Desmentindo otimismo de Paulo Guedes, PIB recua 0,1% no segundo trimestre

Já faz pelo menos um ano que o ministro da Economia, Paulo Guedes, o posto Ipiranga de Bolsonaro, vem alardendo que a economia brasileira está em processo de recuperação em V, que só ele e mais ninguém neste vasto mundo enxerga.

Recuperação em V é um termo usado por economistas para descrever uma retomada intensa depois de uma queda vertiginosa na atividade econômica. A queda efetivamente ocorreu no ano passado quando o PIB fechou com 4,1% negativos, mas a economia continua cambaleante em 2021.

No primeiro dia de setembro de 2020, o sábio neoliberal que orienta o presidente teve a pachorra de afirmar isto durante audiência pública virtual da Comissão Mista do Congresso, como ficou registrado na Agência Brasil.

Fatos versus Fake News

Os fatos revelaram outra realidade. Mas que são os fatos para os que difundem Fake News? Em julho deste ano, animado com a notícia de que o PIB tinha avançado modestos 1,2% no primeiro trimestre de 2021, Guedes voltou à carga com o mesmo discurso enganoso.

“Eu falava em recuperação em ‘V’ do tipo Nike, mas voltou com mesma intensidade com que tinha caído”, sustentou. Alimentou a esperança de que as atividades econômicas continuariam descrevendo uma trajetória ascendente.

Mais uma vez estava errado e foi desmentido pela vida, ou mais precisamente pelas estatísticas divulgadas nesta quarta-feira (1) pelo IBGE, que indicam um recuo de 0,1% do produto no segundo trimestre.

Convém observa os resultados negativos da indústria de transformação (-2,2%), que refletem e acentuam o nocivo processo de desindutrialização da economia brasileira.

Perguntar não ofende: quando é que o ministro da Economia do governo Bolsonaro vai parar de brigar com os fatos? Será que ele ainda merece alguma credibilidade?

Desemprego em massa

A Recuperação em V que habita o imaginário do rentista Guedes não tem nada a ver com o lastimável curso da economia nacional, cujo indicador mais eloquente e relevante é a taxa de desemprego, que ficou em 14,1% no trimestre compreendido entre abril a junho.

Corresponde a 14,4 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, segundo informações do IBGE publicadas também hoje. Some-se a este exército 5,6 milhões de pessoas consideradas desalentadas, na verdade desempregadas que desistiram de procurar emprego.

Já a legião de subutilizados ficou em 32,2 milhões. A população subocupada por insuficiência de horas trabalhadas (7,5 milhões de pessoas) é recorde da série histórica, com altas de 7,3% ante o trimestre anterior (511 mil pessoas a mais) e de 34,4% (1,9 milhão de pessoas a mais) frente ao mesmo trimestre de 2020. O dado reflete provavelmente o crescimento do chamado trabalho intermitente.

A verdade é que sem uma forte redução do desemprego e da subutilização não se pode falar em recuperação econômica. Sem trabalho, sem ocupação não há geração e agregação de valor, não há produção, a economia para. Não há crescimento do PIB. A recuperação do emprego promove o crescimento.

Miséria neoliberal

Sob o garrote das políticas neoliberais, com destaque para o Teto dos Gastos, a economia brasileira não terá um futuro promissor. Estará condenada à estagnação e aos voos de galinha, conforme sugerem os cinco anos do golpe de Estado de 2016, que impôs a restauração do neoliberalismo sob a promessa de recuperação da economia e do emprego.

O efeito mais dramático e deprimente disto tudo foi o retorno do Brasil ao Mapa da Fome do Mundo, do qual a nação foi subtraída pelas políticas sociais dos governo Lula e Dilma.

Relatório recente da FAO indica que 23,5% da população brasileira, entre 2018 e 2020, deixou de comer por falta de dinheiro ou precisou reduzir a quantidade e qualidade dos alimentos ingeridos. Em 2020, a fome no Brasil retrocedeu aos patamares de 2004.

