Destruição de placa sobre genocídio negro domina debates do Plenário
O deputado Coronel Tadeu retirou a peça que integrava exposição sobre o Dia da Consciência Negra por acreditar que conteúdo era ofensivo a policiais
A sessão desta terça-feira (19) do Plenário da Câmara foi dominada por pronunciamentos sobre a retirada de uma placa sobre genocídio negro pelo deputado Coronel Tadeu (PSL-SP). A arte do cartunista Carlos Latuff integrava uma exposição sobre o Dia da Consciência Negra e retratava um jovem negro algemado e um policial. Tadeu retirou a placa do local e a quebrou.
A atitude do deputado gerou críticas da oposição desde o fim da tarde, quando o fato ocorreu. No início da noite, Coronel Tadeu foi à tribuna e justificou a atitude por ter considerado a placa ofensiva aos policiais.
“Talvez não tivesse sido, naquele momento, a melhor forma de se tratar aquela agressão, mas eu retirei [a placa], em nome de 600 mil profissionais de segurança porque aquilo sim era uma ofensa aos policiais”, disse. Ele foi à tribuna acompanhado de deputados ligados a corporações policiais.
“Naquele momento, me veio simplesmente o ato de retirar aquele cartaz e continuar a bater palma pelo Dia da Consciência Negra. Espero que os senhores até reflitam sobre a minha atitude, mas principalmente coloque acima a minha posição”, emendou.
O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) defendeu o Tadeu. Conhecido por ter quebrado uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco durante um comício, Silveira defendeu que genocídio negro é uma “falácia” e que, na sua atuação como policial militar, nunca viu tal prática.
“É evidente que mais negros morrem. Eu tive o prazer e o desprazer de operar em todas as favelas do estado do Rio de Janeiro. Lá tem mais negros com arma, tem mais negros cometendo o crime, mais negros confrontando a polícia, e mais negros morrem”, disse.Quebra de decoro
A oposição condenou a atitude dos dois parlamentares. A líder da Minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ), informou que vai recorrer ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. “O crime de racismo é inafiançável. Esses crimes precisam ser cada vez mais denunciados, porque há intolerância. O deputado não tolerou, não suportou, aí é que os crimes acontecem”, declarou. Além disso, deputados do Psol também convocaram os pares a sair do Plenário depois que Tadeu sentou-se ao lado do presidente da Câmara na Mesa Diretora.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) afirmou que a retirada da placa foi um ato de violência inaceitável. “Nós, os negros, só queremos o nosso direito e buscamos esse direito dentro de um processo democrático. É impossível aceitar o que aconteceu. Foi como se tivessem dado um tapa na cara de cada um, negros e negras desta Casa, mesmo aqueles que não se manifestaram”, lamentou.
O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) denunciou o que classifica de racismo estrutural e disse que a Câmara dos Deputados deve ser a casa das ideias, não a casa da violência. Ele criticou ainda a fala de Daniel Silveira.
“Dizer que os negros morrem mais porque cometem mais crimes é de um racismo violentíssimo, é uma frase absolutamente inaceitável. Essa ignorância faz mal para a segurança, e racismo é crime”, afirmou.
A retirada da placa também foi criticada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que cobrou dos deputados a solução de conflitos por meio do diálogo.