Dia Nacional do Livro: O direito à literatura para sedimentar a educação e desenvolver o Brasil
No Brasil, o Dia Nacional do Livro é comemorado em 29 de outubro, uma data que celebra não apenas a existência dos livros, mas também o seu papel imprescindível na educação e no desenvolvimento social e econômico do país. Os livros são portas e janelas abertas para o conhecimento, e sua leitura é essencial para a formação de cidadãos críticos e conscientes.
A escolha do dia 29 de outubro remete à fundação da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, em 1810, quando a Real Biblioteca Portuguesa foi transferida para o Brasil e nosso país recebeu o seu primeiro acervo. Desde então, o livro se tornou um símbolo da disseminação do conhecimento e da educação neste território. A data celebra os livros e busca fomentar a importância da leitura em todas as esferas da sociedade.
O escritor Monteiro Lobato, um dos maiores nomes da literatura brasileira, disse: “Uma nação se faz com homens e livros”. Essa frase emblemática ressalta que o futuro de um país está intimamente ligado ao direito à literatura, defendido pelo sociólogo Antonio Candido.
Para Candido o direito à literatura estaria, então, ao lado de direitos mais facilmente identificados como básicos, como alimentação, moradia, vestuário e saúde, e também a direitos mais amplos, como a liberdade individual, o amparo da justiça pública e a resistência à opressão.
Os livros são instrumentos de transformação. A leitura estimula a imaginação, aprimora o pensamento crítico e amplia o vocabulário, contribuindo para uma educação de qualidade. Em um país onde a desigualdade social é uma realidade, o acesso à leitura é ainda mais fundamental.
Pesquisas indicam que a prática da leitura está diretamente relacionada ao desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças. Ao ler, elas aprendem a interpretar o mundo, a questionar e a desenvolver sua própria identidade. Assim, Monteiro Lobato não apenas defendia a leitura como um hábito, mas como um caminho basilar para a construção de uma sociedade melhor para todos.
Desafios e iniciativas
Apesar da relevância dos livros, o Brasil enfrenta desafios significativos em relação ao acesso à leitura. No ano passado, o Centro de Pesquisas em Educação, Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), em parceria com a plataforma de leitura Árvore, divulgou estudo sinalizando que entre 66,3% dos alunos brasileiros de 15 e 16 anos, o livro mais extenso já lido não passou de 10 páginas.
Em entrevista concedida ao Brasil de Fato, o escritor Rafael Guimaraens comentou que no Brasil, 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro na vida. Disse ainda que o país vem perdendo leitores a cada nova pesquisa.
O estímulo à leitura requer a implementação de políticas consistentes que garantam o acesso a livros físicos ou em plataformas digitais, o fortalecimento de programas de leitura em escolas e comunidades, e o incentivo à criação e manutenção de bibliotecas físicas ou virtuais. Em um mundo hiperconectado, as bibliotecas virtuais têm se tornado um recurso valioso, disponibilizando uma vasta coleção de livros e materiais de leitura de forma prática e rápida.
Além disso, a promoção de eventos literários é fundamental para atrair e engajar novos leitores. Projetos educacionais ajudam a democratizar o conhecimento e proporcionar oportunidades à população em geral. Essa é uma responsabilidade compartilhada entre a sociedade e o poder público, que deve trabalhar em conjunto para cultivar uma cultura de leitura acessível e inclusiva.
Investir em livros nos diversos formatos é crucial para construir uma nação mais justa e desenvolvida. Que possamos, juntos, valorizar a leitura e assegurar que todos tenham acesso a esse tesouro de conhecimento, reforçando a educação de qualidade. Afinal, uma nação se agiganta lendo e propagando saberes.
Neste Dia Nacional do Livro é oportuno reivindicar mais bibliotecas municipais estruturadas, com acervo diversificado, com vasta literatura de ficção e não ficção, mais espaços literários nas cidades do interior, mais livros e escritores circulando nas metrópoles, nos pequenos municípios e nas comunidades rurais.
“É preciso acabar com essa história de achar que a cultura é uma coisa extraordinária. Cultura é ordinária!”, enfatizou Gilberto Gil quando ministro da pasta. Gil está coberto de razão. Ilustro o seu posicionamento afirmando: o livro deve fazer parte da cesta básica. Que seja garantido o direito à literatura aos brasileiros e às brasileiras.
Por Romênia Mariani