Necessidade histórica

A recuperação e o crescimento sustentado e robusto da nossa economia é uma necessidade histórica, uma demanda da nação que requer alteração radical nos rumos políticos. A mudança da política econômica é o pressuposto para resgatar o país do estado crítico e patológico a que foi conduzido pelas forças golpistas.

Revogar a EC 95 e as reformas neoliberais de Temer e Bolsonaro, ampliar os investimentos públicos, promover a reindustrialização, reduzir as taxas de juros e administrar o câmbio, taxar lucros, dividendos e remessas das multinacionais são algumas das medidas necessárias nesta direção.

Nada disto será feito em um governo liderado por um extremista de direita lacaio do imperialismo americano e subserviente aos grandes capitalistas. Por isto, o primeiro passo é lutar para concretizar o objetivo das forças sociais que estão unidas na campanha nacional Fora Bolsonaro.

Leia a nota do IBGE sobre o PIB

O Produto Interno Bruto (PIB) apresentou estabilidade (-0,1%) no segundo trimestre de 2021 (comparado ao primeiro trimestre de 2021), na série com ajuste sazonal. Frente ao mesmo trimestre de 2020, o PIB cresceu 12,4%. No primeiro semestre, o PIB acumula alta de 6,4%. No acumulado nos quatro trimestres, terminados em junho de 2021, o PIB cresceu 1,8%.

O PIB variou -0,1% na comparação do segundo trimestre de 2021 contra o primeiro trimestre de 2021, na série com ajuste sazonal. A maior queda foi da Agropecuária (-2,8%), seguida pela Indústria (-0,2%). Por outro lado, os Serviços cresceram 0,7%.

Entre as atividades industriais, o desempenho foi puxado pelas quedas de 2,2% nas Indústrias de Transformação e de 0,9% na atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos. Essas quedas compensaram a alta que houve de 5,3% nas Indústrias Extrativas e 2,7% na Construção.

Pela ótica da despesa, a Formação Bruta de Capital Fixo (-3,6%) apresentou queda, a Despesa de Consumo das Famílias (0,0%) ficou estável e a Despesa de Consumo do Governo (0,7%) cresceu em relação ao trimestre imediatamente anterior.

No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços tiveram crescimento de 9,4%, enquanto as Importações de Bens e Serviços recuaram 0,6% em relação ao primeiro trimestre de 2021.

PIB cresce 12,4% frente ao 2º trimestre de 2020

Quando comparado a igual período do ano anterior, o PIB teve crescimento de 12,4% no segundo trimestre de 2021. O Valor Adicionado a preços básicos teve alta de 11,7% e os Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios avançaram em 16,8%.

A Agropecuária cresceu 1,3% em relação a igual período de 2020. Este resultado pode ser explicado, principalmente, pelo desempenho positivo de alguns produtos da lavoura com safra relevante no segundo trimestre, como a soja (9,8%) e o arroz (4,1%). Em contrapartida, houve recuos nas estimativas de produção anual das culturas de café (-21,0%), algodão (-16,6%) e milho (-11,3%). As estimativas para Pecuária e Produção florestal apontaram contribuição positiva para a Agropecuária neste trimestre.

A Indústria cresceu 17,8%. Nesse contexto, a atividade Indústrias de Transformação registrou o melhor resultado com alta de 25,8%, influenciada, principalmente, pelo avanço na fabricação de veículos automotores; de outros equipamentos de transporte; de máquinas e equipamentos; e da metalurgia.

A alta na atividade de Construção (13,1%) foi corroborada pelo aumento do número de pessoas ocupadas no setor e da produção de seus insumos típicos. Esta atividade voltou a ter resultado positivo após cinco trimestres consecutivos de queda.

Indústrias Extrativas apresentou variação positiva de 7,0%, resultado do aumento na extração de minérios ferrosos, uma vez que a extração de petróleo e gás cresceu menos no período.

A atividade de Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos apresentou alta de 6,7% devido à maior atividade da economia como um todo, já que o segundo trimestre de 2020 foi o auge das restrições durante a pandemia da Covid-19. Este movimento foi capaz de compensar até mesmo o momento com bandeiras tarifárias mais desfavoráveis.

