Dia 24: Povo nas ruas em defesa da democracia e contra ataques de Bolsonaro

Para Vagner Freitas e Marcio Pochmann, manifestações populares são essenciais para impedir golpe de Jair Bolsonaro. Lula pede para população ir às ruas salvar o país

Para tentar desviar a atenção das denúncias de corrupção contra o seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL), que despenca nas pesquisas sobre intenção de voto enquanto cresce o favoritismo do ex-presidente Lula, ataca as instituições e a democracia do país, indicando a possibilidade de um golpe contra a realização das eleições em 2022.

É disso que se trata a insistência de Bolsonaro em apontar, sem provas, que houve fraudes nas eleições de 2018, afirma o vice-presidente da CUT, Vagner Freitas, se referindo as falas de Bolsonaro sobre a implementação do voto impresso.

Para o dirigente, é importante reafirmar sempre, para o povo jamais esquecer, que “golpes são sempre contra a classe trabalhadora, contra os mais vulneráveis, só o povo perde”.

A democracia é o regime que mais protege o povo, diz Vagner, complementando: em todos os regimes de exceção quem mais sofreu foi a classe trabalhadora porque os golpes sempre têm uma motivação civil, de interesse da elite econômica.

“O mais recente golpe foi contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e já em 2017, o que se viu foi Michel Temer promovendo a reforma Trabalhista, que retirou mais de 100 itens da CLT, acabando com direitos históricos dos trabalhadores”, afirma Vagner que convoca o povo para ir as ruas no dia 24 de julho, quando será realizado mais um dia nacional de mobilização contra Bolsonaro.

“Reforço a convocação para que ocupemos as ruas no dia 24 porque é o povo nas ruas defendendo os interesses da democracia que evita golpes contra a classe trabalhadora, os mais pobres e o país”, diz o vice-presidente da CUT.

“O escudo que protege a democracia sempre foi o povo, as manifestações populares, em vários momentos, foram essenciais para evitar que oportunistas como Bolsonaro e pequena parcela das Forças Armadas ameacem a democracia no país”, diz Vagner.

Embora as ameaças de Bolsonaro possam ser consideradas por alguns, uma bravata, é a população indo às ruas se manifestar em defesa da democracia que protegerá o país de um possível golpe institucional, acreditam também o ex-presidente Lula e o professor de economia da Unicamp, Marcio Pochmann.

Para Marcio Pochmann, as insatisfações ao atual o governo são positivas e por isso as manifestações são bem-vindas.

Lula incentiva povo ir às ruas

O ex-presidente Lula também se manifestou favorável ao povo ir às ruas. Num encontro com profissionais do setor da cultura, no último domingo (11), o ex-presidente incentivou dizendo “ continuem protestando, o grito de vocês é que pode salvar este país”. Veja no vídeo abaixo publicado no Twitter de Lula na manhã desta segunda-feira (12)

Já o vice-presidente da CUT lembra que toda vez que o povo esteve mobilizado nas ruas o Brasil avançou em seu processo democrático, e agora é a manifestação programada para o dia 24 de Julho (sábado) que segue na mesma linha.

“Para Bolsonaro não conseguir o que quer, é preciso que o povo vá às ruas e deixe isso bem claro, de que não quer um golpe. Por isso, a manifestação do dia 24 é além de outras pautas é pelo fora Bolsonaro e pela democracia”, afirma Vagner.

O 24 de Julho foi definido por movimentos sociais como mais um dia de manifestações pelo #forabolsonaro. A ideia é realizar diversos atos em todo o país como ocorreram no dia 19 de Junho e no último dia 3 de Julho.

Para a CUT, além da saída do presidente, a data da manifestação é a reafirmação de suas bandeiras prioritárias como a luta contra as privatizações; contra a reforma Administrativa; a favor de uma reforma tributária, justa solidária e sustentável; por salário, emprego, trabalho decente e renda; contra a inflação, carestia e a fome; por vacina para todos; auxílio emergencial de R$ 600 e em defesa da agricultura familiar e luta por segurança e soberania alimentar.

Manifestações alteram equilíbrio político

Para Pochmann, a demonstração de insatisfação do brasileiro diante da situação atual, do papel do atual governo, revela uma alteração do equilíbrio político que havia anteriormente. Antes, iam às ruas, em ataques às instituições e ao Supremo, quem defendia o governo Bolsonaro, mas agora já não se percebe isso.

