuária) e terciário (comércio e serviços), onde os salários são baixos e os contratos mais precários.

Entre 2019 e 2020, o setor – que é também o mais dinâmico e produtivo da economia – perdeu 2.865 empresas (-0,9%), mas a população ocupada teve uma modesta recuperação, crescendo 0,5%, o que significou mais 35.241 pessoas ocupadas.

A receita líquida da indústria chegou a R$ 4 trilhões em 2020, com as indústrias de transformação concentrando 93,1% do faturamento.

Automóveis

Entre as atividades, a indústria alimentícia lidera com 24,1% de participação e aumento de 5,9 pontos percentuais (p.p.) em 10 anos, dos quais 3,6 p.p. foram entre 2019 e 2020.

Já a indústria automotiva perdeu 4,9 p.p. em 10 anos, passando de 12,0% para 7,1% no período. A participação da fabricação de produtos químicos saltou de 8,8% para 10,5%, saindo da quarta para a segunda posição em 10 anos.

As indústrias extrativas responderam por 6,9% do faturamento da indústria em 2020, com destaque para a extração de minerais metálicos (4,7%) e extração de petróleo e gás natural (1,4%).

Conforme o levantamento, metade da redução de empregos, entre 2011 e 2020, ficou concentrada em três segmentos: confecção de artigos do vestuário e acessórios (-258,4 mil), preparação e fabricação de artigos de couro, artigos para viagem e calçados (-138,1 mil) e fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos (-134,2 mil).

O número de empresas industriais com uma ou mais pessoas ocupadas recuou pelo sétimo ano consecutivo – vem caindo desde 2014. O contingente atingiu 303,6 mil. No começo da década, em 2011, havia 313,2 mil indústrias. O número chegou a se aproximar em 2013 de 335 mil, o maior nível da série histórica.

Política industrial

A desindustrialização não é um fenômeno inevitável como sugerem alguns economistas e políticos. Ela decorre em larga medida da política econômica neoliberal, pautada pelos interesses do sistema financeiro mundial, que não tem compromisso compromisso com o desenvolvimento nacional.

A indústria é a força motriz do desenvolvimento. É ela que explica a vertiginosa ascensão geopolítica da China. Em contraste, os EUA, ao lado do chamado Ocidente, entraram numa trajetória de decadência em função do progressivo processo de desindustrialização, que chegou ao auge com o deslocamento de suas plantas industriais para países asiáticos, destacadamente a China, e latino-americanos.

Na tentativa de reverter o processo de declínio que está corroendo a hegemonia imperialista e tornando a atual ordem mundial caduca, o governo estadunidense procura impedir as multinacionais do setor de deslocarem seus capitais para o exterior, incentivando-os a permanecer no país com uma política de substituição de importações. Daí vem a retórica ideológica contra a globalização, que os mais à direita já caracterizam de “globalismo marxista”.

Para que o Brasil supere a crônica crise econômica e volte a exibir robustas taxas de crescimento do PIB (como ocorreu entre 1930 a 1980, quando o produto cresceu cerca de 7% ao ano, em média), recuperando posições e ascendendo no ranking das economias mundiais, será indispensável promover uma política industrial eficiente, temperada por elevados investimentos em ciência e tecnologia.

CTB

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