O setor de Serviços avançou 10,8% na comparação com o mesmo período do ano anterior. Os melhores resultados se deram em Transporte, armazenagem e correio (25,3%) e Comércio (20,9%). As demais atividades também apresentaram resultados positivos: Outras atividades de serviços (16,1%), Informação e comunicação (15,6%), Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (4,1%), Atividades imobiliárias (3,5%) e Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,4%).

A Despesa de Consumo das Famílias cresceu 10,8%, explicada pelo efeito base, já que é contra o trimestre com os maiores efeitos da pandemia sobre a economia, além dos programas de apoio do governo do aumento do crédito a pessoas físicas. Por outro lado, houve aumento das taxas de juros e, mesmo com o aumento das ocupações na economia, a massa salarial, afetada negativamente pelo aumento da inflação, caiu em relação ao segundo trimestre de 2020.

A Formação Bruta de Capital Fixo avançou 32,9% no segundo trimestre de 2021, explicado pelos resultados positivos da produção interna e importação de bens de capital, além da construção. A Despesa de Consumo do Governo subiu 4,2% em relação ao segundo trimestre de 2020.

No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços cresceram 14,1%, ao passo que o crescimento das Importações de Bens e Serviços foi de 20,2% no segundo trimestre de 2021. Dentre as exportações de bens, o crescimento é explicado, principalmente, pelo acréscimo em produtos agrícolas, indústria automotiva, máquinas e equipamentos e minerais não metálicos. Por outro lado, as importações cresceram principalmente devido ao acréscimo nas compras de veículos automotores, máquinas e equipamentos, siderurgia e refino de petróleo.

PIB cresce 1,8% no acumulado em quatro trimestres

O PIB acumulado nos quatro trimestres terminados em junho de 2021 cresceu 1,8% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores. Esta taxa resultou da alta de 1,6% do Valor Adicionado a preços básicos e de 2,8% nos Impostos sobre Produtos Líquidos de Subsídios. O resultado do Valor Adicionado nesta comparação decorreu dos seguintes desempenhos: Agropecuária (2,0%), Indústria (4,7%) e Serviços (0,5%).

As atividades industriais com crescimento foram Indústrias da Transformação (8,1%) e Eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos (3,5%) se expandiram. Já a Construção (-0,7%) e as Indústrias Extrativas (-0,2%) sofreram contração.

Nos Serviços, houve altas em: Comércio (5,7%), Informação e Comunicação (5,4%), Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (3,9%), Atividades imobiliárias (3,4%) e Transporte, armazenagem e correio (1,5%). As quedas foram: Outras atividades de serviços (-4,9%) e Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (-2,5%).

Na análise da despesa, a Formação Bruta de Capital Fixo (12,8%) teve variação positiva pelo segundo trimestre consecutivo. Por outro lado, a Despesa de Consumo das Famílias (-0,4%) e a Despesa de Consumo do Governo (-2,6%) tiveram variações negativas.

No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços apresentaram alta de 2,4% e as Importações de Bens e Serviços apresentaram queda de 1,7%.

Primeiro semestre tem alta de 6,4% no PIB

O PIB no 1º semestre de 2021 cresceu 6,4% em relação a igual período de 2020. Nesta base de comparação, houve desempenho positivo para a Agropecuária (3,3%), a Indústria (10,0%) e os Serviços (4,7%).

Taxa de Investimento foi de 18,2% no 2º trimestre

A taxa de investimento no segundo trimestre de 2021 foi de 18,2% do PIB, acima do observado no mesmo período do ano anterior (15,1%). A taxa de poupança foi de 20,9% no segundo trimestre de 2021 (ante 15,7% no mesmo período de 2020).

A Capacidade de Financiamento alcançou R$ 81,4 bilhões ante R$ 35,7 bilhões no segundo trimestre de 2020. O aumento da Capacidade de Financiamento é explicado, principalmente, pelo aumento no montante de R$ 55,1 bilhões no saldo externo de bens e serviços.

CTB

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