“ Como não há pessoas envolvidas em defesa do governo comparadamente ao passado, Bolsonaro numa percepção de enfraquecimento, tenta manter vivo este movimento, com radicalização e ameaças à democracia. Mas a radicalidade de suas falas em vez de produzir um maior engajamento mostra divisões dentro do polo que o apoia”, acredita Pochmann.

A manifestação ocorrida nesta segunda (12) do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, de que vai ter eleição, em contraste com as ameaças de Bolsonaro de que a eleição seria fraudada, sem voto impresso, e as informações de bastidores da imprensa de que o indicado do presidente ao STF, André Mendonça, não seria aprovado pelo Senado, são, na avaliação de Pochmann, demonstrações de perda de apoio do governo.

“Nunca vi manifestações contra possível indicação do STF, o Lira [presidente da Câmara] e o Pacheco [ presidente do Senado] foram colocados lá para defender Bolsonaro, a PF está investigando o presidente. Tudo isso são demonstrações de que ele está cada vez mais perdendo apoio, e por isso que a população ir às ruas , consolidará a defesa da democracia”, afirma Pochmann.

Forças Armadas têm de manter seu papel na Constituição

O vice-presidente da CUT reforça que a possibilidade de um golpe, pretendido por Bolsonaro, não tem apoio da maioria da sociedade, nem das Forças Armadas.

“O dever das Forças Armadas é constitucional. Ela foi concebida para proteger o Brasil de invasões estrangeiras, inimigas e hostis, é vigiar e proteger as novas fronteiras e não disputar cargo político e ser um agente político”, diz Vagner.

Para ele, as denúncias de corrupção envolvendo militares no Ministério da Saúde não significam que as Forças Armadas estavam lá para roubar, mas que determinado coronel, individualmente, está sob suspeita.

Vagner se refere a Elcio Franco, coronel da reserva do Exército, indicado por Bolsonaro para exercer a função de secretário executivo do ministério da Saúde, de onde saiu para ocupar o cargo de assessor especial da Casa Civil. Franco era considerado o braço direito do ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, e participava frequentemente de reuniões com farmacêuticas no Ministério. Foi, inclusive, citado pelo ex-presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, como um dos negociadores na compra de vacinas.

“Não é toda corporação, mas se não houvesse a concordância das Forças Armadas em manter militares da ativa em cargos do governo isto não aconteceria. As Forças Armadas deveriam tomar providências para proteger a instituição e se manter no papel que lhe cabe de acordo com a Constituição”, afirma o vice-presidente da CUT.

O questionamento do papel das Forças Armadas também tem sido feito pela população. A última pesquisa Datafolha mostra que 62% dos brasileiros são contra a presença de militares em atos políticos e 58% são contrários à participação de militares da ativa na administração pública.

Segundo Pochmann, o fato de Bolsonaro insinuar que as Forças Armadas estão com ele, é um anúncio de algo que o presidente não tem capacidade de fazer, embora queira.

“ Ele tenta empurrar este tipo de ideário, do golpe, e parece que parte das Forças Armadas vai neste sentido, mas esses posicionamentos estão sendo seriamente questionados como nunca vistos antes”, diz o economista, se referindo às manifestações de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, que criticou a manifestação das Forças Armadas contra o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), que criticou a “banda podre” dos militares, sem no entanto, acusar toda a instituição.

E não apenas Pacheco se levantou contra as críticas das Forças Armadas, até mesmo o presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, questionou, embora de forma mais branda, o teor da manifestação militar.

“ Nem mesmo as intervenções das Forças Armadas no Haiti e no Rio de Janeiro receberam tantas críticas de diversos setores da sociedade civil. O general Heleno chegou a perder seu comando no Haiti, mas eu não me lembro de tantos questionamentos tão profundos como têm sido feitos agora. É uma perda de credibilidade muito rápida”, diz Pochmann.

O professor acredita que a visão do mundo dos militares é um disparate, já que eles não teriam o apoio internacional como ocorreu no golpe de 1964, nem mesmo uma estratégia mínima de ação.

“Eles vão fazer o quê? fechar o Congresso, o Supremo? questiona Pochmann, que complementa: “ao que parece há divisões internas que não são tornadas públicas. Certamente Bolsonaro tem uma base de apoio, mas este tipo de postura de parte dos militares fica mais comprometida, depois do que ocorreu no Ministério da Saúde”.

Pochmann conta que no governo Temer, o general Heleno declarou que os militares tinham excelente formação, mas que tudo está sendo jogado fora.

CUT

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